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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A FACULDADE AZIAGA DA MEMÓRIA

A memória, que já foi definida como “tesoureira e guarda de tudo o que se lê, vê e ouve” e tem sido, no decorrer dos tempos, objeto de pesquisa, curiosidade e investigação de toda gama de estudiosos, já foi havida por graça quase divina porque “faz do passado, presente”. 
Talvez, por isto, de duas coisas tem cuidado a humanidade: preservar a juventude e a memória, ambas intimamente ligadas, embora da primeira cuidem mais as mulheres, que sentem o passar do tempo, com suas naturais transformações e achaques, como decadência e perda da beleza. O medo imemorial e às vezes aterrorizante, o do fim dos brilhos, dos sucessos, dos triunfos, visceral, que provoca o pavor dos sofrimentos e da aproximação da trágica figura do coveiro, “este ladrão comum, que arrasta a gente para o cemitério”, como disse o poeta Augusto dos Anjos, embora nos leve para vida nova e folgazã, conforme ensinam as religiões, tem criado fatos não destituídos de interesse, que revelam mais a tendência  vigarista da espécie humana, presente em muita coisa julgada séria, do que para verdades  que possam resultar em algo de útil para os viventes, como aconteceu com as fontes da Beócia, uma cuja água, bebida, restituía e aumentava a capacidade da memória e, outra, perigosa, que além de suprimir a memória, tirava, também, o juízo, tal  como faz o crack, atualmente, com os seus usuários.
A história está prenhe de lendas em torno de fontes da juventude. O espanhol conhecido por Ponce de Leon, companheiro de Cristovão Colombo, teria andado, na Flórida, em busca de fonte da juventude, que ninguém sabe se encontrou. Certo é que foi encontrado por flechas dos donos da terra, que deram cabo de suas pesquisas.
Alguém já disse que “a memória é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos”.  É, realmente, para os que se dedicam aos estudos da sociedade como organismo de que não podem ser excluídos os elementos havidos por menos importantes, sem os quais a história não passaria de insossa coleção de vidas e feitos tidos por notáveis, baseados em documentos oficiais geralmente mentirosos.
Alguns, neste país, se têm dedicado ao memorialismo de que são exemplos Melo Morais Filho, Luiz Edmundo e o baiano Afrânio Peixoto. A História da Bahia, entretanto, não seria completa sem os trabalhos de Manoel Querino.  Santamarense, preto, pobre, órfão desde a infância, importante voz na defesa dos trabalhadores e dos escravos, professor, um dos fundadores do Liceu de Artes e Ofícios, do Instituto Histórico e autor de vasta obra sobre as artes na Bahia, de seu trabalho mais conhecido, “A Bahia de Outrora”, é o episódio do Colatino das Buchas, velho funileiro do Maciel de Baixo, Salvador, que lá um dia resolveu, para comemorar batizado de filho, oferecer jantar aos amigos, como de costume na época.
O dinheiro era magro. Comprou o necessário mas, meteu-se-lhe na cabeça a ideia de ter, à mesa, um queijo flamengo. No armazém verificou que o preço  do petisco era proibitivo. Quase adoeceu, sonhando com o queijo, até que encontrou solução salvadora. Propôs, ao comerciante, alugar o desejado queijo. Pelo aluguel pagaria quinhentos réis, com a promessa de ressarcir qualquer dano que a iguaria viesse a sofrer.
O jantar transcorria normalmente quando o consumo do “Figueira”, de duzentos réis a garrafa, levou um dos convidados a perceber o queijo, que passou a cortar como se fosse melancia, levando o dono da casa a gritar, desesperado: “pelo amor de Deus não façam isso, que o queijo é de figura!” provocando gargalhadas e galhofas.
A memória não é a faculdade aziaga do melancólico poeta paraibano. É lição de vida. Não é conveniente dar banquete com queijo alugado!
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida


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