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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

LEMBRANÇAS DO CINE TEATRO SANTANA

DIMAS OLIVEIRA
Jornalista, especializado em Cinema.
Escreve desde 1967. Lançou em 2014 o
livro "cinema demais ou era uma dezenas
de filmes comentados e a situação do cinema
em feira de santana".


“Cine-Teatro Santana, que me faz sonhar, outrora com bandidos roubando a minha coleção de selos e com certa lourinha mordendo-me a ponta do nariz!” (Eurico Alves Boaventura)
Reparem no cartaz no lado
esquerdo do poste com lampião
anunciando o filme
Há 96 anos, em 24 de maio de 1919, a inauguração do Cine-Teatro Santana, a partir da fusão do Cinema da Vitória e o Teatro Santana, que existiam no século XIX. O espaço passou a ser utilizado tanto para as exibições de filmes, quanto para os espetáculos teatrais, musicais e literários. Era situado na antiga Rua Direita, atual Rua Conselheiro Franco, em área pertencente à Santa Casa de Misericórdia. O espaço era considerado um instrumento de difusão dos ideais de civilidade e modernização.
Quando cheguei a Feira de Santana, no início dos anos 50, a sala não mais existia. Assim, nunca assisti a um filme no local. Ainda criança e adolescente sempre passava em frente da fachada preservada do prédio. Depois, foi derrubado para servir de estacionamento.
O que sei sobre o Cine-Teatro Santana foi contado pelo meu pai, Carlos Simões de Oliveira, “habituê” do espaço, de quem herdei o gosto pelo cinema. Eliziário Santana, seu confrade no charadismo, então era o proprietário do Cinema Santana[1].
Também sei através do historiador Antônio Moreira Ferreira, conhecido como Antônio do Lajedinho, que conta sobre o Cinema:
“(...) Tendo na frente uma porta larga que servia de entrada para a sala de espera, mais duas portas de frente, para saída, e duas bilheterias entre as portas. Ainda na frente existiam três janelas na parte alta, no mezanino[2], que, com advento do cinema, foram fechadas as laterais e transformadas em seteiras. A central onde foi instalada máquina de projeção. (...) A parte interna era mobiliada com cadeiras, tendo uma divisão na parte próxima do palco.”
Quanto às exibições de filmes e séries, foram apresentados aqueles que tinham a participação de atores renomados no período, como Buck Jones, Buster Keaton, Charles Chaplin, Douglas Fairbanks Jr., Rodolfo Valentino, Tom Mix, entre outros. Filmes como “Tarzan, O Homem Macaco”, de Scot Sidney, 1919, com Elmo Lincoln; “O Garoto”, de e com Charles Chaplin, 1921; “O Filho do Sheik”, de George Fitzmaurice, 1926, com Rodolfo Valentino e Vilma Banky; “A General”, de e com Buster Keaton, 1926; “Cavalheiro Amador”, de Thornton Freeland, 1936, com Douglas Fairbanks Jr. e Elissa Landi; ‘Flash Gordon”, de Frederick Stephani, 1936, com Buster Crabbe e Jean Rogers; “As Aventuras de Sherlock Holmes”, de Alfred L. Werker, 1939, com Basil Rathbone e Nigel Bruce e muitos outros.
Os espetáculos musicais ficavam a cargo das filarmônicas locais -
 Euterpe Feirense, 25 de Março e Vitória que faziam saraus, além de cantores de fora que animavam as noites das elites feirenses com diversos ritmos[3]. A poetisa e musicista Georgina Erismann, criadora do Hino à Feira, por várias vezes se apresentou no espaço. Em 1919, quando da passagem do Circo Belga pela cidade, foi realizada uma exibição da trupe belga LebAlberts e “seus cães sábios”.
Nas apresentações teatrais, destaque para o Grupo Dramático Taborda, o Grêmio Lítero-Dramático Rio Branco e as apresentações de cunho religioso, organizadas por grupos como o núcleo das Noelistas.
Além de um espaço de cultura e lazer, o Cine-Teatro Santana foi palco de grandes eventos políticos, como a conferência de Rui Barbosa, quando de sua visita a Feira de Santana, em 25 de dezembro dc 1919. Foi quando ele denominou Feira de Santana de “Princesa do Sertão”.
Eurico Alves Boaventura no poema “Cinema” (trecho no início deste texto) destaca que o cinema era um espaço para se sonhar. Antônio do Lajedinho diz mais que a plateia se entusiasmava com as exibições dos filmes: “a rapaziada fazia questão de ocupar as gerais, porque ah todos aplaudiam batendo o acento da cadeira e gritando a cada castigo que o mocinho aplicava no bandido.”
Ao piano, Anita Novais ou Alcina Dantas executava ritmos compatíveis com as cenas exibidas. As de amor eram acompanhadas com valsas. As de pancadaria, com foxtrote.
Durante 30 anos, até o final da década de 40, 0 Cinema Santana funcionou sem concorrentes.

Transcrito da revista "História e Estórias dos Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos).
Edição Especial do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana - 2015 p. 64, 65 




[1] Notas do Blog: Conheci o Cine Santana no seu estertor, lembro do gerente “Seu Vadu”, criança ia pedir pedaços de filmes que usávamos em projetores por nós construídos, com lâmpadas cheias d’água que servia de lente, então projetávamos a película em um lençol branco. Em minha casa tinha um salão enorme, juntava um mundo de meninos para assistir o “filme”.
[2] O cine Santana não tinha sanitários, usava-se o beco para fazer xixi. Conta a lenda que garotos fizeram xixi no mezanino, caindo na cabeça da família do delegado, amigos foram correndo avisar aos “moleques”, o desastre, eles trocaram de lugares. Quando interrompendo a projeção, o “bafafá” estava armado, ficando difícil a identificação dos “vagabundos”.
[3] Assisti Miraci Santana, feirense, imitando cantor brasileiro, Bob Nelson, na época era o máximo, por sua vez fazia músicas rurais americanas, principalmente em filmes de Cowboys.

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