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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

AS LENDAS

Hugo Navarro da Silva

Segundo Luís da Câmara Cascudo a lenda apresenta quatro características, as mesmas do conto popular: antiguidade, persistência, anonimato e oralidade. A afirmação vem a pique do assunto que nos últimos dias tem merecido espaço na mídia local, o do lobisomem que deu de aparecer em bairro desta cidade, provocando sustos e correrias. Lobisomem é coisa antiga, que assumiu importância na Europa com o aparecimento de pessoas peludas como bichos (hipertricose), reforçada por malucos que acreditam poder transformar-se em lobo (licantropia). Muito antes do cinema assumir o tema, fazendo a fama de Lon Chaney Jr. e provocar calafrios nos frequentadores do “Cine Santana”, o lobisomem já estava nos sertões bahianos, de preferência onde havia faceiras de pais ou maridos descuidados. Nesta cidade, em certa época, lobisomem tinha pouso principal na Avenida do Senhor dos Passos, no antigo “Beco do Amor”, onde lâmpada do único poste ali existente nunca durava mais de vinte e quatro horas. Ingressou no ideário popular de tal sorte que não eram poucos os que davam testemunho de aterrorizantes encontros noturnos com o bicho, que frequenta até a literatura. Pobres diabos, opilados, mal nutridos, pálidos, sofriam sérias restrições, no interior da Bahia, sob a terrível suspeita de virar lobisomem e alguns moradores da Senhor dos Passos,  vistos como antipáticos ou posudos, recebiam o apelido de “lobisomem da  avenida”

A lenda é universal e ocupa lugar de destaque como criadora de mitos, desde a antiguidade, inventando histórias de santos, bichos, líderes, heróis e milagres. Dela saíram dragões, Robin Hood, os gansos de Capitólio, as proezas de Hércules, Rômulo e Remo, Guilherme Tell, o labirinto de Teseu, as sereias, o patriotismo de nossa Maria Quitéria de Jesus, a descoberta do Brasil e milhares de crenças, algumas maravilhosas, que nossa gente sertaneja e simples transformou no boto, da região amazônica, pai de muito menino em substituição aos íncubos da Idade Média com a vantagem de não encarnar o Diabo; da mula de padre, negrinho do pastoreio, mula-sem-cabeça e um sem número de outras fantasias que tiraram o sono de muita criança pelo interior brasileiro.

Lendas, milagres e mitos são perpétuas carências do povo, sempre necessitado de se agarrar a alguma crença, embora haja verdadeiros milagres acontecendo sob o nariz de todo mundo e ninguém vê. É o caso do participante de organização que veda, aos membros, o direito de propriedade mas, ao morrer, deixa aos parentes patrimônio de milhões em forma da velha malandragem da fundação.  É milagre substancial!

 No mundo moderno crescem de importância as lendas urbanas, em virtude das quais pessoas se preocuparam com jacarés nos esgotos de New York, as abduções por alienígenas, a mulher do cemitério ou do velório e o roubo de órgãos humanos por quadrilhas noturnas.

Feira não foge à regra.  Possui lendas urbanas. A principal, ultimamente, é a do aeroporto, que de fato a cidade nunca teve. Quando invadiram e lotearam o campo de aviação do Campo Limpo, certo governador, que montou morada em Jaíba, resolveu seus problemas de locomoção construindo, no Distrito, pista asfaltada perto de sua fazenda. A pista dispunha de alguns instrumentos de navegação aérea prontamente levados, pelo governo estadual, para Vitória da Conquista. Tentaram, na pista, empresa de taxis aéreos, que não vingou, escola de pilotagem, que não formou nenhum aviador e a manutenção de aero clube, que acabou fracassando. Restou o asfalto, cheio de azares, murcho de esperanças e carregado de fracassos. O barulho que se faz, entretanto, em torno de aeroporto que nunca existiu, transforma-o em verdadeira lenda urbana.

Queira Deus um dia se torne real e não apenas parte do mundo publicitário vazio e do palavreado tolo da lenda.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

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