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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

MARIA FELIPA - 2ª parte, final.

EDUARDO KRUSCHEWKY 

MARIA FELIPA - 1ª parte

    
    As revoltas explodiam em diversos lugares, e, em 1821, no Arraial da Ponta da Baleia, hoje Itaparica, o cirurgião Luiz Gonzaga da Luz criou a Campanha da Independência, onde se alistou Maria Felipa. Integrada à luta, tempos depois, vamos encontrá-la, liderando 40 valentes mulheres, na Praia de Manguinhos, onde estava ancorada a Canhoneira Dez de Fevereiro. Era o dia Io de outubro de 1822. Este dia ficaria marcado por nele ter ocorrido o primeiro dos ataques nativos às 42 embarcações portuguesas. A líder, Maria, chamou duas das suas comandadas e ordenou que estas chegassem próximas dos vigias da canhoneira, os portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas, atraindo-os para uma armadilha. Esbanjando feminilidade as nativas seduziram os vigias, conduzindo-os para um local um pouco distante, com promessa de sexo fácil. Os homens, ao tirar as roupas, foram surpreendidos por um grupo de mulheres que os surraram com galhos da planta chamada cansanção, repletos de espinhos. Após acabar com a vigília dos invasores, as “vendetas” (era assim chamado o bando de mulheres liderado por Maria Felipa) tomaram o navio de surpresa, enquanto a maioria dos tripulantes dormia, e atearam fogo à embarcação.

    Depois do sucesso desta missão, as “vendetas”, lideradas por Maria Felipa, ganharam o respeito e a companhia de homens nativos, mulatos e índios. Unidos, partiram para a destruição das embarcações portuguesas, ancoradas nas imediações da ilha, que aguardavam a ordem para invadir Salvador e reprimir as ações pela independência baiana. Sorrateiramente, os guerrilheiros se aproximavam dos navios e os incendiavam, causando baixas significativas na marinha portuguesa. Incansável, Felipa estava sempre à frente do seu pequeno exército mambembe, sendo suas maiores armas o denodo e o desassombro. Conta-nos Xavier Marques em seu romance “O Sargento Pedro” que os homens estavam se preparando para enfrentar um ataque português cavando uma trincheira na praia, iluminados apenas por uma tocha em mãos de Maria quando um deles disse: Estou cavando a minha cova!” ao que, de pronto, a mulher respondeu: Cave, não para ser a sua cova, mas a dos portugueses...”

    Itaparica conseguiu resistir a quatro assaltos, um atrás do outro, graças à tenacidade e uma organização de guerrilha: quando os portugueses estavam chegando, eles mandavam sinais, se escondendo nas trincheiras cavadas na praia.

Capas de livros que contam sobre Maria Felipa
   As tropas portuguesas eram bem municiadas, preparadas para a guerra, ao contrário do itaparicano, o pescador, a marisqueira. Estes, além de não ter o preparo, não tinham a munição, e por isso usavam da inteligência. Quando uma nau era vista, eles entravam nas trincheiras e aguardavam que os portugueses desembarcassem, atacando, então, como podiam com machados, facas, “chuchos” e o formidável cansanção. Os lusitanos ficavam loucos, sem entender de onde vinha tanta bravura.

    Incansável, ajudando ao tenente João das Botas, Maria Felipa estava em todos os lugares à frente dos seus combatentes. Além dos feitos de batalha, ainda distribuía mantimentos tomados dos inimigos, enviando-os para cidades do Recôncavo, como Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, Amargosa, Nazaré, Salinas das Margaridas, Cruz das Almas e outras. Portando armas simples e galhos de cansanção, e incendiando navios com tochas feitas de palha de coco e chumbo, à falta de armas mais eficientes, tornou-se o povo itaparicano fundamental para a Independência da Bahia e do Brasil. O pequeno exército de moradores era formado por um grupo de mulheres e homens de diferentes etnias: brancos, negros, mulatos, índios, enfim todos os que quisessem resistir aos invasores. São muitos os feitos desta mulher e foram inúmeros os desafetos que acumulou por seu denodo e bravura.

   Diversas são as histórias que se contam sobre a participação dos ilhéus de Itaparica. São fatos que enchem de orgulho o povo nativo por seu papel na libertação brasileira do jugo português.

HISTÓRIAS E LENDAS

    Algumas delas: Uma imagem de Nossa Senhora da Piedade foi trazida para a ilha e depositada em um nicho na praia pelo Visconde do Rio Vermelho. Era Nossa Senhora da Piedade, a protetora dos pescadores, marisqueiras e de toda a população pobre da ilha. Estes a veneravam em todos os momentos: Antes de ir pescar, quando os filhos nasciam, na hora da morte, os nativos sempre pediam socorro à santa. Contam os mais entusiasmados, o que naturalmente se tomou uma lenda itaparicana: Nossa Senhora, em pessoa, lutou contra os portugueses em defesa do povo da Ilha. Alguns chegam a afirmar ter acontecido a intervenção divina no processo de Independência, porque no ano de 1823 viram uma mulher que, ao levantar os braços, fazia as balas de canhão cairem ao mar sem alcançar terra firme. “Os nativos juram que não sabiam de quem se tratava até que, ao fim do dia, deram-se conta de que o Oratório de Nossa Senhora da Piedade estava aberto e a imagem estava suja com a areia da praia”, afirma Augusto Albuquerque. Lendas ou não, quando o visconde morreu, seus descendentes quiseram retirar a imagem do nicho na pedra, onde se encontrava por gerações e gerações. Quando a polícia foi cumprir as ordens de sequestro da santa, Maria Felipa e suas seguidoras se postaram diante da imagem, impedindo isto e faltou coragem aos militares para tirar Nossa Senhora da Piedade do seu lugar. Aliás, a santa ainda está no altar da capela construída em honra da padroeira...

    Relatam ainda: ela, Maria Felipa, costumava remar sua canoa onde ficava sabendo das novidades sobre a guerra, levando as informações de volta à resistência em Itaparica. Quanto ao seu rosto desconhecido, numa tentativa de reconstitui-lo, a artística plástica Filomena Orge o fez a partir de memórias narradas, citações literárias e arqueologia.

  CONCLUSÃO

Maria Felipa por Filomena Orge
      O atestado de óbito de Maria Felipa é datado de 04 de janeiro de 1873,49 anos após o seu primeiro feito heroico: o incêndio da canhoneira Dez de Fevereiro, em 01.10.1822... Esquecida por todos e, de maneira especial, pelas autoridades, ela voltou à vida simples de catadora de mariscos, após a luta da Independência, até morrer. Assim, foi para o anonimato após todos os seus atos de heroísmo, a ponto de se pensar que ela havia falecido na guerra. Mas, a mulher simples, negra e pobre sobreviveu às batalhas e, tempos depois, teve uma filha, também chamada Maria Felipa, que era parteira e tornou-se avó de dona Zizi, a quem nos referimos no começo da narrativa. O ano exato e as circunstâncias do seu nascimento continuam um mistério. Ninguém sabe se foi uma negra alforriada, uma escrava ou se nasceu livre. Para o povo itaparicano ela nasceu, provavelmente, livre. Isto se supõe pelo fato de ter se oferecido como voluntária para espionar as tropas portuguesas e por sua atuação na resistência e luta pela liberdade da Pátria... De toda maneira, ela foi uma das grandes responsáveis pela Independência do Brasil na Bahia!

 Transcrito da Rev. IHGFS -E de Santana-N. 16                                                                                                                                                                                                                    


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