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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 11 de agosto de 2012

O MILAGRE NA POLÍTICA

Hugo Navarro da Silva

Milagre é acontecimento extraordinário e perceptível, em que não pode deixar de entrar a providencial mão de Deus. Normalmente ultrapassa ou contraria forças da Natureza. Dizem os estudiosos que o milagre, apesar de suas características, não vai contra as leis  naturais, que apenas em certos casos são derrogadas. Entende-se, portanto, que o milagre não interfere com a criação, mas nela está incluído como parte fundamental. Assim, interfere com a morte. O sujeito está condenado, pela Medicina e toda a parafernália médica, a morte certa e irrevogável perecimento, mas lhe aparece pessoa, com alguma intimidade com o divino, a lhe receitar chá de folhas e de ervas misteriosas, recitar orações de forças desconhecidas ou manda-lo a correr na Avenida de Getúlio Vargas, e ais o candidato a defunto, em poucos dias, a comer sarapatéis e a perguntar onde fica o bar do Zequinha. Quem entende do assunto recomenda, apenas, cautela no reconhecimento e proclamação do milagre no caso das doenças nervosas, o que equivale a dizer que ninguém acredita na cura do irresponsável, nem por milagre, ou, parafraseando o hino do Flamengo, da autoria de Lamartine Babo, uma vez maluco, sempre maluco, o que seria correto afirmar, também, do vigarista.
O milagre, embora encarado com extrema severidade e cuidado em certos setores da fé, serve, além da cura, para expulsar demónios dos possessos e para lição e exemplo da humanidade, como é o caso de bonança depois da tempestade, o da pesca miraculosa e o da multiplicação dos pães.  O da transformação da água em vinho seria, talvez, considerado por muitos como o mais útil, mas dele poucos tratam.
Ligado intimamente à fé, o milagre (é o que se afirma) teria existido desde que o homem se libertou da animalidade, embora ninguém saiba, exatamente, quando  tal fato se deu, da mesma forma como ninguém pode afirmar tenha realmente acontecido, frequenta o mundo muito antes das vigentes religiões. Provas da afirmativa, que nada tem de extraordinária, estariam em ex-votos encontrados entre os assírios, no templo de Diana, em Éfeso, no de Apolo, em Delfos e Esculapius em Epidauro, fazendo nascer rendosa indústria de velas e artefatos de madeira, cera e até de metal, simulando partes do corpo humano. É a indústria dos milagres. Luiz da Câmara Cascudo faz referência à “Casa da Cera”, que durante muitos anos existiu, no Recife, com “um grande estoque de ex-votos”, que andaram a encher, e ainda entopem sacristias e partes de templos especialmente destinadas a acolhê-los. Há, no Brasil, igrejas e outros lugares de oração famosos pela enorme quantidade de ex-votos que abrigam, espalhados no chão, em prateleiras, e até pendurados do teto, formando, às vezes, tétricos,  gigantescos e empoeirados cenários a lembrar sofrimentos, dores  e amarguras.
O milagre, com o tempo, evoluiu, portanto, do divino para o humano, ingressou no folclórico e, vitoriosamente, no mundo dos negócios. Há, nesta cidade, lugares onde milagres são oferecidos, ao povo em geral, com dia e hora marcados. Só o preço não é divulgado, por motivos óbvios.
Um fato, entretanto, não deixa de despertar curiosidade. Não há mais ex-votos em Feira de Santana. Antigamente, e no mundo de hoje o dia de ontem já é antigo, havia ex-votos, poucos, é verdade, na Igreja do Cruzeiro (Alto do Bonfim), que desapareceram, não havendo pistas do destino que lhe deram, o que pode levar o incauto a acreditar que nesta terra não há milagres, o que é negado, agora, com a proximidade das eleições, que produzem, em Feira, o milagre das grandes obras do governo do Estado, embora ainda  em forma de veementes e repetidas promessas. Esse comovente acontecimento leva-nos a crer na necessidade da realização de eleições, anualmente, pelo bem da comunidade, que tem o direito de sonhar.
O povo sabe, entretanto, que na verdade “quem toca o sino não acompanha a procissão”.
 Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

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