A política do governo federal de mercantilização da educação está em Expansão. O governo investe cada dia mais na quantidade e no na qualidade do ensino superior. As universidades são pressionadas a focar as exigências do mercado em detrimento das necessidades da maioria da sociedade. Diante desse preoocupante cenário, o Jornal da Adufs entrevistou alguns docentes sobre as consequências desta política para a universidade pública.
Ludmila O. H. Cavalcante (Doutora em Educação) DEDU |
Esta pergunta nos remete à teoria do capital humano de Theodore Shultz, que teve um grande impacto na área educacional no Brasil nos anos 70, responsável por um referencial tecnicista que até os dias atuais influencia nossa profissão. A universidade revive esse momento de busca da “qualidade total”, na corrida para corresponder às (nada sutis), exigências do mercado. Estas exigências não afetam somente o ensino, mas também a relação com a pesquisa e extensão. Nós professores universitários, entramos quase que de forma automática, em um ritimo de correspondência ao mercado, deixando para trás o que realmente importa no processo universitário: a formação dos sujeito’- no diálogo com a construção de conhecimento. Estamos pulverizando nossas ações docentes e perdendo o foco da função social da universidade, os pressupostos teóricos, metodológicos, políticos e filosóficos, que concebem o fazer universidade. De forma correspondente, os estudantes também atribuem a esse processo formativo uns ritmo de mercado de trabalho, fazer universidade passa a ser uma tarefa ponte, para o tal emprego bem sucedido, Daí deflagra-se um processo de mecanização da vida aeadêmïca (da produção de conhecimento à sua socialização). Você termina adequando todo o processo formativo a uma expectativa de empregabilidade não a urna expectativa emancipatória do que pode ser a relação educação e trabalho. Porque trabalho é inerente a vida social, à historicidade da sociedade. Mas a como nos é imputado, ficamos sujeitos à urgência da “qualidade total no trabalho” tendo em vista as expectativas do mercado, da sociedade de consumo que o abriga e do desenho de universidade que o agrada. E assim, podemos dizer que corremos o risco de esquecer os motivos que nos move para estarmos aqui na universidade pública com tempo/ritmo próprio, dinâmica própria e função social específica. Neste cenário, o desafio é encontrar um equilíbrio debate da “qualidade”.
Ruberto Bittencourt (Doutorando em Ciência da Computação) — DEXA
Depende. Se estas inovações do mercado vão trazer soluções para problemas reais da população brasileira, pode ser bom. Uma inovação pode ainda trazer desenvolvimento económico e social toda uma região, melhorando indiretamente a sua qualidade de vida. Por outro lado, priorizar exigências do mercado pode ser negativo ao reduzir a autonomia e a liberdade de ensinar e pesquisar dos académicos. Preservar esta liberdade é essencial. Para dar uni exemplo, na área de tecnologia de informação, que é a minha área de atuação, nós nos preocupamos muito mais em ensinar os conceitos e fenômenos fundamentais da computação, e até mesmo a que os estudantes aprendam por si sós, do que derramar conteúdos sobre tecnologias do momento adotadas por grandes empresas. Tecnologias essas que podem perecer em poucos anos.
Eduardo Ramos (PHD em Economia Rural e Desenvolvimento Econômico) — DCIS
Numa sociedade capitalista o mercado segue a lógica da busca do lucro. Portanto a Universidade está inserida no arcabouço do Estado e submetida ao comando dos Governos que operacionalizam, garantindo o primado do interesse do capital. Entretanto, para quem assume a ideologia socialista, a Universidade é vista como a espinha dorsal de processos da transformação da sociedade capitalista numa sociedade socialista. Dentro do marco de sociedade capitalista a autonomia universitária é condição “sine quanon” para que a universidade consiga contribuir significativamente para um constructo socialista. Por outro lado ou contrariamente, se a Universidade priorizar indiscriminadamente as exigências do mercado na formulação de políticas referentes à inovação, ensino. pesquisa, e/ou extensão, estará subscrevendo o receituário de cunho essencialmente capitalista, que tem desaguado paulatinamente na crise econômica global que hoje ameaça nos sufocar.
Fonte: Jornal da ADUFS - ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UEFS
Esta matéria foi publicada na edição de setembro de 2011, com nove entrevistados. Escolhemos três de áreas diferentes sendo que a 1ª, Ludmila, é Santanopolitana.
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