Quem busca se informar sobre as coisas do Brasil de hoje,
embora com as limitações da forte e disfarçada propaganda governamental, e não
está ligado às redes da criminalidade que se espalham dominando grande parte da vida do país, tem a sensação de que caminha em terreno pantanoso, que a qualquer momento
pode desabar em abismo profundo, sofrendo queda de terríveis consequências. A
insegurança é total, ultimamente levada a extremos inimagináveis e de
resultados imprevisíveis. O país dá a nítida impressão de que revive os últimos
momentos do Titanic, onde após o choque com o iceberg espalhou-se a certeza de segurança e se fez
música para alegrar o coração dos quase náufragos.
O povo tem sido envolvido
em vasto programa de mentiras, sonhos de grandeza e fantasias, todas consumindo
bilhões do erário, como a lenda da transposição do Rio São Francisco e a do
enriquecimento da população, que teria pulado da classe “c” para a classe “b”,
tudo arrumado em gigantesco sistema de engodo televisivo, que não deixa de encontrar
acólitos e defensores entre os quais não deixam de figurar aqueles que somente aguardam a
oportunidade de novas mamatas. Não há inocentes no esquema.
A sensação de insegurança nos últimos dias precipitou-se no
espírito popular. A desconfiança, que havia começado com o ataque à poupança
(por onde o presidente Collor deu início à sua queda), engrossou com as greves,
no setor da educação, que vêm pondo à mostra o descaso de governos com o que há
de mais importante para o futuro do povo brasileiro, a insensibilidade
governamental com a saúde e os gravíssimos e crescentes problemas de segurança
pública, acrescidos de outros, como os decorrentes da extorsiva carga
tributária e os do chamado “custo Brasil”, cresceu, ultimamente, com o que
parecia ser simples caso de polícia, mas transformado em CPI do Congresso, o do
famoso Carlinhos Cachoeira, e o do julgamento dos envolvidos no episódio do
mensalão, que vem sendo protelado, aos olhos do povo, por motivos que não elevam
o conceito do nosso sistema republicano de governo.
O lodaçal, a que tem sido
conduzido o Brasil, tornou-se evidente, mostrando todos os seus perigos, quando
o ex-presidente Lula, para alguns guia infalível de santidade indiscutível,
verdadeiro salvador da pátria, tentou dobrar ministro do Supremo Tribunal
Federal, Gilmar Mendes, na tentativa de protelar o julgamento dos envolvidos no
caso do mensalão, cerca de quarenta pessoas denunciadas pelo Procurador-Geral da República
pela prática de diversos delitos, entre
os quais os de corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, gestão
fraudulenta e fraudes diversas. Todas essas pessoas ligadas, de alguma forma,
ao situacionismo político. O adiamento resultará na prescrição de vários crimes. O escândalo, de vasta repercussão e de consequências que
ninguém pode prever, noticiado pela revista “Veja” de 28 do corrente, põe a nu
a verdadeira situação do povo brasileiro, que em grande parte entregou-se a falsos líderes em troca de
promessas e de conversas fiadas, como a de recuperação da indústria naval
brasileira, que somente conduzem ao
crescimento do descrédito, da corrupção (o maior imposto pago pelos
brasileiros), do desrespeito à lei e da dissolução dos costumes, agora
fortemente ameaçada, é o que assevera o noticiário, por comissão de juristas,
que incluiu no anteprojeto de código
penal a ser votado, em breve, pelo Congresso Nacional, a descriminalização da posse de certas
quantidades de substâncias atualmente proibidas, desde
que destinadas a uso próprio. Em breve poderemos ter produtiva população de
maioria drogada, legalmente protegida para maior grandeza da pátria. Tudo nos
leva a um dilema: ou o povo reage, pelo voto, deixando de lado sonhos e vãs
fantasias futuristas, acobertadoras de sabidórios e tiranetes disfarçados de
messias, ou poderemos nos transformar, brevemente, em outra Síria.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi
aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para
o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia
semanalmente a matéria produzida
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