Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

CÍNTIA PORTUGAL E SEU LIVRO

Hugo Navarro da Silva
Ler “Caminhando pela Cidade”, livro recentemente lançado por Cíntia Portugal, é como revisitar Feira de Santana de todos os tempos com os olhos, o coração e algum aperto no peito. O aperto da saudade e das lembranças do que passou e não volta mais, tragado pelos inevitáveis e às vezes enganosos caminhos do progresso.
A edição, trabalho da “Via Litterarum”, de Itabuna, com projeto gráfico e diagramação de Carla Piaggio, é perfeita e encantadora. Leva-nos tranquila e gentilmente a deliciosos passeios pelas ruas,  becos e vielas de Feira, que  transmitiam,   salvo raras exceções, sentimentos de paz e liberdade a qualquer hora do dia ou da noite, sem o receio de assaltos ou morte por bandidos de todas as idades, que  nos dias presentes obrigam  o feirense a viver recluso, protegido de grades e cercas elétricas. O regime imposto ao povo  desta terra,  nos dias artuais, diferencia-se muito pouco do adotado na Penitenciária da Papuda para aonde levaram uns poucos mensaleiros.
No passeio sentimental a escritora lembra, inicialmente, a velha Sales Barbosa, com o seu calçamento de pedras irregulares, o poeta que lhe dá o nome e quase ninguém sabe mais quem foi e  o que fez, no trabalho pertinaz e eficiente das novas gerações em que as novidades, como a música do tabaco, subjugam e fazem esmaecer  figuras do passado e o papel que tiveram no mundo.
A pavimentação  irregular das ruas Sales Barbosa, Marechal Deodoro e General Pedra, perdurou, por muito tempo, antes de desaparecer sob o asfalto do progresso.  Quando prefeito, Aguinaldo Boaventura,  certo dia, resolveu melhorar o calçamento da General Pedra, dizia, em benefício das senhoras, que quebravam o salto do sapato nas pedras irregulares em virtude de que  havia, nas ruas, excesso de mulheres capengando. O trabalho não era pequeno. A General  Pedra sai da Praça do Nordestino, atravessa a Rua Monsenhor Tertuliano e termina na Des. Filinto Bastos, abrangendo os antigos Beco do Pus e do Bom e Barato. A obra avançava, mas, ao que parece, faltou dinheiro e o prefeito resolveu, simplesmente, usar as mesmas pedras, mas viradas de baixo para cima, substituindo as partes lisas, gastas pelo uso, pelas  faces crespas, que estavam enterradas, fundamentando a decisão no fato de que os escorregões seriam evitados.
O livro lembra, entre outras coisas, com toques de poesia e suavidade, o velho Beco do Ginásio, tormento dos bedéis do Ginásio Santanópolis, inclusive da velha e  gorda D. Isaura, a perseguir estudantes que pulavam o muro para cair nas doçuras do beco. Estudante, na época, nem sempre tinha dinheiro, mas, que desfrutava de grande prestígio no Beco do Ginásio, não havia dúvida. Outros becos famosos foram lembrados, como o da Energia, nos fundos das instalações da “Companhia de Energia Elétrica da Bahia” e o célebre Boco do Mocó, couto de desordeiros e bandidos célebres e sede de perigosas bagunças, local propagador da maconha nesta santa cidade de inocentes e pios indivíduos. Ali reinou, durante muitos anos, uma certa Nazareth, bonitona e desejada, que mandava e desmandava, secava maconha ao sol, em bandejas, no rol da casa, e uma Olívia, já gorda, fora de forma, oriunda do Casino Irajá, que montou boteco  e quando zangada ou cheia de cana desafiava os mais valentes e promovia, no dizer de Djalma Boaventura, “um cacete medonho”. Quando Compadrinho chegou ao beco com a sua “farmácia”, enorme coleção de garrafas de cachaça com ervas e raízes do toda natureza, capazes de exterminar qualquer doença, o local já estava quase pacificado, evitado, entretanto, por quantos julgavam ter juízo. Hoje, como a Rua General Pedra, o Beco do Mocó é ocupado por empresários respeitáveis. A velha bagunça desapareceu completamente.
 O livro de Cíntia Portugal além de cultura, é delicioso da primeira à última  página.

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