Evandro J.S. Oliveira |
A Doutora Sandra Nívea, em sua tese de doutorado sobre o
Colégio Santanópolis, registrou uma dissidência entre alunos quanto à
comemoração da formatura no Feira Tênis Clube, em 1950, publicamos no Blog no
dia 21 deste mês (ler abaixo). Mas não encontrou as razões alegadas pelo
formando Wilson, só o seu desligamento da festa, resolvi discorrer sobre o
motivo de tal revolta.
Em janeiro de 1947 houve um acontecimento inicialmente sem
muita relevância, que no entanto se transformou em sério conflito, envolvendo
pessoas da sociedade, importantes políticos locais: Antônio Oliveira Mattos
(Tide Mattos), Álvaro Barbosa, Hugo Schimdt e os irmãos Welington Cerqueira
Carneiro (Etinho), Wilson Cerqueira Carneiro (Issinho) e Waldomiro Cerqueira
Carneiro (Mirinho).
O episódio aconteceu na Praça Bernardino Bahia, Álvaro
acompanhado de Etinho, vinha tarde da noite do Clube 25 de Março, quando viu
Tide Matos dando uma surra em Hugo, Tide era um atleta professor de Educação
Física, Álvaro tentou apartar mas Tide não obedeceu, então Álvaro sacou o
revólver e obrigando cessar a luta. Tide ficou furioso ameaçando Álvaro pela
intervenção. Álvaro e Tide eram amigos, brigões e famosos atiradores, só
andavam armados.
Tide Mattos |
Cessado o conflito, Hugo foi para casa, era bem perto na Av.
Senhor dos Passos, Tide morava onde hoje é a casa comercial “Esquina”, defronte
do Tênis, Álvaro na mesma rua mais abaixo. Os três foram andando na mesma
direção, Tide na frente, Álvaro e Etinho atrás, nas imediações de cine “Iris”, Tide
volveu o corpo com arma em punho atirando duas vezes em Álvaro, atingindo de
raspão no braço esquerdo e no coração, Álvaro ainda conseguiu reagir
deflagrando um tiro a esmo. A felicidade de Álvaro foi o tiro endereçado ao
coração atingir uma cigarreira de metal, que se usava na época para guardar
cigarros, desviando a bala – se não fumasse tinha morrido-.
O caso virou um conflito político entre os dois partidos
adversários, na época. Tide Mattos era PSD, foi até vereador, e Álvaro Barbosa
um Udenista ferrenho. Álvaro abriu
processo contra Tide e a UDN contratou o mais famoso advogado da Bahia, o mesmo
fez o PSD.
Antônio Oliveira Mattos foi condenado, mas conseguiu ir para
Recife onde tinha parentes, não sei como se deu esta parte, tenho conhecimento,
sem comprovação, que o Governador do Estado da Bahia de então Carlos Valadares,
feirense do PSD, teve alguma influência.
Mirinho |
Tide debitou a sua condenação a Welington Cerqueira
Carneiro, Etinho, arguindo ser ele funcionário da “Casa OK”, loja de
propriedade de Álvaro, ter distorcido os fatos, como tetemunha. Tide ainda ameaçou Etinho.
Martiniano Carneiro, tomou duas medidas fundamentais; a
primeira foi mandar Etinho para morar no Rio de Janeiro, trabalhar na Bloch
Editora, Etinho nunca mais voltou a morar em Feira de Santana, constituiu
família e faleceu lá no Rio. A outra medida fundamental, foi comprar caixas de
balas, pintar uma figura de homem no muro do fundo da residência e orientar os
outros três filhos mais velhos: Wilson, Waldomiro e Washington (Tonton), a
treinar tiro – este episódio final fui testemunha, tinha uns doze anos e lembro
Martiniano com aquela voz tonitruante teatralmente dizia “ali está Tide,
apontando para a figura desenhada, ele vira para vocês e acena olá, vocês bum,
bum, bum, atira até acabar as balas”.
Wilson (Issinho) |
Tide foi um dos idealizadores do Feira Tênis Clube, como
esportista construiu a primeira quadra de esportes do clube juntamente com Ideval Alves e Nilton
Falcão. Os três faziam parte da Diretoria do Clube em 1950, Nilton Presidente,
Ideval Tesoureiro e Tide Diretor de esportes, quando do episódio da formatura,
citada na matéria de Sandra Nívea, daí o motivo da revolta de Wilson com os
colegas, para não entrar nas dependências do Clube.
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