Hugo Navarro da Silva |
A política brasileira tem vivido aos saltos, marcada de
grandes esperanças e enormes desenganos, em busca de caminhos definitivos.
Banimos o domínio português, cerceador das liberdades, a nos impedir o ingresso
nas conquistas liberais, que na época começavam a se espalhar pelo mundo.
Banimos os conquistadores, que de fato já não tinham forças para manter e
defender sua antiga colônia. A mudança, entretanto,
recheada de lendas e heroísmos que até hoje ressoam, nos anais da pátria, servindo para justificar
festas e discursos, prometia, além da desejada independência, folgas,
felicidades sem conta e farturas jamais pensadas. Não foi assim. Na prática o
Império encontrou dificuldades, criou adversários e terminou com a República e
o melancólico banimento do imperador, que se esforçou, não poucas vezes, para demonstrar
temperamento magnânimo e espírito empreendedor e democrático. Contam, que
mantinha Livro Negro, onde anotava o nome de altos funcionários, políticos e
magistrados acusados de faltas graves, como corrupção, e lhes cerceava a
carreira. Perdeu o trono da única monarquia da América do Sul dezoito meses depois
da Lei Áurea, ato que não teve a coragem de assinar. Deixou a tarefa para a
filha, a princesa Isabel, no dizer de
Carlos Maximiliano sedenta de popularidade, mas que “não sabia, ainda, quanto a
popularidade é uma fugaz aventura”.
Embora a República tenha tomado de surpresa a maioria do
povo brasileiro, necessário não esquecer as palavras de Arestides Lobo, segundo as quais o povo assistiu, bestificado,
à Proclamação do Campo de Santana, havendo até quem afirme que o próprio Mal. Deodoro da Fonseca,
surpreendido com o movimento golpista, teria perguntado, aos conspiradores,
referindo-se a D. Pedro II, o que seria do Velho, encheu a população de euforia
e de redobradas esperanças de progresso
e lucros, mas, “era necessário destronar um santo”, que, deposto, ainda sofreu a humilhação do
banimento.
Veio a República, com o golpe de Floriano, as ameaças de
fragmentação do território brasileiro, as sedições, as revoluções, as
tentativas de derrubada do governo, sobrevivendo, a Primeira República, criada sob
bases frágeis, fraudes eleitorais e intensa corrupção até 1930, quando revolução salvadora, que se transformou
rapidamente em ditadura e culto à pessoa do hábil político Getúlio Vargas, também havido por santo, que deixou, na
sua passagem, vasta gama de violência,
perseguições, sofrimento, mortes e intensa roubalheira, também desabou. Era
impossível resistir à democracia vitoriosa nos campos de batalha da Europa
contra o nazi-fascismo.
O período da tênue redemocratização brasileira, de que foi
símbolo a Constituição de 1946, tentou criar os seus santos redentores, com João
Goulart e Brizola, que pouco resistiram a nova revolução, que lhes destruiu as
pretensões de donos do país e salvadores da pobreza.
Temos, hoje, outro candidato a mito, à santidade e à fama de redentor do povo. Políticos sem
conteúdo e sem luz própria exibem, como virtude, respeitabilidade e valor,
aliança ou proximidade com tal figura, que já provocou tsunamis na política
brasileira, ressuscitando mortos e elegendo nulidades, fatos, entretanto, que
dificilmente se repetirão diante do difícil parto a que se submete o Supremo
Tribunal Federal, o do processo de mensalão, que mostra pequena parte do que se passa no governo brasileiro.
É claro que os peixes
graúdos podem escapar das malhas da verdade e da punição.
Mas, parafraseando o presidente Floriano Peixoto, amanhã, quem dará
habeas-corpus ao Supremo?Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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