Grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul acaba de divulgar lista de dinossauros, que teriam vivido no Brasil, com imagens e vídeos criados em computador. Os bichos não mostram significativas semelhanças com os pré-históricos descobertos em outras partes do mundo e povoam livros, filmes e vídeo-games, ingressando no imaginário popular como o temível Tiranossauro Rex. A descoberta, sensacional, pode transformar-se em mais um motivo de orgulho e euforia nacional, ao demonstrar que não precisamos de monstros importados para a nossa literatura infantil e comédias da televisão, criando a possibilidade do surgimento de mais um patriótico slogan, que possa motivar grandes movimentos político-partidários, “o monstro é nosso!”, a ilustrar, em futuro breve, bandeiras, discursos, entrevistas, muros vadios, cartazes, outdoors e programas eleitorais gratuitos da televisão.
É algo de tamanha importância social, que está a merecer furioso interesse de ministérios e ongs, devido às suas infinitas possibilidades de verbas e da criação de emprego e renda, porque vai demandar serviços de imensa gama de profissionais para dar corpo, forma, alma e movimentos aos recém-descobertos e até agora injustiçados habitantes do território brasileiro, nossos abandonados compatrícios, que muito acertadamente poderiam receber o tratamento de companheiros para ingressar na moderna linguagem política brasileira.
Não há, nos Estados Unidos, partido cujo símbolo é o elefante e, no Brasil, outro, que explora a imagem do tucano, bicho que faz barulho estridente e incômodo, sem outras ações de grande importância?
Nada impede, portanto, que partidos políticos (e há dúzias deles), adotem, como símbolo, monstruosidades patriótica e genuinamente brasileiras, para cujo desiderato poderiam usar imagens nacionalistas elaboradas no Rio Grande do Sul, amplamente divulgadas na mídia, e até, sem grande esforço, a figura de militantes partidários, que os há, provavelmente, capazes de representar os patrióticos mastodontes com imensas vantagens sobre reconstituições até certo ponto baseadas em medidas incorretas e hipóteses de difícil verificação.
A época em que os brasileiríssimos animais pervagaram pagos brasileiros pode ser calculada cientificamente. A datação pelo carbono, dizem, é quase infalível. Mas, se é possível calcular a idade de dinossauros, a pergunta surge, inevitavelmente, no espírito de todos: há meios para determinar quando surgiu, na Terra, a respeitável e crescente classe dos ladrões, usada, a palavra, no seu mais lato sentido, abrangendo dos ladrões de galinhas aos honoráveis ladrões do erário?
A questão ainda é desafiadora. Não há notícias, nem de universidades, nem de pesquisadores dispostos a esmiuçar o momentoso assunto em país que em breve, poderá enfrentar campanhas de âmbito nacional pela regulamentação do ofício de ladrão, com direito a aposentadoria, pensões e outras vantagens de lei, sob a alegação de que ninguém merece o fim de Gino Amleto Maneghetti, o “gato de telhado”, o maior ladrão popular de São Paulo, que deu a vida inteira ao árduo e perigoso trabalho do roubo, e morreu velho, abandonado pelo poder público e praticamente na miséria.
Há um certo respeito pelos ladrões de tostões ou de milhões, mas as reverências e defesas maiores dirigem-se aos que roubam os cofres públicos usando os partidos políticos ou sendo por eles usados.
Esse culto à ladroagem, que vem de longe (não esquecer o “bom ladrão”, o “hodie mecum eris in paradiso” e a casa de Zacheu, ladrão rico), poderia justificar o desinteresse do povo desta cidade para a “marcha contra a corrupção” do último dia quinze, ou foi o feriado arranjadamente prolongado?
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida
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