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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

NOS BASTIDORES DA ASSEMBLÉA

O SR. ARNOLD SILVA PRESA DE FORMIDÁVEL INDIGESTÃO

    O coronel Arnold Sil­va sempre viveu lon­ge da cidade.
Preoccupado unica­mente com os seus afazeres de comprador de ga­do, no interior da Bahia, a pri­meira vez que s. ex. abandonou a tranquilidade do sertão foi para vir ao Rio, como represen­tante de sua terra na Assem­bléa Nacional Constituinte.
Aqui chegando, porém, ao contrario dos seus collegas que escolheram pensões baratas e se limitam a conhecer o trajecto que vae de casa ao palacio Tiradentes, o illustre deputado entrou immediatamente em con­tacto com a vida agitada da capital.
Emquanto os outros, depois do Jantar, lêem qs jornaes e jo­gam “visporas” em familia, a caróços de feijão, o coronel Arnold procura os centros mais concorridos, as casas de chá, as bares elegantes e, uma vez por outra, um “cabaret” baralhento onde se tira o diabo do corpo e o dinheiro do bolso.
Desconfiado, como todas as criaturas do interior, não quer s. ex. cicerones dispendiosos ou companheiros amaveis.
Farra, para elle, é negocio que a gente faz sósinho, sem testemunhas e sem comparsas, para que se não murmurem coisas intimas, capazes de com- promettelo perante o sr. Leoncio Galrão, que é, pelas suas altas virtudes, uma especie de fiscal do comportamento da bancada. Ora, com esse programma, é justo que, de quando em quando, o sr. Amold se veja a braços com as difficuldades naturaes dessas transições vio­lentas.
Hontem, quando circulou pela Camara a noticia de que o sr. Amold Silva fôra presa de uma formidável indigestão, procurá­mos o sr. Arlindo Leoni, afím de que s. ex. explicasse o caso e nos désse noticias do estado do seu sympathico colega.
O sr. Arlindo, interpellado por nós, sorriu, collocou uma agulha nova, baixou o diafra­gma sobre o disco, e, depois daquelle chiado caracteristico dos primeiros momentos, explicou:
    O Arnold já está fóra de perigo. Foi uma indigestão de bolachinhas, coisa sem impor­tância.
     De bolachinhas ?..  — per­guntámos.
E o sr, Arlindo Leoni:
      Foi um equivoco dos dia­bos. Imaginem que o Amold com aquella mania de ser ele­gante, resolveu passar a noite na Brahma, como fazem os ra­pazes “chics”. Entrou, pediu um “chopp”, outro, mais outro e, ás onze horas tinha “entor­nado” seis “chopps” e estava sem sentidos em baixo da mesa.
Na Assistência, foi uma dificuldade para atinar com a causa do accidente. A barriga, estufada e lustresa, parecia desafiar a especialidade do Fernando Magalhães.
Depois de muito trabalho, o Arnold abriu os olhos, e, como o medico lhe perguntasse o que havia comido, respondeu que tomára seis “chopps” e comera seis boláchinhas,
então descobriram que o Armold havia comido os car­tões do "chopp” como se fossem bolachas...

Publicado no Diário Carioca - Domingo, 17 de dezembro de 1933

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