Estamos liquidados. Depois de mais de cento e dois anos de existência, em que enfrentamos todo tipo de dificuldades, temos de reconhecer que corremos iminente risco de inglório desaparecimento. A ameaça não decorre da idade avançada, rara no ramo do jornalismo interiorano, nem de eventuais e naturais achaques, próprios da velhice, que entretanto não nos têm deixado indefesos, caquéticos ou paralíticos.
A Folha do Norte, nascida na quadra heroica do começo de século XX, quando esta cidade não passava de doce esperança, tem sobrevivido, bravamente, a toda sorte de ataques, crises, desafios e provações sem jamais perder a pugnacidade posta à prova em muitas e duras lutas.
Sobrevivemos a incêndio, que nos devorou as instalações, atribuído a partidários do Cel. Abdon Abreu, que julgamos incapaz de tal covardia. Abdon foi Intendente Municipal, lutou na Guerra do Paraguai e formou, nesta cidade, Batalhão Patriótico para combater os jagunços liderados por Antonio Conselheiro. Diziam que o Batalhão de Abdon não passou de Queimadas e se dispersou na caatinga ao primeiro cheiro de pólvora queimada. Alguns de seus componentes teriam reaparecido, em Feira, famintos, quase nus. Haviam corrido da zona de guerra até esta cidade. Livraram-se da farda para evitar a certeira pontaria da jagunçada.
Já enfrentamos prefeito, que criou diário para nos destruir, pobre hebdomadário sem muitos recursos. Os fatos destruíram o prefeito. Pomposo chefe político, tempos depois, colocou em circulação outro diário com o mesmo desiderato. Fracassaram por motivo simples. Ambos tinham jornal mas não tinham jornalistas, pessoas que entendessem a verdadeira missão de um órgão de imprensa.Contavam, apenas, com os serviços de aproveitadores irresponsáveis.
A tudo isso tem sobrevivido a “Folha do Norte” e a todos os tropeços de quem enfrenta tarefas de enorme responsabilidade, despesas e pouco ou nenhum ganho.
A ameaça, agora, é quase invencível. Lutamos contra ladrões, a classe que ameaça dominar inteiramente o país. Certa vez sofremos série de arrombamentos. Eram adolescentes (hoje terão idade para ocupar ministérios), que terminaram detidos pela polícia, mas chegaram a derrubar muros, arrombar paredes e nos furtar um cofre. Voltamos, novamente, a ser alvo de ladrões. Os arrombamentos na “Folha” se sucedem e se multiplicam. Ladrões já nos levaram dois laptops. Na última oportunidade arrebentaram portas, mesas e gavetas. Nada acharam para furtar a não ser quarenta reais, que devem dar, apenas, para alguns “bagulhos” de maconha (da boa), ou quatro míseras pedras de crack. Mas causaram grandes prejuízos.
Há quadrilha que tem sede na Praça João Barbosa. Ali se reúne, planeja os ataques, consome drogas e está pondo em polvorosa toda a vizinhança, que tem recorrido a vigias, cercas elétricas e empresas de segurança. Tudo em vão.
Corre, agora, a esperançosa notícia de que secretaria municipal instalou setenta câmaras de vídeo das quatrocentas que vai espalhar pela cidade para a proteção do povo. Não sabemos se tocaram hino e hastearam bandeira, como no Rio de Janeiro, na comédia de morro protagonizada pelo governo daquele Estado vastamente apoiada pela televisão. Mas, ninguém duvide, com a genial e onerosa novidade, que já foi tentada, mas fracassou, é possível colher ótimas fotos de bandidos embuçados ou acobertados pela escuridão da noite, que podem ser usadas em concorridas exposições artísticas e reforçar os movimentos culturais da cidade. Já é alguma coisa.
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