Hugo Navarro da Silva |
A campanha política municipal ingressa, agora, na sua fase
decisiva, com a abertura do horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio, em
que os candidatos poderão jogar as suas últimas e definitivas cartas, embora
haja a crença geral de que poucos serão os eleitores capazes de se deixar
influenciar pelas mensagens de última hora veiculadas na telinha, por intermédio
das ondas hertzianas e carros de som, algumas enfadonhas e perturbadoras da
tranquilidade pública.
Eleições locais, pelo menos neste rincão das terras
brasileiras, por certo são as mais autênticas, no sentido de revelar a vontade
do povo, agora, principalmente porque desapareceu a influência dos antigos
grandes chefes, que comandavam, mais ou menos de longe, todo o processo
eleitoral, e vigorava o sistema do voto de cabresto e do curral eleitoral.
É evidente que os relacionamentos humanos não se
transformaram a ponto de causar tamanha mudança. Sempre haverá, na política, a
influência derivada das relações que decorrem de atividades comuns, de crenças
religiosas e aquelas nascidas, poucas, é verdade, da ideologia política, da
fidelidade partidária, da homenagem à memoria de antigos e desaparecidos chefes
e de velhas, falecidas ou já
descoloridas esperanças.
Ninguém vai negar, na escolha do povo, a influência da
vizinhança, parentesco, das afinidades eletivas, da camaradagem, da simpatia, que leva o ser
humano à admiração de outro, do relacionamento nascido, sob qualquer motivo,
até da irmandade do botequim, mas tem
razão, sobretudo, quem aponta o fator econômico como o grande gerador dos interessas humanos, agindo direta
ou remotamente sobre a vontade popular, mal escondido no hedonismo, no desejo de
progresso e das conquistas sociais, que, no final das contas, podem dar origem a vantagens de ordem financeira,
transitórias ou permanentes, em último caso decorrentes do incremento dos
negócios ou da economia resultante de
uma rua sem buracos, que tem o condão de livrar, dos borracheiros, o bolso do
povo.
O tempo da compra e venda de votos, que se manifestava sob
vários aspectos, até o da renúncia, com a entrega do título eleitoral à facção
adversária mediante módico pagamento, desapareceu, entre nós, como ficou,
apenas na lembrança de alguns, a época em que partidários faziam razoáveis
estoques de sapatos, calças e paletós para conquistar eleitores preocupados com
a indumentária do dia da eleição, e dos escritórios montados para ensinar
eleitores relapsos a desenhar o nome, quando analfabetos não podiam fazer parte
das listas eleitorais. Hoje há mais liberdade e mais analfabetismo vitorioso.
A coisa toda começou a esquentar quando foram divulgadas
duas pesquisas de opinião públicaque dão, a José Ronaldo de Carvalho, candidato
a prefeito, com enorme folga, a
possibilidade de vitória no primeiro turno, resultados já conhecidos de sondagens anteriores não oficialmente divulgadas.
Das pesquisas dois fatos ficaram evidentes. O primeiro é o
de que ninguém mais pode impor a própria candidatura a prefeito deste
Município, ainda que baseado em sucessos eleitorais recentes. A Prefeitura está
muito próxima do povo, que é atingido, direta e cotidianamente, pelas ações do
governo municipal. A segunda é a de que as mensagens de efeito, largamente
usadas em eleições anteriores, como a da necessidade de mudanças e a da
afinidade política com os poderosos do país e do Estado perderam o sentido,
ficaram pífias. A conversa fiada de muitos e o julgamento do mensalão, que
deixa claro que falta alguém em Nuremberg, ajudam a derrubar mitos e a desfazer
falsas santidades. O povo está aprendendo.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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