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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 28 de março de 2013

CASA DE ENFORCADO

Hugo Navarro Silva


Não foram de bom alvitre ou pelo menos não mereceram os aplausos gerais da patuleia as comemorações que Dia Mundial da Água. O 22 de março foi marcado de grandes atividades.  Fervilharam defensores, e com tal força, que muitos procuraram o Ponto do Zequinha e outros locais apropriados e elegantes na esperança de esclarecimentos. Pensavam que era o fim da Lei Seca. Empresas privadas e órgãos do governo redobraram esforços na propaganda da defesa do líquido julgado essencial à vida. O assunto despertou até o interesse da Câmara. Destoou, apenas, ex-prefeito, atualmente fornecedor de leite ao programa “Fome Zero”, que se queixou da falta de pagamento do governo, o que deixa demonstrado que não há pecador sem castigo. 

A festa, entretanto, não deve ter agradado a parte da população do Estado do Rio de Janeiro, vítima da recente indústria que apareceu no Brasil, a da inundação e do desabamento de encostas, e pode ter causado até revolta entre nordestinos, cansados da  centenária e certamente rendosa indústria da seca.  

 Quem teme que a água possa desaparecer, entretanto, não está levando em conta que gente importante, cientistas renomados, estão a prever que as calotas polares em breve derreterão e que a água destruirá todas as cidades costeiras do mundo, contra o que já tomamos providências. Quando a ruinosa inundação chegar a Amélia Rodrigues estaremos de mudança para Mairí, que há muito necessita de praia. Não ficaremos aqui, como Isaias, o da Bíblia, a pedir socorro ao Senhor contra a água que nos ameaça de morte.

Na mesma ocasião o noticiário foi alarmante em torno do banho nosso de cada dia, ao afirmar que brasileiro gasta, em média, duzentos e quarenta litros de água no banho, o que é considerado desperdício contra a natureza. O alerta, entretanto, não deixa de ter motivos sérios. Na França, que já foi o país mais famoso e mais forte do Planeta, ninguém jamais tomava banho completo ou semicúpio.   Fez guerras, a Revolução, às vésperas de cujo Centenário lhe entregamos Copa do Mundo de modo inexplicável, com um dos jogadores brasileiros dando chilique na hora do jogo, e inventou o perfume para disfarçar o bodum que emanava principalmente das chamadas partes baixas de seu honesto, valente e fedorento povo. Aprendeu a se lavar com a ocupação alemã e perdeu tudo.  O único francês surpreendido em banho, na vasta história do povo francês, foi  Jean Paul Marat, lider revolucionário, morreu na banheira, quando Charlotte Cordeay passou-lhe a faca. Ambos, assassina e vítima, mereceram quadros de artistas famosos e referências que ainda sobrevivem na literatura na dramaturgia, novela e história, inclusive a dos Girondinos de Lamartine, não tanto pela morte, mas pelo banho, que segundo  alguns nem era de higiene e asseio, mas tinha motivos medicinais. Marat sofria de incômoda doença de pele certamente causada pela imundície de nobres e plebeus em sua época.

 Os portugueses, quando aqui chegaram e ainda por muito tempo ficaram escandalizados porque os nativos banhavam-se várias vezes por dia.

A água encerra simbolismo imenso, inesgotável na História da humanidade. Muitos dizem que dela nasceu o mundo. Foi a grande matéria prima primordial. “O ovo do mundo é chocado na superfície das águas.” Serve para purificar e para as danações eternas. Fertiliza e mata. Oseias compara deus às chuvas de primavera, às águas que descem das montanhas, ao orvalho que faz crescer as flores. O homem justo é como a árvore plantada à beira de águas correntes. A Bíblia é rica em referências á água: “Aquele que beber de minha água não terá mais sede”, abundantes, também, no Corão.

Os promotores do Dia Mundial da Água deveriam saber que “em casa de enforcado não se fala em corda”.

Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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