VIDAS FEIRENSES - FOLHA DO NORTE 09.09.1944
Continuação do nº anterior desta “Folha”.
1803
– Estão sendo divulgadas, nesta cidade, as Notas históricas publicadas por
Sergio Cardoso, sobre o salteador Lucas Evangelista, no “Diario do Comercio”,do
Rio de Janeiro.
São dessas notas os tópicos seguintes:
Na verdade, era grande o
terror que infundia o nome do salteador.
Elle, porem não era
destemido, nem tão sanguinário quanto o queriam fazer e a prova disso é que
antes de se juntar a Nicoláu e aos outros, e depois de 1848, quando se vio só,
por serem justiçados ou assassinados estes, não se cita nenhum crime de
importância praticado por ele.
O período de 1840 a 1844
é o que se assignala na vida dos salteadores como o mais fértil em atrocidades
e crimes crueis. Ainda assim, nos numerosos assaltos, a maior parte das vezes
cabia a Lucas, a nota pilhérica aos outros, principalmente a Nicoláu e Januario,
as scenas sangrentas.
Esse Nicoláu era o mais
terrível faccinora do bando...
Dissemos mais acima que a
nota cômica e pilhérica predominava mais no espirito do bandido do que mesmo os
instinctos sanguinários...
Havia, porem, uma cousa
que o dominava muito mais do que a paixão pelo roubo; um móvel poderoso que o
arrastava aos crimes... era uma cuncupiscencia, eram desejos libidinosos, era a
fúria do amor brutal, que lhe sacudia a natureza grosseira...
Sergio relata vários
episódios que justificam o seu ponto de vista, quer quanto a inclinação
“pilhérica” do salteador quer quanto às suas violências e sátiro.
Uma parte interessante das Notas é a em que ellas repetem o depoimento de Manoel Gomes, que acompanhou Cazumbá nas tocaias armadas para Lucas;
...Depois de muitas
noites assim passadas em claro, em uma delas não podemos vencer o somno pela
madrugada; quando acordamos estava o sol alto
Como tínhamos farnel e
água perto, pois estávamos junto à fonte do Fernandes, que depois ficando se chamado
de Lucas, resolvemos passar o dia ali mesmo e foi a nossa felicidade...
Foi isso num domingo.
Eram 6 horas da tarde quando ouvimos um leve rumor, semelhante ao ruído que
produz, caminhando, uma pata ou veado... Era Lucas...
Cazumbá engatilhou a arma
e foi bastante o pequeno estalido secco, que ella produziu, para despertar a atenção
do salteador.
O negro que estava de costas
para nós, girou sobre os calcanhares com um movimento rápido de onça e trazendo
a arma já em pontaria.
Cazumbá desfechou o tiro.
Lucas soltou um grito e
respondeu com um tiro.
Em seguida deixou cahir a
arma e deitou a correr... e o rasto de sangue que ele deixou era grande...
Não se julgando talvez em
segurança na Tapera, ou, quem sabe? por não o querer ahi ao tal Pereira, com
receio de palha, junto ao poço dos “Caieiros”
no lugar dnominado “Trapiás”.
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