Hugo Navarro da Silva |
Avisos, sinais de alerta não têm faltado, depois de
pronunciamento do FMI, que provocou opiniões de estudiosos e economistas de
diversas cepas sobre o problema creditício nacional e os perigos que o cercam.
Nem mesmo a quebra de cinco bancos, a partir do começo da crise que assola a
economia mundial (um deles custou quatro bilhões de Reais ao “Fundo Garantidor
de Crédito”) teve tanta repercussão e despertou tamanhos temores de setores
especializados, alguns realçando ora a solidez do sistema bancário brasileiro,
que estaria fortemente vacinado contra a quebradeira, outros a elogiar medidas
do governo em defesa da economia nacional. Para alguns a culpa das atuais
incertezas está no preço do tomate.
Crédito sempre foi a confiança entre devedor e credor. O sentido,
entretanto, ampliou-se fugindo, cada vez mais, daquele estritamente jurídico, o
direito de exigir, de outrem, o cumprimento de obrigação, além de abarcar a
troca de riqueza presente por futura riqueza, invadiu outros setores, inclusive
o doméstico. Maridos fazem questão de aparecer cedo, em casa, para obter
crédito, junto à cara metade, diante da necessidade de espichar o expediente
quando os fados o exigirem, como certas esposas (a palavra, hoje, tem sentido
generalizado), que sempre apontam o tempo gasto na costureira ou no
salão de beleza para justificar atividades “extra curriculares” conforme
abrangente entendimento que dava, à
expressão, velho professor de Economia.
Vai além, o crédito, na ciência da Contabilidade, onde
corresponde, praticamente, a lançamento, registro de operação ou partida, a
princípio simples, mas que evoluiu para as partidas dobradas, de que foi um dos
introdutores, no comércio local, o Contador Zé Petitinga.
O fato é que o Brasil passou, rapidamente, da condição de
país pobre, para país a exibir tinturas, poses e afetações de rico.
Longe vai o tempo em que moedas de cobre de vinte réis eram
cunhadas com a expressão “vintém poupado, vintém ganhado”, que a República mudou
para “vintém poupado, vintém ganho”, erradamente, segundo Raimundo Magalhães
Jr., porque lhe tirou a rima.
Época já houve em que para muita gente, crédito na quitanda,
que geralmente usava do sistema da caderneta, ou no boteco, significava o máximo da conquista na pirâmide
da sociedade.
Gastar, mostrar alguma fartura e disponibilidade de dinheiro
sempre foram desejos mal contidos de grande parte do povo, não apenas pelo bem
que a posse do dinheiro e a consequente aquisição de bens, ainda que supérfluos,
possam causar, mas pelo desejo inato de ostentação, que dá a sensação de superioridade e força. Já
vimos gente, no tempo das radiolas, em bairro modesto, após o jantar, instalada,
com a família, à porta da casa fartamente iluminada, com enorme Phillips a
espalhar zoadeira. Muitos fazem o mesmo, hoje, com o automóvel. É forma de
dizer aos demais: vejam, pobres diabos, as alturas aonde vai a minha
prosperidade e importância.
Nenhum objeto tem sido mais desejado em país de incipiente
crescimento do que o automóvel, sonho dourado da maioria do povo de todas as
idades, principalmente porque carro já
foi privilégio de ricos, resultando em
que automóveis passaram a ser vendidos como bananas, geralmente em prestações a
perder de vista, ajudando a gerar crescente endividamento que está a preocupar
os economistas, contando com a ajuda do governo, que manipula tributos para acelerar o consumo,
quando deveria procurar meios de incrementar a produção no sentido geral, a livre e rápida circulação de mercadorias e a adição de
valor aos produtos que exportamos.
Hugo Navarro da
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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