Evandro J.S. Oliveira |
Os técnicos
usam a expressão acima, no título, “achismo”, como palpite sem base científica
para determinado empreendimento, até com desdém, dando entender, ignorância
sobre o assunto, peraí nem tanto, achismo como objetivo de ouvir o que
pensa todas os outros participantes tem suma validade. Até planejadores
precisam saber o que a comunidade ACHA do projeto e colocar tecnologicamente a
realização destes.
feira livre bem antiga - 1923 |
Este curto
preambulo foi necessário para o desenvolvimento de minha defesa do achismo sobre a feira livre, centro da
cidade, Centro de Abastecimento. Este assunto tem mais de cinquenta anos.
Revivido pelo recente Plano Diretor do Desenvolvimento recém entregue ao Governo
Municipal para ouvir a câmara, e mais uma vez o povo, sobre o que acham do
plano e que pode ser melhorado; lendo o livro “Feira”, de Jânio Rêgo, lançado
este mês.
Em
entrevista datada de 2010, questionaram a sua posição contra retirada da feira
livre do centro da cidade com a construção do Centro de Abastecimento. Eu e
outros poucos, como Helder, nos posicionamos contra. Alguns por motivos
políticos outros por ganhos econômicos etc., mas todos com argumentos com algum
fundamento, vou aos da época de então, de Helder revivendo a entrevista e os
meus que lembro em boa parte.
Helder é
muito culto e pesquisador da história de Feira, apesar de um viés conservador
confesso, tem autoridade e discernimento para um achismo fundamentado:
Jânio - ...você foi um
dos que mais combateu o fim da feira livre no centro da cidade, hoje Feira
tinha esse desenvolvimento no processo industrial?
Helder - Sim, sim. Onde é que está a indústria no lugar da
feira livre?
Jânio - Mas a feira livre passava uma
imagem da questão da infraestrutura da cidade...
Helder - É,
mas era só disciplinar a feira livre. Feira perdeu sua referência sem a feira
livre. No dia 10 de janeiro de 1977, eu escrevi um artigo sobre “A Feira sem a
feira”, que inclusive a revista Veja fez menção a esse artigo. E essa semana eu
ouvi num debate sobre o Bando Anunciador, uma referência do jornalista Paulo
Norberto que ele acha que depois do fim da feira foram se acabando as tradições
populares. Feira de Santana, Micareta está aí acabando.., quer dizer, a Feira
perdeu sua referência
Jânio - Mas as feiras
ainda estão aí. A feira ainda é a mesma aí no meio da rua...
Helder - Não é a mesma coisa. Você tá vendo aí que o Centro
de Abastecimento está se esvaziando.., é um projeto que está se esgotando.
De minha parte morei grande parte de minha vida, vizinho de
José Falcão, no centro da feira livre, na rua Marechal Deodoro, no domingo à
noite até segunda à tarde no meio do belo “furdunço” que era o comércio,
portanto me achava em condições de palpitar.
Houve uma reunião de umas vinte e tantas pessoas, em que os
técnicos que implantariam o Centro iriam demonstrar a necessidade da relocação.
Me municiei de argumentos técnicos para expor meu ponto de vista. Para surpresa
minha o grupo era composto de um Engenheiro Civil, arquiteto, um especialista
de Centro de Abastecimento, parece de Recife e até um fotógrafo, lembro bem
dele, por uma inconveniência que fiz, relatarei adiante. O que ouvi foi o
seguinte, nada sobre a necessidade do ponto de vista econômico, administrativo,
características da cidade, turismo e tantos outros para justificar a uma
mudança. Então usei a palavra alancando meu achismo
tecnológico:
Economia.
Arrecadação da Prefeitura com “taxa de solo ocupado pago
pelos feirantes” era a segunda receita do município, abaixo apenas do IPTU;
hoje é uma alta despesas e não pensem que é por causa dos barraqueiros, e sim grandes
comerciantes com suas câmaras frigoríficas consumindo um mundo de energia, sem
nenhum custo, limpeza, enfim uma manutenção caríssima. Estacionamento para os
comerciantes do entorno que chega cedo e toma todas as vagas o dia inteiro; me
perguntaram se deveria cobrar estacionamento dos pobres, eu respondo, dos
carrinhos de mão não, mas dos pobres donos daquelas caminhonetes de cabine
dupla, sim.
Uma da busca de economia é ENCURTAMENTO ECONÔMICO, quanto
mais você evita intermediários maior é a redução do custo. As feiras livres nasceram
na época medieval, quando os feirantes se deslocavam do campo, um dia na
semana, para a cidade, vendendo diretamente ao consumidor sem intermediários. O
contra-argumento é a compra de grandes lotes, como fazem as grandes redes, exemplo supermercados. Os preços não são mais baratos do que os praticados na feira, há mais comodidade, técnicas de venda, higiene e tantas outras. Aí cabe a tecnologia.
KNOW-HOW.
Conhecimento de normas,
métodos e procedimentos em atividades profissionais, esp. as que exigem
formação técnica ou científica.
p.ext. habilidade adquirida pela experiência;
saber prático.
O “know-how” é um
conceito usado no ramo empresarial que significa o conjunto de conhecimentos
práticos adquiridos por uma empresa ou profissional, ou uma comunidade.
Nos itens grifados por
mim ressalta a pratica como insumo básico para se conseguir “know-how, usei na
época a riqueza que estavam jogando fora, esta gama de conhecimentos regionais
trazidos pelos feirantes: a técnica de embalar rapadura em palha de banana
ainda é insuperável, plástico mela além de ante ecológico, papel desmancha;
Ovos acomodados em samambaia, estamos tentando sair hoje para embalagens
biodegradáveis.
Ipirá desenvolveu
KNOW-HOW em artefatos de couro, origem centenária de selaria e objetos, hoje é
um centro industrial desta linha de produção uma dezena de indústrias de
pequeno porte com ótimas lojas de venda, fora ainda parte de vaqueirice. Não é
o seleiro que tem a tecnologia, nem o curtume que sabe, é o conjunto é a
comunidade toda, desde a criação de caprinos até a tecnologia do uso de
vegetais amaciantes e tantas outras práticas.
Guardando a proporção,
só a Escócia produz aquele WiSki. O mundo todo, principalmente os americanos
gastaram fortunas importando técnicos da Escócia, não adiantou, terminou produzindo
um blended (misturado).
Feira nunca foi grande
produtora, nem de pecuária. Sim um enorme “mercado produtor”, dado a sua
posição geográfica. Vamos sempre proteger, acolher todos os seguimentos
comerciais, grande comércio até o feirante, camelô, barraqueiros.
Agora é que tem de
entrar a tecnologia oferecendo às dirigentes opções, organização limpeza
segurança. O estudo tem que dizer, pode-se conviver com os camelôs? Já estudaram
isto? Simplesmente retirar do centro não é solução. José Raimundo, quando prefeito, retirou todo
mundo, não durou uma década, voltaram todos.
A feira livre saiu, não
dá para voltar, mas vamos repensar sobre o Centro de Abastecimento e da cidade,
aproveitando o Plano Diretor do
Desenvolvimento.
Em tempo: 1. depois de
mais de um ano, da reunião, encontrei Edvaldo Boaventura, ex-Secretário de
Educação do Estado da Bahia, ex-redator-chefe do jornal “A Tarde” estava com
membros do Conselho Estadual de Educação, na Graça, pediu para repetir os
argumentos acima, dando risada...
2. a inconveniência relatada
acima: um cidadão estava indignado, dizendo ser absurdo, ele construiu uma bela
casa e vem um feirante e coloca uma pilha de frutas em frente da sua
residência. Neste momento o fotógrafo estava me mostrando, no fundo da sala uma
ruma de melancias, mangas, abacates... e eu baixinho disse mais bonita que a
casa dele, uma voz atrás de mim: “é meu tio”.
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