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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A MORTE DO BURRO

As notícias da semana foram confortadoras para grande parte dos brasileiros, partidários do profº. Pangloss, que acreditam estamos vivendo no melhor dos mundos possível, porque não há outro. O ENEM, porta de entrada para as durezas da vida, mas fonte de esperanças para a juventude, mais uma vez mostra o verdadeiro caráter das coisas deste país. Transformou-se em feia encrenca, que promete se arrastar, provocando desalento e estresse entre a juventude que por acaso ainda acredita na seriedade das instituições brasileiras, causando estragos cujos limites não podem ser avaliados, mas ampliando a certeza, que toma conta da consciência nacional, de que o melhor caminho para o sucesso é o da desonestidade sem limites.
Prolongam-se, no caso do ENEM, as discussões e opiniões sobre quem nasceu primeiro, se a galinha ou o ovo, na certeza de que “até lá morre o burro”, frase que lembra o charlatão da fábula de La Fontaine, que recebeu dinheiro para transformar burro em orador no prazo de dez anos, sob pena de parar na forca, acreditando que em dez anos certamente todos estariam mortos: o burro, o rei ou ele próprio.
Mas, enquanto o ENEM ocupa manchetes, outra notícia deveria abalar as raízes da pátria: simples verificação dos motivos de atraso de processos no Ministério Público de São Paulo resultou, para assombro geral e grande surpresa de todos, na descoberta de desaparecimento de autos com “vista”, prejuízos em licitações e furto de computadores e veículos. Para simples demonstração de que “desgraça pouca é bobagem”, entretanto, relatório do Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU, coloca o Brasil no 84º. lugar, abaixo de Cuba, acima, apenas, dos mais miseráveis países dos mundo.
Nem tudo, entretanto, são espinhos, dificuldades e safadezas na falsa, mas intensa divulgação da prosperidade do povo brasileiro. Há notícias que enchem os olhos e inflam o ufanismo nacional. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, acaba de decidir, agora em caráter definitivo, pois o assunto levantava dúvidas, que dirigir bêbado é crime, o que significa flagrante, cadeia, processo, porque no entendimento de um dos ilustres Ministros, dirigir embriagado é o mesmo que portar arma de fogo.  O sujeito bêbado, ao volante, pratica crime de perigo abstrato, no que, aliás, está certo o Ministro. O crime, no Brasil, portanto, parece sujeito a certas leis naturais, como as que regulam o clima e o seu constante sobe e desce. Corrupção raramente resulta em cadeia, que doravante é certa em casos de cachaça automotiva, assim como a frialdade, que se abate sobre Feira de Santana, em pleno novembro, dificilmente pode explicar uma das principais bandeiras dos ecologistas, a de que o Planeta está esquentando, ameaça derreter calotas polares e forçar o velho mar, inspirador de tanta poesia pelo mundo afora, a destruir, em pouco tempo, todas as regiões costeiras, o que pode colocar Feira na desejada posição de cidade praieira com todas as vantagens da nova situação. Teme-se, somente, pelo destino do Distrito dos Humildes, geograficamente situado no Recôncavo, que pode desaparecer debaixo d’água.
Graças ao bom Deus, entretanto, não há, apenas, decepções. Estatística da Polícia, divulgada por Dilson Barbosa, mostra que a violência, na contra mão dos acontecimentos, vem diminuindo neste Município, nos últimos quatro meses. A notícia é comovente, mas provoca sérias preocupações. Minguando a criminalidade, como está, a polícia, que é pouca, tende a desaparecer, com suas delegacias, comandantes, entrevistas, cadeias superlotadas e rebeliões de internos.
A conclusão é inevitável: na charlatanice do nosso amado Brasil, só morre o burro do povo.
 
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida


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