Hugo Navarro da Silva |
A indústria bélica brasileira, que floresceu durante algum
tempo e chegou a reforçar exércitos
regulares e organizações marginais em diversas partes do mundo, passou a
sofrer, a partir do final dos anos oitenta, sistemático trabalho de
desmontagem, quando o povo brasileiro ficou empolgado com a redemocratização,
certo de que no rol das necessidades
humanas a democracia, a liberdade e o assalto aos cofres públicos estavam em
primeiro lugar, reativando velhas e insaciáveis fomes, do que resultou o país
que temos, hoje, da ganância a qualquer custo, fazendo renascer antigas regras que
durante a chamada “República Velha” comandaram, em grande parte, a política
brasileira, e se tornaram uma espécie de bíblia nacional, como aquela do “farinha pouca meu pirão primeiro” e
aqueloutra do “é dando que se recebe”, esta, que resultou no famoso caso do
“mensalão”, de tantos e inócuos desdobramentos, mas cujos resultados estão pendentes
de julgamento do STF, de que podem sair resultados sensacionais, capazes de
mostrar à sociedade brasileira alguma
seriedade, ou se desmanchar em palavrório jurídico supostamente erudito, de
valor semelhante às das melhores receitas de feijoada completa.
Sempre acreditamos que o país, sem ferir sua orientação
contrária à guerra, não poderia sucatear as forças armadas, vota-las ao
abandono que se seguiu à queda do regime militar. É que temos interesses a
defender em que estão incluídas a tranquilidade e a paz para trabalhar e
produzir, levando-se em conta, principalmente, que um país com as fronteiras
marítima e terrestre que temos, não pode negligenciar em termos de segurança,
levando em conta fatores diversos como o crescente contrabando de armas e drogas,
o perigo do terrorismo internacional e a nossa vizinhança de alguns governos
cada vez mais pendendo para a ditadura, cujos caminhos ninguém pode prever. O
Brasil já foi invadido, certa vez, por tropas do Francisco Solano Lopez, o que
custou, ao povo brasileiro, esforços inauditos e enormes sacrifícios de vidas
humanas. Ninguém pode garantir que nossas fronteiras não serão violadas, no
futuro, por algum tiranete sul-americano em busca de “inimigo”, que lhe possa
garantir motivos para a permanência no poder, principalmente agora que temos a
urgente necessidade de proteger a exploração do petróleo de nosso mar territorial,
que o regime militar expandiu, previdentemente, para quatrocentas milhas.
Ainda que o famoso pré-sal do petróleo esteja longe das
enormes riquezas apregoadas, para efeitos eleitorais, pelo governo, o
verdadeiro manancial petrolífero brasileiro está no mar, o que de certo contraria o relatório de mister Link, famoso
descobridor de petróleo, execrado, durante certo tempo, em inscrições de muros
e discursos da esquerda brasileira, mas que examinou nossas possibilidades
antes das quatrocentas milhas, o
certo é que a exploração petrolífera no mar necessita da proteção de Marinha
forte em homens e armas.
Reportagem veiculada,
recentemente, na televisão por assinatura, mostrando o gigantesco programa do
governo e de empresas privadas, em Itaguaí, para a
fabricação de material de guerra, no
qual estão incluídos carros de
combate e submarinos, inclusive submarinos atômicos, revive velhos sonhos do fortalecimento bélico
nacional, liquidados quando Collor de
Mello, presidente, fez festa ao inutilizar, com vasta publicidade, buracos preparados, na Serra do Cachimbo, para
explodir a primeira bomba atômica brasileira. Preferiu explodir a República.
O renascimento da nossa indústria bélica, entretanto, não
parece destinado, apenas, aos interesses nacionais. O “se vis pacem” perdeu o
sentido. Há trilhões de dólares no mercado internacional de armas e recursos
para fabrica-las é o que não falta.
Só não há dinheiro
para pagar aos professores.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi
aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para
o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia
semanalmente a matéria produzida
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