Símbolos do Santanópolis

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

MENTIRA CARIOCA

Hugo Navarro da Silva

A cidade do Rio de Janeiro já foi o paraíso neste país de eternas carências, dificuldades e roubalheiras. Famosa por sua geografia privilegiada, ali residiam oportunidades, corria o dinheiro e a certeza de notoriedade e glória. Artistas de todo o país só faziam fama e fortuna no Rio, onde o rádio e o teatro alcançaram grande desenvolvimento. Era supremo desejo de nordestinos fazer, pelo menos, uma visita ao Rio e voltar para casa falando das belezas e conquistas de cidade maravilhosa, desenvolvida, moderna, elegante, cheia de novidades e vícios da civilização. Muitas vezes resolviam enfrentar todas as dificuldades para vencer na famosa metrópole. Artistas, políticos, jogadores de futebol, profissionais de todas as áreas buscavam o Rio para crescer na vida. Afinal de contas o Rio de Janeiro era a capital do país, onde se concentravam o poder e parte considerável da riqueza nacional. O Rio, entretanto, desenvolveu, com o progresso, intensa marginalidade e fama de principal sede do vigarismo  brasileiro, a malandragem, que se tornou famosa e imitada, dando origem a histórias como a do “vendedor de bondes”, de  que teriam sido  vítimas ricos  fazendeiros de Minas, e a da “mentira carioca”, expressão que tomou todo o país  com o sentido de peta, fábula, patranha, lenda,  ardil, cascata, poçoca, embuste e fraude. O  Marquês de Maricá disse, em suas “Máximas”, que “A mentira, infelizmente, é mais social do que a verdade; a civilidade a enobrece e recomenda” e Luiz da Câmara Cascudo reconhece que “Todos os países têm figuras clássicas e locais de mentirosos”.
Tão forte se tornou a “mentira carioca”, que ingressou na música popular em samba de Patrício Teixeira, preto, pobre, um dos primeiros no Brasil a gravar em disco e a figurar entre as atrações do rádio. Fez sucesso entre os anos dez e trinta, aprendeu a tocar sozinho, foi professor de violão de Aurora Miranda e Nara Leão e autor de livros. O samba falava do “tal, que de natal e natal, toma abrideira e diz que é água mineral. Nesta mentira carioca eu quero crer, mas...”
 O samba fez sucesso, como anos mais tarde o conjunto “Golden Boys” ao lançar, na “jovem guarda”, o samba-rock “Mentira Carioca”: “Saiba que ser carioca/ é ter um jeitinho de quem nada quer/ é passar a vida pensando em mulher/ é trabalhar pouco para não se cansar.”
Há dificuldades de toda ordem para atanazar a vida do povo brasileiro. A da segurança pública é uma das mais graves e preocupantes. Ninguém dela escapa. No Rio de Janeiro alcança proporções tais que ninguém sabe o limite entre a ação do governo e a de bandidos armados, ligados ao tráfico de drogas. Lá inventou-se, como solução, gigantesca operação de guerra, a invasão de conjuntos de favelas, com pífios resultados mas com hino e hasteamento de bandeira, exageros  de ordem política um tanto ou quanto ridículos, e a instalação, pela polícia, de chamadas “bases comunitárias”  para o estabelecimento do  que está sendo chamado de “clima de paz entre os moradores”. O crime, propriamente dito, seus chefes e  toda a máquina criminosa simplesmente  mudaram-se para território vizinho, onde continuam a agir e a aterrorizar livremente toda a cidade.
Em Feira de Santana, cuja ameaça de governo paralelo de criminosos passou das cogitações para se apresentar como séria possibilidade que já se verifica em vários locais considerados perigosos, os territórios de notórias quadrilhas, o governo do Estado, às vésperas das eleições, resolveu imitar o Rio de Janeiro e fez com que a polícia ocupasse o bairro Jorge Américo com cem homens armados, para  inaugurar “salvadora” base comunitária, espécie de satisfação que o poder público dá  ao eleitorado. Não sabemos se na inauguração haverá hino e bandeira, mas povo tem a certeza de que a base comunitária não passa de outra grossa “mentira carioca”. É a TRI-VIA da Segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Filme do Santanopolis dos anos 60