Hugo Navarro da Silva |
Ano novo, vida nova. Frase velha que encerra desejos e juras
que se repetem, há séculos, e de certo modo sintetizam eterno sonho da
humanidade, o de se transformar para melhor, sem atentar para a advertência do
Eclesiastes: “O que foi, é que há de ser; e o que se fez, isso tornará a fazer:
nada há, pois, de novo debaixo do sol”.
Ninguém pode calcular a quantidade de pessoas, que na
chamada virada do ano jurou, fervorosamente, de pés juntos, abandonar vícios,
voltar a trabalhar, respeitar o alheio, deixar a mentira, evitar o bar da
esquina e as garrafas em geral e dar atenção ao que diz a sogra. São promessas
e juras que resumem a eterna busca humana pela perfeição.
As promessas, os votos, todos têm origem ou sentido ligado à
fé religiosa, que é dos primórdios do homem, como andar descalço, cortar ou
deixar crescer o cabelo, deixar de fazer a barba, subir escadas e percorrer
caminhos santos de joelhos, atirar moedas a aguadas ou lançar objetos de
vaidade ao mar, como ocorre, em Salvador,
nos festejos a Iemanjá.
É verdade que “promessa de feijão não enche barriga”, como
diz velho ditado do interior paulista recolhido por R. Magalhães Jr., e que nos faz lembrar os oitocentos aeroportos
prometidos pela presidente Dilma, entre os quais deve estar o de Feira de
Santana, produzindo tamanho ruído de milhares de jatos a pousar e decolar, que
deve tirar o sono de muita gente que anda a prometer e a tentar enganar
o povo, mas justifica os mais de oitenta por cento de aplauso popular do
governo federal, número, entretanto em que ninguém acredita.
Não é o caso de Prometeu. Destinado por Zeus a fazer homens
de barro e água, apiedou-se da humanidade e sem promessas deu-lhe o fogo que
roubou dos deuses. Castigado, acorrentado a rochedo, tinha o fígado comido por
abutres durante o dia e restaurado durante a noite, castigo de que somente se
livrou quando libertado por Hércules, sujeito direito, que já naquela época
acreditava que não é pelo amor de Deus que gatos caçam ratos.
O Ano Novo para Feira de Santana coincidiu com governo novo,
conduzido à vitória, nas urnas, por maioria indiscutível.
O governo municipal
recém-empossado não é, entretanto, simples e banal promessa, porque testado,
antes, em época também de descrédito e desesperança.
Evidentemente os tempos mudaram. Há novos percalços. O país
vive, em grande parte, da mentira de sucessos governamentais e ilusória
prosperidade. O país, na verdade, permanece estático, atrofiando a produção mas
incrementando o consumo, cada vez mais voltado para o produto estrangeiro,
querendo sobreviver entre as tendências nitidamente ditatoriais, que
ultimamente se têm manifestado na América do Sul, paternalistas e populistas,
mas sem base para sobreviver a longo tempo, e a vocação nacional para a democracia
e o livre comércio, o que diminui, com o falso e passageiro enriquecimento popular, atestado com a corrida às lojas, a
possibilidade da existência de governos locais sérios e realizadores, voltados
para as reais necessidades do povo, não só do presente, mas do futuro próximo,
a respeito do qual não há como esperar milagres.
Ninguém inventa muita coisa na arte de governar. É como
afirmou Tácito, séculos atrás. Quem é capaz de governar bem a sua casa, pode
bem governar uma província. Ambas são, muitas vezes, tarefas árduas.
E não vamos esquecer o que é corriqueiro: mede-se a
possibilidade de aceitação e grandeza de um governo pelas qualidades de
liderança do chefe e pela seriedade, discrição, competência e responsabilidade
de seus auxiliares imediatos. No particular o novo governo trilha o caminho certo.
Hugo Navarro
Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis.
Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte".
Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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