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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 19 de janeiro de 2014

O FUMO E A ENTREGA DA ALMA

Hugo Navarro da Silva
Nenhuma campanha do governo ligada à saúde pública alcançou tanto êxito quanto a movida contra os terríveis perigos do tabaco, ultimamente com a adesão da China.  Outras, a exemplo do combate à dengue, nem aos pés lhe chegam em matéria de publicidade oficial e obediência popular.
A crença de que o hábito de fumar ameaça extinguir a humanidade e é muito mais perigoso do que a universal poluição das águas, nasceu nos EE.UU., resultado de milionárias ações judiciais indenizatórias movidas contra gigantes da indústria do cigarro por supostas vítimas do tabagismo, que  provocaram candentes e aterrorizantes pronunciamentos de renomados cientistas e profundos conhecedores das  artes médicas.
Ninguém sabe, com exatidão, a época em que a humanidade começou a fumar. Teria começado na América porque o fumo é produto do solo americano onde foi usado, inicialmente, em cerimônias religiosas a que a fumaça está intimamente ligada desde tempos imemoriais como meio de comunicação entre o céu e a terra.  Em antigos rituais chineses queimavam-se ervas aromáticas e gordura, diante da crença de que a fumaça eleva a alma ao além, transportando orações e preces, porque sempre procura o céu. Índios norte-americanos realizavam cerimônias religiosas com fumaça de fogueiras. Entre os taoístas a incineração conduz à redenção a alma dos mortos e não vamos esquecer a queima de incenso nas solenidades católicas. Alquimistas acreditavam que o chamado “ultimo suspiro”, exalando vapor ainda que tênue, era a alma se despedindo do corpo. O que ninguém determina é o momento exato em que a alma entra no corpo.  Nas crenças religiosas de origem africana e nas formalidades de certos adivinhos a fumaça do charuto é  importante acessório. O charuto, peça imprescindível dos “despachos”, antes do prestígio do cigarro dominava o cenário social. Sua celebridade alcançou o ponto mais alto durante a guerra contra o nazi-fascismo, com o Lord da Guerra, Winston Churchill, que sempre aparecia a  soltar fumaça  daqueles artefatos.
O fumo teve, em época relativamente recente, importância muito grande na economia local. Foi um ciclo, como o da ourivesaria, que desapareceu. Ficou a fama da pecuária, que neste Município nunca chegou a ser forte. Fundamental, aqui, sempre foi o comércio de gado.
Feira chegou a ter inúmeros armazéns de beneficiamento de fumo e destacados mercantes do ramo da exportação do produto oriundo principalmente de São Gonçalo e Conceição de Feira, onde sempre se cultivou excelente tabaco, matéria prima para as fábricas de charutos que aqui se estabeleceram e fizeram forte concorrência  às do Vale do Paraguassu.
Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil encontrou indígenas fumando toscos charutos. Descoberto pelos navegadores o fumo chegou à Europa como novidade e remédio.  Com o aparecimento do cigarro de palha de milho, charuto, cachimbo e do pó de tabaco no Velho Mundo as propriedades medicinais do fumo cresceram de prestígio apregoadas como eficaz remédio para a fraqueza sexual, defluxos, reumatismos e incômodos catarros. O uso do cigarro tornou-se hábito elegante e ganhou corpo no mundo a partir de filmes de Hollywood, em que os galãs fumavam desbragadamente. Adotado pelas mulheres, que sempre exageram quando assumem vícios masculinos, adquiriu status de grave problema de saúde pública.
Difícil de entender, entretanto, a universal condenação do fumo e a quase unânime defesa da maconha, liberada, no Uruguai, pelo presidente José Mojica, e, no Colorado, aceita como droga recreativa. Na Califórnia é santo remédio. Vá compreender o mundo...
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida


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