Esteve nesta cidade, recentemente, o senador Valter Pinheiro. Veio participar de festiva reunião de partido para a indicação de pré-candidato à Prefeitura, desnecessária porque dúvidas não havia de seus resultados práticos nos meios políticos e entre as massas ignaras, os otários pagadores de impostos, mas destinada, principalmente, a servir de instrumento de vingança da rasteira que o ungido levou nas anteriores eleições municipais e que lhe valeram decepções, desconfianças e suspeitas a respeito do alinhamento de velhos e novos companheiros. Embora a vingança, prato mais gostoso quando frio, segundo o vulgo, exaltada, nas Escrituras, como prerrogativa divina, conforme o padre Vieira (Sermão do Rosário, XXV), seja geralmente repudiada pela moral cristã, no caso de Feira de Santana não gozaria da repercussão de que gozou não fosse a presença de Valter Pinheiro, que fala com facilidade e promete, com grande desembaraço, o que não pode cumprir, com o que talvez pretenda afastar, do Senado, afama de onerosa inutilidade em que é havido, quebrada, apenas, pelas notícias malcheirosas que de vez em quando estão a emanar de seus porões.
O Senado, abrigo de tantos e brilhantes talentos desde os tempos do Império, ultimamente lembra embolada de Jararaca e Ratinho: “É o sapo e o saco/ o saco com o sapo dentro/ o sapo fazendo papo/ e o papo fazendo vento”. (Qualquer semelhança é mera coincidência.)
Muito mais importantes e mais graves do que a reunião política do fim de semana, pelo menos na repercussão pública, entretanto, foram as declarações do secretário, Nivaldo Vieira, ao delatar pedido do prefeito, a vereadores, em favor de determinado candidato a procurador-chefe do Município. Pode não ter sido. Mas, se foi inconfidência,poderá se transformar em caso semelhante ao da Inconfidência Mineira, destinado a brilhar nas páginas da História e produzir vasta literatura, denúncias, processos, interpretações, heroísmos, mártires, slogans, execuções atrozes e comoventes, dignas de figurar no altar do Município e marcar, definitivamente, esta cidade com o título de heroica e vanguardeira da Liberdade.
Dilson Barbosa e Zadir Marques Porto apresentaram, faz pouco tempo, em programa radiofônico, dupla de emboladores que faz sucesso no nordeste. A embolada é espécie de desafio em que entram pandeiro e ganzá e os cantores vão desfiando rimas quase sempre de improviso “com a rapidez de um raio”, no dizer de Euricledes Formiga.
A dupla Jota e Jotinha, pelo raciocínio extremamente rápido e pela incrível facilidade de usar palavras e rimas, lembrou o senador Pinheiro na entrevista que concedeu à Rádio Sociedade. Ouvindo o versátil senador, em sua fala fluente e imaginosa, boa parte da população feirense pode enxergar a BR-324 em pouco tempo modernizada, com o tráfego fluindo livre, em segurança, verdadeira “autoban” a ligar Feira a Salvador. Viu, também, Feira de Santana com centro de convenções modelar e quase teve condições de sentir seus espetaculares gramados, estacionamentos, toldos para abrigar todo tipo de espetáculos e, no teatro, equipamentos cênicos de última geração. A conclusão do centro de convenções é obra que o governo de Estado sempre repudiou sob as mais ridículas desculpas. A maravilhosa antevisão, entretanto, não ficou por aí. Deu, ao povo, aeroporto movimentado e ativo. Pessoas chegaram a ouvir o ronco dos jatos pousando e levantando, dia e noite, e sentira azafama dos funcionários cuidando, sem parar, de contínuos embarques e desembarques, o que nos leva a pensar que Valter Pinheiro, se tem vocação para a política, sua tendência maior é para a ficção, para a novela, para o romance fantástico, para a embolada.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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