Não deixa de causar estranheza a muitos a angústia de
governantes ante a necessidade de redução ou de cancelamento de despesas com
festas juninas em virtude da seca que
infelicita os sertões com reflexos altamente danosos sobre a economia do
Estado.
É impressionante o sofrimento manifestado por certos
prefeitos da Bahia ao confessar a adoção de medidas para reduzir gastos com as
festas e pronunciar fúnebres palavras para anunciar o cancelamento delas.
Inverte-se, portanto, o sentido de antigo ditado segundo o qual “faz festa quem
pode”. Na verdade faz festa, hoje, principalmente quem não deve. É como se toda a legislação eleitoral
vigorante, com suas às vezes exageradas restrições, os cuidados, as precauções
legais a respeito de candidaturas e os cargos públicos eletivos estivessem
destinados a uma só finalidade a de
eleger representantes do povo para fazer festas e contratar, a peso de
ouro, cantores e bandas de todo gênero, com destaques para as bandas de forró,
que ganharam, ultimamente, as preferências populares com o rótulo de
manifestação cultural e que não passam, na maioria dos casos, de recurso desesperado contra o desemprego.
As festas de São João sempre gozaram de grande prestígio no
seio do povo baiano, com suas fogueiras, fogos de artifício, licores e famosa
culinária em que predomina o milho, mas sempre feitas no seio da família. Eram
festas domésticas. Ultimamente o conceito de festa popular transformou-se,
ganhou novo aspecto e novas formas. Festa popular, atualmente, como as votadas
a São João, significa reunir, em determinado local, diante de palco, grande
número de pessoas que na melhor das hipóteses apenas pulam com os braços para
cima, diante de artistas de segunda ou de terceira categoria. Alguns desses
artistas fingem cantar, enquanto outros, com raríssimas exceções, fingem
entender de música. Tais artistas são
pagos pelas prefeituras, que estão transformando barulhentos espetáculos
musicais em artigos de primeira necessidade, resultando em que há o temor
de que o cancelamento desses terríveis shows
possa derrubar Bastilhas e espalhar
guilhotinas pelos sertões da Bahia, hipótese com certeza
considerada mais perigosa do que a das
notícias de corrupção que envolvem prefeituras e contratações de bandas, que estão a encher ouvidos e
cabeças de sofridos sertanejos bahianos
A estranha tendência para colocar os chamados festejos
populares, todos remunerados pelo erário, às vezes regiamente, como finalidade
principal de governos, que deixam em segundo plano saúde,
educação, transporte e segurança
para cuidar de tocadores de triângulo e ganzás, considerados como maravilhas do
século XXI, tudo leva a crer, está
ultrapassando prefeituras e contaminando governos estaduais, alguns mais
voltados para o sucesso de bandas de forró do que para as obrigações básicas de
governo, contando, entretanto, com perigosos aplausos de parte da mídia.
Não estamos defendendo a volta da Idade Média. Pelo
contrário. Entendemos que festas são
necessárias. Entendemos, entretanto, que não cabe ao governo patrocinar festas
com o dinheiro do povo, principalmente nos momentos de crise e de sofrimento da
população.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi
aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para
o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia
semanalmente a matéria produzida
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