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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 24 de maio de 2013

AS VERDADES DO JOAQUIM

Hugo Navarro Silva


Contam que Cristina, rainha da Suécia, ao visitar Roma e admirar célebre obra de Bernini no monumento “O tempo descobrindo a verdade”, ouviu um dos seus acompanhantes agradecer a Deus porque a rainha dava valor à verdade, ao que Cristina retrucou, imediatamente, que nem todas as verdades são de mármore.
A verdade pode engendrar o ódio, segundo Públio Terêncio e  Paul Valéry disse que se deve temer a verdade  como o fogo, pois ambos oferecem os  mesmos perigos.
Apesar de pensadores de toda ordem exaltaram a verdade como virtude suprema, há quem afirme que ela é evitada porque  feia e desagradável. Na política brasileira aprenderam a proceder como na fábula de La Fontaine: Deixe que o rei sonhe, faça-lhe elogios e conte-lhe algumas mentiras. Na certa ele engolirá a isca e fará de você o seu melhor amigo. E assim o governante pode seguir em seus planos nem sempre honestos de poder e domínio.
Há quem diga, também, que a mentira cria fantasias no seio das massas, que em geral pode perceber o engano, mas continua a alimentar o sonho. Do fato temos exemplo na figura do ditador Getúlio Vargas, que a certa altura da vida recebeu a alcunha de “pai dos pobres” e até hoje há quem acredite na lenda, cuja manutenção era do interesse de pessoas ou de grupos.
A mentira muitas vezes é mais forte do que a verdade. Luta-se pela sobrevivência de mitos, pela exaltação de figuras do passado muitas vezes por simples interesse da própria sobrevivência política ou conveniência sectária. Há vultos que passaram pela vida, fizeram ruído sem deixar obra de mérito, às vezes nenhuma obra, mas são exaltados porque apenas pronunciaram discursos que ninguém sabe, nem quer saber, quem escreveu, muito menos de esclarecer os motivos pessoais que motivaram os pronunciamentos.
Se a verdade pudesse ser mostrada, em sua inteireza, não por comissões de meias verdades, como a que se instalou neste país, muitos dos “santos” de hoje perderiam o pedestal.
De vez em quando aparecem pessoas que falam a verdade.  Não exatamente sobre pessoas, mas a respeito do quadro geral de determinada situação ou do país como um todo. São verdades conhecidas, proclamadas, reveladas, do conhecimento geral do povo e chegam a despertar reações raivosas de certas áreas, mas não conseguem mudar o panorama geral das falsas crenças.
O ministro Joaquim Barbosa é uma delas.  Em palestra proferida para estudantes de Direito disse o que todo mundo sabe, afirmou o que é do conhecimento público.
O ministro do STF, que na condição de relator do processo conhecido por “mensalão” arrostou potestades, desafiou o poder ao liderar o esclarecimento de verdades sobre a atuação de gente poderosa da República no sistema da roubalheira nacional, arriscou-se, mas trabalhou para que o povo tomasse conhecimento dos fatos, muitos deles até então escamoteados da opinião pública.
Quando o ministro Joaquim disse, aos estudantes, que “temos partidos de mentirinha”, que o Congresso Nacional é ineficiente e dominado pelo poder executivo e que é necessária reforma eleitoral para melhor seleção dos parlamentares, apenas repetiu verdades que todos sabem, ditas e reditas de público, por estudiosos, jornalistas e analistas políticos. Repercutem, no país inteiro, apenas porque o ministro tornou-se famoso e respeitado em todo o território nacional. Dificilmente, entretanto, poderão combater os mitos que tomaram corpo na vida brasileira e ameaçam a sobrevivência da democracia.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 


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