Carlos Pereira de Novaes |
É muito interessante. A queda do império
brasileiro e a passagem para a fase de república foi tão rápida e sem batalhas
e até hoje ela é mal explicada. Deodoro era monarquista. O imperador D. Pedro
II era querido na época, pelo povo, embora já estivesse velho e doente. Não foi
articulado nada, aconteceu. Ou seja, a república foi um verdadeiro presente da
monarquia, já que o velho monarca era um pacifista e não queria “sangue” e nem
o seu banimento e de sua família, aliás, por trinta anos, teve a explicação
merecida ou mesmo motivada. Foi um ato de força e pronto.
E
no entanto, desde aquela época, tudo que se refere ao império é sempre descrito
com desdém, deboche. Mas por que isto?
Já
é sabido que sem o império, não existiria nem o Brasil de hoje, já que quem
fincou as bases para o Brasil moderno, na diplomacia, na agricultura, na
industria, na época, nascente, ou mesmo o próprio país, foi o império, aliás
desde D. João VI.
No
entanto só se ouve falar das imprecações em espanhol de D. Carlota e até coisa
bem pior, como se uma rainha pudesse fazer alguma coisa sem ser notada em seu
palácio, das aventuras amorosas de D. Pedro I, das esquisitices de D. João VI e
nem os flertes de D. Pedro II foram esquecidos, isto sem falar das estranhezas
de um neto do imperador, lá na Europa, que era meio “pancada” e já ouvi dizer
que vem ai um livro sobre a princesa Isabel, que, obviamente, não será bem sobre
as virtudes da princesa, já que virtude, no Brasil, não dá ibope e muito menos
vende livro.
Se
a gente vai no Rio, lá na Praça VX, encontra o tal do Paço Imperial cheio de
galerias, lanchonetes, ateliers mas história que é bom, necas. Ora, lá deveria
ter uma réplica do palácio imperial, um museu da época e não teatros e outras
coisas de artes, pois isto é um contra-senso, com estrebarias, a sala do trono,
os documentos importantes da época, uma pinacoteca e uma biblioteca, todas as
salas com as suas funções, as charretes, o coche real e assim vai, para que os
nossos estudantes de hoje entendessem melhor este período histórico, que
afinal, já existiu, e não só uma placa indicando que ali é o Paço Real e pronto,
que, aliás, já foi agência de correios.
Na
Quinta da Boa Vista, onde ficava a residência oficial do imperador e de sua
família, foi transformado em um museu de história natural e também lá não
existem nem vestígios que ali já foi um prédio histórico, a não ser uma placa e
uma estátua do imperador mas história que é bom, nada. Só o museu. O palácio
das Laranjeiras, que era a residência da princesa regente, nem se fala, já foi
esquecido e pronto.
O
que é que fizeram? Mandaram tudo lá para Petrópolis e transformaram esta cidade
em cidade imperial. Mas a lei Áurea foi assinada lá? E o Rio? É o quê?
Ou
seja, o que a gente vê é uma espécie de raiva explícita da república com a
monarquia, alias desmotivada, sem motivo, pois se a monarquia caiu, foi porque
algo não funcionou bem, mas isto não é motivo de desdém, deboche, com quem não
teve nem um advogado para defendê-los, aliás, sem crimes nenhum, pois o monarca
já foi defendido até por Chico Xavier, como homem de bem que morreu pobre, mas
nobre, de título e alma e no entanto, as nossas universidades, o patrimônio
histórico e outros órgãos, que deveriam prestigiar esta fase histórica, não
dizem nada. Tudo calado!
Da
fase de colônia, ai então é que não existe nada mesmo. Este professor um dia
foi visitar o Palácio Rio Branco lá em Salvador, pensando que iria ver quem
sabe um pouco de nossa história, principalmente sobre o seu período colonial,
mas não viu nada a não ser alguns utensílios de ex-governadores, o que é até meritório,
mas bem pouco para um palácio do século XVI, mas história mesmo, perdão, ele
não viu nada e muito menos história colonial, imperial ou mesmo republicana aqui
da Bahia.
Mas
será que não é hora de se falar mais da história e menos de estórias? De se
desfraldar mais o nosso passado com coisas mais sérias e menos zombeteiras?
Carlos Pereira
de Novaes. Professor da UEFS.
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