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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O DIABO A QUATRO

Hugo Navarro da Silva


Supõe-se, hoje, que o prestígio do Diabo anda em decadência, afastado do imaginário popular e anulada sua maléfica influência pelas conquistas da civilização. Satanás e sua  aterrorizante  atividade sobre  os seres humanos estariam, assim, restritos a certos setores da vida religiosa, agindo como azeite em fechaduras de cofres e dedos leves em bolsos e contas bancárias. A suposição, entretanto, pode encerrar fatal engano. Poeta maldito, acusado, entre outras coisas, de pacto com o Diabo, Charles Baudelaire escreveu que “A mais bela manha do Diabo é persuadir-nos de que não existe”. Baudelaire, aliás, faz parte de seleto grupo de importantes nomes da literatura, da história e das artes em geral de propagandista da existência do Demônio, não raras vezes havido por símbolo de rebeldia e liberdade. No rol dos adoradores estão malucos, músicos, assassinos, sacerdotes, romancistas, poetas e soldados, a exemplo do lugar-tenente de Joana d’Arc, um certo Gilles de Rais, morto  na fogueira  com a sua chefe.  Interessante é que em todos os repositórios de adoradores e seguidores do Diabo não há políticos, escondidos, certamente, ou por suas artes infernais ou pela blindagem que a chefia lhes impõe.
Conhecido escritor brasileiro, Raimundo Magalhães Jr. Publicou, em dois tomos, “antologia das melhores histórias diabólicas de todos os tempos”, na qual figuram, entre muitos outros, Tolstoi, João Ribeiro, Andreyev, Rubem Braga, Herculano e Machado de Assis, autor de “A Igreja do Diabo”, contando como o Sujo, apesar dos lucros, sentindo-se humilhado pela  desordem em que andava envolvido, resolveu  colocar tudo nos trilhos organizando uma  igreja. O conto supostamente baseia-se em velho manuscrito beneditino.
Mas, de onde vem essa figura, o Diabo, que oscila entre o humorístico e o trágico, que faz rir e estaria por trás de todas as desgraças humanas? Talvez da necessidade da religião, a de ter bode expiatório para levar a culpa de tudo que de ruim ocorre no mundo.
 A antiguidade conheceu o Diabo, em diversas formas, todas, entretanto, de origem divina. No Egito havia Set, o deus da escuridão, do mal. Os persas conviveram com Ariman ou Amramayu, filho de um mortal, Zarathustra, o profeta, que tenta matar. Transforma-se em um deus destruidor. Na Índia o diabo era chamado de Mara, que teria tentado Buda a ingressar no pecado. Mas, ao contrário do Satanás da civilização cristã, Mara é o deus do amor, do gozo erótico, da embriaguez, do domínio dos sentidos que leva à morte. Os gregos tiveram seus demônios, como os romanos. Na Grécia, os Titãs se revoltaram contra o Olimpo da mesma forma como os anjos se rebelaram contra Deus na lenda judaico-cristã, e um deles, Tifeu, assumiu a vanguarda da maldade e do mundo das trevas, representado por um homem com a cabeça de cobra. A Grécia foi a terra dos “daimons”. Cada ser humano tinha o seu. Muçulmanos também possuíam (e possuem) seus demônios, o Iblis ou saitan, também revoltado contra Deus por ter dado muito prestígio ao homem, criado da lama, ao contrario de Iblis, criado do fogo. 
No nordeste são famosas as histórias envolvendo o Diabo, nas cresças populares, no anedotário popular e na literatura de cordel, provocando terror em muita gente, dando enorme importância ao chamado pacto com o Diabo, que alguns faziam para enriquecer. Nesta cidade cidadão famoso carregou para o túmulo e fama de ter pactuado riquezas com o demônio em troca da alma. Muita gente evitava sua última morada no Cemitério Piedade.
Apesar do Papa Paulo VI ter afirmado que o Diabo é invisível, Satanás pode ser detectado, claramente, em certas alianças ou pactos políticos.  Alguns são perigosos. Podem fazer da existência da vítima o diabo a quatro.


Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
 

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