Hugo Navarro Silva |
Contam que Cristina, rainha da
Suécia, ao visitar Roma e admirar célebre obra de Bernini no monumento “O tempo
descobrindo a verdade”, ouviu um dos seus acompanhantes agradecer a Deus porque
a rainha dava valor à verdade, ao que Cristina retrucou, imediatamente, que nem
todas as verdades são de mármore.
A verdade pode engendrar o ódio,
segundo Públio Terêncio e Paul Valéry
disse que se deve temer a verdade como o
fogo, pois ambos oferecem os mesmos
perigos.
Apesar de pensadores de toda ordem
exaltaram a verdade como virtude suprema, há quem afirme que ela é evitada
porque feia e desagradável. Na política
brasileira aprenderam a proceder como na fábula de La Fontaine: Deixe que o rei
sonhe, faça-lhe elogios e conte-lhe algumas mentiras. Na certa ele engolirá a
isca e fará de você o seu melhor amigo. E assim o governante pode seguir em
seus planos nem sempre honestos de poder e domínio.
Há quem diga, também, que a mentira
cria fantasias no seio das massas, que em geral pode perceber o engano, mas
continua a alimentar o sonho. Do fato temos exemplo na figura do ditador
Getúlio Vargas, que a certa altura da vida recebeu a alcunha de “pai dos pobres”
e até hoje há quem acredite na lenda, cuja manutenção era do interesse de
pessoas ou de grupos.
A mentira muitas vezes é mais forte
do que a verdade. Luta-se pela sobrevivência de mitos, pela exaltação de
figuras do passado muitas vezes por simples interesse da própria sobrevivência
política ou conveniência sectária. Há vultos que passaram pela vida, fizeram
ruído sem deixar obra de mérito, às vezes nenhuma obra, mas são exaltados
porque apenas pronunciaram discursos que ninguém sabe, nem quer saber, quem
escreveu, muito menos de esclarecer os motivos pessoais que motivaram os
pronunciamentos.
Se a verdade pudesse ser mostrada,
em sua inteireza, não por comissões de meias verdades, como a que se instalou
neste país, muitos dos “santos” de hoje perderiam o pedestal.
De vez em quando aparecem pessoas
que falam a verdade. Não exatamente sobre
pessoas, mas a respeito do quadro geral de determinada situação ou do país como
um todo. São verdades conhecidas, proclamadas, reveladas, do conhecimento geral
do povo e chegam a despertar reações raivosas de certas áreas, mas não
conseguem mudar o panorama geral das falsas crenças.
O ministro Joaquim Barbosa é uma
delas. Em palestra proferida para
estudantes de Direito disse o que todo mundo sabe, afirmou o que é do
conhecimento público.
O ministro do STF, que na condição
de relator do processo conhecido por “mensalão” arrostou potestades, desafiou o
poder ao liderar o esclarecimento de verdades sobre a atuação de gente poderosa
da República no sistema da roubalheira nacional, arriscou-se, mas trabalhou
para que o povo tomasse conhecimento dos fatos, muitos deles até então
escamoteados da opinião pública.
Quando o ministro Joaquim disse,
aos estudantes, que “temos partidos de mentirinha”, que o Congresso Nacional é
ineficiente e dominado pelo poder executivo e que é necessária reforma
eleitoral para melhor seleção dos parlamentares, apenas repetiu verdades que
todos sabem, ditas e reditas de público, por estudiosos, jornalistas e
analistas políticos. Repercutem, no país inteiro, apenas porque o ministro
tornou-se famoso e respeitado em todo o território nacional. Dificilmente,
entretanto, poderão combater os mitos que tomaram corpo na vida brasileira e
ameaçam a sobrevivência da democracia.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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