O Papa Clemente VII - é o que dizem – ao responder pedido de Henrique VIII, que desejava a anulação de seu casamento com Ana Bolena, utilizou velha fórmula bíblica (non possumus) que teria sido usada pelos apóstolos Pedro e Paulo. A luta pelo poder entre a autoridade eclesiástica e a do soberano, já instalada na Europa continental, cresceu e terminou resultando, na Velha Albion, em que o rei assumiu a posição de único e supremo chefe da Igreja da Inglaterra, com a extinção do poder do Papa nos territórios ingleses, na dissolução dos mosteiros, de cujos bens o Estado se apropriou, em mudanças do culto e no ensino da doutrina em língua inglesa.
Era a velha luta pelo poder, sobre o qual pensadores de toda casta se têm manifestado, no decorrer das eras. Uns o consideram uma “peste desoladora”, caminho certo da degenerescência e da corrupção do ser humano e outros a exaltam como virtude que daria sustentação à existência da divindade. Nos humanos, se exercido com sabedoria e discrição, seria o caminho mais fácil para a felicidade e a salvação da alma
O poder, esse instigante mas sempre presente fenômeno, verificado até no mundo animal, onde existem os chefes de matilhas, o boi guia de carros ou de boiadas e os chamados lideres das famílias de macacos e outras raças (os machos dominantes, que conquistam a liderança em disputas às vezes sangrentas), sempre existiu no mundo. Entre os humanos, entretanto, o poder assumiu formas sofisticadas, com tinturas de crueldade, como a ensinar que todos os caminhos e recursos são válidos para conquista-lo, mantê-lo e impor, aos demais, sua autoridade e magnificência, assumindo rótulos diversos, os “ismos” que têm sido inventados em todos os campos da trajetória da humanidade. Paralelamente ao poder está a liderança, sua irmã gêmea. Ambos têm transformado o mundo, impondo crenças, doutrinas e maneiras de viver e de pensar, algumas das quais resultaram em gigantescas hecatombes.
Um dos mais importantes líderes da humanidade, Moisés, usou de todos os recursos que lhe eram possíveis para consolidar o poder, que havia conquistado, sem excluir a destruição dos adversários. Hoje, quando vemos, na política, as tentativas de julgamento de pessoas envolvidas em fatos passados e em parte esquecidos, sabemos que tudo é fruto do desejo de extermínio dos opositores, na certeza de que na luta política inimigos derrotados podem ser perigosos com o passar do tempo. A crença reinante e posta em prática em governos movidos por alguns dos “ismos” de nosso tempo, a de que o poder necessita da crueldade, está tão viva quanto perigosa. Há políticos que não se apropriam de todos os bens do povo, não cortam cabeças e não mandam adversários para campos de trabalho ou para construir ferrovias em alguma Sibéria, das muitas que existem, porque ainda não podem. Tentarão, em breve.
Ora, depois de produzir grandiosa obra, tudo em monumentais promessas, nas quais não falta quem acredite piamente, depois de fazer milagres na educação, que toca os limites do perfeito, na saúde (ninguém deixa de ser atendido com presteza e eficiência nos hospitais públicos) e na segurança, com o desaparecimento dos ladrões e outros malfeitores, o governo resolveu fazer chover. É o estágio mais avançado do poder, aquele em que o governante se transforma em mandachuva. Assim, o Estado, segundo o noticiário, estaria contratando firma do sul do país especializada em fazer chuvas artificiais, para combater os efeitos da seca. O sistema, meio desmoralizado, não é coisa nova. Pode até fazer chuva, em quantidade limitada, em pequenos espaços, a depender de condições especiais mas não vai resolver coisa alguma. Tem, entretanto, inegável mérito: fez lembrar o sabidório gato Mandachuva de desenhos animados da televisão.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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