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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 2 de março de 2013

OS BICHOS DA PREFEITURA

Hugo Navarro Silva


A notícia correu célere nas ondas hertzianas com o seu inevitável conteúdo de decepção e comédia: escola municipal estava funcionando com “gato” de energia elétrica, fato constatado pela empresa concessionária, que aplicou multa à Prefeitura em agosto de 2.012, conforme papel recentemente achado, entre tantos outros, na desarrumação da Secretaria a que se tenta dar, agora, algum aspecto de ordem. Há fatos imperdoáveis dentro e fora do serviço público e escola movida a “gato” (furto de energia elétrica), não, é exatamente, acontecimento educativo a merecer medalhas.
 Interessante é que o “gato” é outro bicho a figurar nos anais do governo municipal. O primeiro da História foi a vaca, nos anos vinte, que se desgarrou de manada, no Campo do Gado, pôs em polvorosa a feira da Praça João Pedreira, invadiu a Prefeitura, decretou correria e quebrou a perna de “seu” Moreira, secretário municipal. Outro foi o bode preto. Não faz muito tempo, quando a Prefeitura arrostava acusações de ordem diversa e impopularidade generalizada, altas figuras do governo teriam se reunido em celebração de magia negra na tentativa de afastar o azar e liquidar as adversidades, a que estaria presente um bode preto, indispensável em tais e solenes ocasiões. Figura envolvida no caso do “gato” teria sido um dos mais proeminentes participantes do ebó, a mesma que se acostumou a fazer dívidas, em fim de governo, certo de que jamais seriam quitadas.
 O bode nem sempre foi fornecedor de carne seca, material para umbanda, buchada e, ultimamente, sarapatel, dizem que de propriedades terapêuticas. Já figurou, embora como vítima indefesa, em grandes momentos da História Sagrada, em sacrifícios, no tempo em que os deuses, por certo cansados de sangue humano, passaram a se satisfazer com o sangue do caprino. Deuses transformavam-se em bode, como Dionísio, e o animal chegou a ser consagrado a Afrodite, provavelmente por sua sexualidade havida por inesgotável. Depois de figurar até na Bíblia, transformou-se em símbolo de luxúria, ingressou nas religiões primitivas e passou a representar o próprio Diabo, a quem deu face, chifres e pés fendidos. Alexandre Herculano conta a saga de fidalgo português que se apaixonou,  dramaticamente, por dama misteriosa, belíssima, mas que tinha pés de bode. Era o Diabo.
Não está claro, entretanto, porque gato assumiu o sentido de ladrão, dando lugar a palavras como gatuno, gatunagem e gatunice. Contam que Noé gerenciava a sua arca quando foi obrigado a se queixar ao leão. É que os ratos, que havia levado a bordo, estavam a talar alimentos e a roer o casco da embarcação pondo em perigo a segurança de todos. O leão, diante dos fatos, espirrou com violência, lançando das narinas dois gatos, que imediatamente moveram guerra aos ratos e Noé teve condições de completar a sua tarefa. A lenda, narrada por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, mostra que o perigo não está nos gatos, inda que os de energia elétrica, mas nos ratos, não apenas nas ratazanas, bichos grandes e temíveis por sua fome, visíveis e identificáveis, mas, principalmente, nos calunguinhas, animais pequeninos, simpáticos, humildes, que passam quase despercebido por seu aspecto inofensivo mas, roedores pertinazes e perigosos, são capazes furar o casco de qualquer barca, não  roendo diretamente, que isto  faz ruído e desperta atenção, mas agindo  no velho sistema da propina para beneficiar ratões, que pensam agir acobertados pela velha, sabida e  desonesta matreirice.
Como aconselha velho samba, “cuidado Horácio!” 

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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