Teve repercussão favorável, na opinião pública, a indicação
do profº. Luciano Ribeiro, pelo PMDB, para compor a chapa majoritária
encabeçada por José Ronaldo de Carvalho, do DEM, para a disputa municipal de
outubro. Havia outros nomes cogitados e fortes, como o do empresário Wilson
Pereira, que abriram mão da disputa.
O professor escolhido, de vida inatacável, vinha de vinte
anos de afastamento das lides eleitorais, o que se nada lhe acrescenta, não lhe diminui méritos
amplamente reconhecidos e proclamados.
Há, entretanto, quem pretenda enxergar, no lançamento de sua
candidatura, que não encontra nem entraves, nem contestações, forte influência
da Igreja Católica, preocupada, segundo afirmam analistas políticos, com o crescimento dos
evangélicos no governo de Tarcísio Pimenta. Não vamos chegar a extemos. É
possível que a candidatura do professor tenha despertado simpatias no seio de
parte da população, movida por sentimentos religiosos, mas haveremos de
concordar que no mundo político, pelo menos entre nós, formado de crentes e
hereges, a religião, graças a Deus, não tem mais a influência de que já
desfrutou em outras eras, quando toda família sonhava ter pelo menos um filho
padre, porque assim lhe garantia, além de salvação certa e o respeito de todos,
pelo menos tranquila prebenda vitalícia quando não polpudos cargos correspondentes, nos dias de
hoje, mais ou menos, ao de ministro da
República.
As prerrogativas dos
sacerdotes católicos, que sobreviveram durante curto tempo ao regime
republicano, tiveram fim com a laicização
do Estado brasileiro, inicialmente instituída pelo famoso Decreto nº. 119-A, de
janeiro de 1890, que extinguiu o padroado “com todas as suas instituições,
recursos e prerrogativas” dando, aos “indivíduos,
igrejas, associações e institutos” o pleno direito à liberdade de culto. A
regra passa a fazer parte de todas as normas constitucionais brasileiras a partir
do Decreto nº. 510 de junho de 1890 que
estabeleceu, para o governo, apenas por um ano, a obrigação de prover
à côngrua (pensão paga aos padres), manter os serventuários do culto e
subvencionar as cadeiras dos seminários.
A Igreja Católica, que a princípio teria recebido, com
indignação, as novas regras da nascente República, chegando a mover ódio e
ferrenha campanha contra um dos
apontados autores do Decreto nº. 119-A, o baiano Rui Barbosa, reconheceu, com o
passar do tempo, que as mudanças lhe foram benéficas porque livrou-a da má influência dos governos e das matrocas da
política.
“A religião, conjunto de providências para a vida do aquém e
do além, utilizando-se de meios sobrenaturais”, no dizer de Preuss, tem
existido em todos os estágios da vida humana. Diante da religião o homem pode
escapar para caminho fácil, evitando pensar no que estaria a fazer, no Planeta, além de comer, dormir,
trabalhar e pagar impostos, esperando a grande recompensa final da vida eterna
livre de custos e preocupações, sem imaginar o tamanho da insuportável chatice
a que a santa eternidade poderia levar o
indivíduo, sem possibilidade de fuga. Felizmente não há, entre nós, o perigo de
guerra santa, que em todos os tempos sempre significou, como ainda significa,
matar o próximo em nome de Deus, mostrando serviço para adquirir, com
facilidade, as chaves do Paraiso.
Não queremos presenciar, neste Município, brigas e ódios por interesses políticos travestidos
de motivações religiosas. Não há lugar para tais retrocessos. Saladinos e
Ricardos Coração de Leão, a cortar cabeças em defesa da fé, e lutas entre
católicos e protestantes são coisas da História e da lenda.
O que há de real e verdadeiro é o futuro de nossa Terra, o
seu governo, a necessidade de progredir
e de conquistar, de melhorar as condições de vida do povo.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Nenhum comentário:
Postar um comentário