Fabrício Carpinejar
Não houve derrotados no 4 a 2 da França sobre a Croácia no domingo (15/7).
Os franceses ganharam o seu bicampeonato em jogo eletrizante (igualando-se em títulos com a Argentina e Uruguai), mas foi o amor que venceu o ódio na final da Copa. O futebol bateu o racismo, a xenofobia e a intolerância religiosa.
Não significou apenas uma decisão inédita, mas uma demonstração de força da integração entre povos e da superação globalizada das diferenças.
Ambas as seleções representaram minorias em campo, ambas despertavam a simpatia das torcidas do resto do mundo pelas histórias de feridas e de discriminação, ambas correspondiam a lados mais fracos e desfavorecidos da humanidade.
Foi o encontro entre um time de refugiados, a Croácia, e um time de imigrantes, a França.
A Croácia é formada de atletas que sofreram com a guerra pela independência. Ou ficaram desterrados em outro país como Ivan Rakitic, na Suíça, e Mario Mandzukic, em Diztingen, na Alemanha, ou sobreviveram em pleno conflito, como Luka Modric (escondido em Zadar). Modric, inclusive, testemunhou a sua casa incendiada por milicianos da minoria sérvia da então Iugoslávia e arcou com o trauma de suportar o fuzilamento de seu avô.
Já a campeã França é toda miscigenada, é toda multicultural, é toda feita de famílias egressas da pobreza em busca de um lugar ao sol na Europa. Não deixa de ser uma seleção majoritariamente africana.
N'Golo Kanté é filho de imigrantes do Mali e, absurdamente, catava lixo nas ruas de Paris aos 7 anos. Presnel Kimpembe é filho de congoleses. Benjamin Mendy é filho de senegaleses. Ousmane Dembélé é filho de mãe senegalesa e pai malinês. Corentin Tolisso é filho de imigrantes de Togo. Blaise Matuidi é filho de angolanos. Steven Nzonzi veio do Congo. Samuel Umtiti, autor da cabeçada salvadora na semifinal contra a Bélgica, é natural de Camarões.
Os heróis velocistas e fintadores Paul Pogba e Kylian Mbappé, responsáveis pela diferença do placar na decisão, não fogem à regra. O primeiro é filho de mãe guineense e pai congolês; e o segundo, de pai camaronês e mãe argelina.
Se a Croácia não tivesse repatriado os seus filhos diletos, não colocaria o seu nome na história com o segundo lugar, superando os feitos de Suker de 1998.
Se a França não tivesse abertas as suas fronteiras e derrubado a Bastilha das etnias, o seu combinado de furacão e técnica desapareceria do mapa do nosso coração.
Houve derrotados sim, os racistas franceses, os Le Pen's da vida
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