A morte de duas pessoas, a última, Ângelo Bergossi, que trabalhava em um trio-elétrico, vítimas da violência mostrada em imagens difundidas pela televisão, tisnam a lenda de imaculada e santa difundida em torno da Micareta desta cidade, que de santidade não tem nada, mas levanta questões, que vêm preocupando a nossa gente e fortalecendo os criminosos, a da autoria dos delitos e a da utilidade das câmaras de segurança, para as quais andam cantando hinos de louvor e quase altares levantando. Há algo de estranho em tudo isto.
É claro que não pode haver um policial a cada esquina, verdade proclamada desde o dilúvio, de maneira que a vigilância eletrônica apareceu como salvação, porque câmaras não dormem, não comem, nem bebem, não tiram férias, não perdem tempo no sanitário e não namoram. As notícias sobre as maravilhas da vigilância eletrônica correm mundo. Apontam-se cidades, como Londres, em que a atuação de tais máquinas é tão eficiente, que não há flato sem que a polícia deixe de tomar conhecimento, trabalho agora aperfeiçoado e ampliado visando aos Jogos Olímpicos, que na capital britânica serão realizados a partir de julho do corrente e muito pouco pacífico ano.
Desde que inventada a vigilância eletrônica, a princípio como porteiro, utilíssimo instrumento para se saber quem estava à porta, se chato, cobrador ou apontador da luz, ganhou mundo porque era novidade e dava a impressão de um certo refinamento e classe. Daí que passou para o comércio, onde os furtos são inevitáveis, e para as ruas, como instrumento de grande utilidade para gravar, em vídeo, fisionomias e “aplomb” de criminosos, que seriam identificados e receberiam inevitável e infalível punição conforme as respeitáveis leis deste também respeitável e grande país.
Dos particulares as câmeras de segurança migraram para o poder público, que nelas encontrou meio seguro e firme de amparar a indústria, ajudar os serviços de segurança pública, modernizar o visual de ruas e praças e defender a natureza, instalando poleiros elegantes, inovadores e progressistas para as aves silvestres e vadias, tão maltratadas, ultimamente, pelos avanços da civilização.
Tão grande tem sido a aceitação das câmaras nas vias públicas, tanto entusiasmo despertam nos administradores do erário, que uma cidade do Paraná, Ivaí, de pouco mais de quatro mil habitantes e criminalidade quase tocando o zero, resolveu instalar, também, as suas, naturalmente com grande entusiasmo popular e aplausos dos abandonados urubus, que encontram, finalmente, amparo dos poderes públicos. Ainda que em Ivaí houvesse simulacro de aeroporto, aves gostam de pouso nas alturas de onde possam testemunhar os estragos que a raça humana faz no Planeta que herdou sem pagar imposto de transmissão.
Pouco bastou para que o sucesso das câmaras de vigilância surgisse, na segurança pública, como a solução definitiva de todos os problemas policiais. Haja dinheiro, haja secretários faladores, haja câmaras e haja postes. Tudo estaria resolvido. Mas, diz a sabedoria popular, usa chapéu quem tem cabeça. Câmara não é polícia. No máximo é instrumento (às vezes útil), dos serviços policiais. Não havendo pessoal tecnicamente habilitado e interessado, ganhando suficientemente, a câmara não passa de simples motivo para dar sumiço ao dinheiro do contribuinte sem nenhum resultado prático como certos telefones da polícia. Analisar e interpretar imagens, como já se fazia na Inglaterra desde os tempos da Segunda Guerra Mundial, com as fotos aéreas, nem sempre é trabalho para palpiteiros e amadores de passagem. É tarefa para pessoal treinado e bem remunerados. Sem eles, sem o suporte técnico necessário, as câmaras não passam de enfeites carnavalescos e caros. Outro bumba-meu-boi.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
Quando estavamos no CIRETRAN, colocamos câmara na sala de exame, foi muito eficiente. Atualmente desativada por falta de pessoal técnico.
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