Vereador com assento à Câmara local, inteligente e astuto,
percebendo o alcance eleitoral de tal bobagem, não perdeu tempo. Clonou o projeto e o ofereceu à consideração
de seus pares, com entusiástica aprovação de público e crítica.
No projeto da deputada, entretanto, faltou a sanção. Dele
poderia constar, por exemplo, que o prefeito infrator seria enforcado em praça
pública ao som de bandas de pagode, porque tudo mundo sabe: lei que proíbe
qualquer ação ou omissão, destituída de pena, é tão inócua quanto passeio à
beira mar no Tomba ou no Alto do Papagaio.
No caso local a afamada lei seria mais do que desnecessária,
apenas simples florão eleitoreiro, porque há lei estadual no mesmo sentido,
salvo se a pretendida e tantas vezes ensaiada proclamação da
independência de Feira de Santana será coisa
dos próximos dias, quando, à beira do Rio do Jacuipe, alguém poderá aparecer,
montado em jegue, pistola ponto quarenta em punho, para proclamar a nossa
independência ou morte. Sentimos não existam mais pintores como Pedro Américo
para eternizar, em quadro, o belo momento histórico. Os existentes poderão
pintar tamanha confusão moderna, que ninguém
jamais saberá que diabos, no final das contas, seria aquilo.
Não faltariam aplausos, entretanto, como de praxe.
Há outro entrave. O
prefeito disposto a obedecer, cegamente, os ditames da “novidade” legislativa, baseado
em Ruy Barbosa, que proclamou que fora da lei não há salvação, vai ser obrigado
a criar órgão de censura, composto de chefe ou secretário censor-mor e de
variados auxiliares, entendidos em ofensas morais contra a mulher, no sentido
de gênero ou sexo, já que individualmente trata do assunto o Código Penal, que
poderão ser recrutados entre os indiciados pelas delegacias da mulher.
A Bahia está cheia de prefeitos com tremendos problemas a
resolver. O dinheiro é pouco, a seca, avassaladora; os negócios minguam, os
prejuízos crescem e o erário emagrece. Como pagar aos censores e às bandas de cantoras que têm mais pernas do que voz, mas
cuja presença o povo exige nas chamadas festa populares, se a época, apesar da
prosperidade falsamente apregoada pelo governo federal, é de restrição de gastos?
O povo está a adorar bezerros de barro, como nas passeatas
pela descriminalização da maconha. Até parece que o anuncio do fim do mundo é
verdadeiro e todos querem aproveitar os últimos dias.
A seca há alguns meses se instalou, mas as providências de
socorro às vítimas ainda estão em importantes reuniões de pessoas importantes,
que dão importantes entrevistas à imprensa e nas notícias de verbas e mais
verbas que ainda estão a caminho.
É como se vivêssemos em país da mentira, periclitante, cuja
salvação estivesse, apenas, em sujeitos como o Carlinhos Cachoeira, que em
breve deixará a cadeia para cuidar, pessoalmente, de seus amplos, patrióticos e
envolventes negócios.
Queira Deus não saia da prisão, triunfalmente, nos braços do
povo, para ser conduzido aos mais altos cargos da República.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi
aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para
o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia
semanalmente a matéria produzida
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