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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

SESSENTA ANOS DOS CAPUCHINHOS EM FEIRA DE SANTANA - I

JOÃO BATISTA CERQUEIRA

EUFROSINA DE AZEVEDO CERQUEIRA[1]

A PRESENÇA DOS RELIGIOSOS DE INSPIRAÇÃO FRANCISCANA NA CIDADE PRINCESA DO SERTÃO 

1. INTRODUÇÃO 

Governada pelo Prefeito Aguinaldo Soares Boaventura e com uma população de 107.205 habitantes, dos quais 26.578 residiam na sede do município, Feira de Santana era a mais progressista das cidades baianas quando, em 1951, recebeu a visita do frei Germano de Colli Del Tronto, também chamado Germano Citteroni, superior da Custódia da Ordem dos Frades Capuchinhos Menores na Bahia que, na ocasião, se fazia acompanhar dos freis Henrique de Áscoli e Teodoro de Serravale. O objetivo da visita dos religiosos franciscanos à cidade Princesa era avaliar a possível instalação de um Convento e Seminário, uma vez que, essa Ordem Religiosa recebera, naquele início de década, novos sacerdotes para a missão na Custódia dos estados da Bahia e Sergipe.

 

Fig. 1. Grupo em vistoria ao terreno em Feira de Santana. Da esquerda
para a direita, provavelmente: frei Germano de Colli, senhor Fraterno
Oliveira, frei Teodoro de Serravale  e frei Henrique de Áscoli.
    Na oportunidade, entre outras áreas vistoriadas, foi escolhido um terreno que ficava afastado por cerca de 3 km do centro urbano (Figura 1), situado à margem da nova rodovia que interligava Feira de Santana a Salvador, de propriedade do Sr. Fraterno Eliziário de Oliveira. As negociações foram iniciadas e a aquisição do terreno foi efetivada com a permissão de frei Estanislau de S. Severino, Reverendíssimo Provincial das Mareas. Devoto de Santo Antônio, Fraterno Oliveira ao concluir as negociações, em um gesto de despojamento e caridade cristã, fez a doação de outra área de terra, equivalente a um quarteirão, para que a Ordem Capuchinha pudesse construir todas as instalações físicas previstas no projeto.

        Após a aquisição do terreno, o superior frei Germano de Coli designou freis Graciano de Santo Elpídio, Isaías de Civitanova, Henrique de Áscoli e o irmão leigo Domenico para a mais nova missão no interior da Bahia. Assim, imbuídos no propósito de contribuir para evangelizar o povo de Deus, edificar um Templo em louvor ao Padroeiro Santo Antônio, construir um Convento e implantar um Seminário para formação de novos membros da Fraternidade, esses religiosos demandaram para Feira de Santana onde formaram a primeira Fraternidade da Ordem dos Frades Menores Capuchinha na cidade. 

        Recebidos fraternalmente em Feira de Santana os religiosos franciscanos fixaram residência em uma casa no bairro Ponto Central. Em seguida, nas proximidades da área adquirida pela Ordem capuchinha, aproveitando uma garagem da Chácara Deus Dará, de propriedade do Senhor Fraterno Oliveira (Figura 2), instalaram uma Capela (Figura 3) para acolhimento dos fiéis e realização das celebrações religiosas. Nesse imóvel, atualmente situado na Rua Brigadeiro Eduardo Gomes, funcionou o primeiro espaço litúrgico do novo bairro que, desde então, em homenagem aos religiosos, passou a ser denominado de bairro dos Capuchinhos. 

Fig. 2. Fraterno de Oliveira 

Fig. 3. Primeira Capela dos Capuchinos 

        



       Foi dessa forma que começou em Feira de Santana o grande sonho dos frades “capuchinhos”, assim denominados pelo uso da “batina com capuz” usada pelos religiosos da Ordem dos Frades Capuchinhos Menores. Foi do sonho, do compromisso e da fé desses pioneiros que se originou o mais arrojado projeto comunitário da cidade Princesa, atualmente constituído por um complexo Religioso, Educacional e de Comunicação Social, com uma vasta e significativa contribuição ao desenvolvimento religioso, comunitário, ético, educativo e econômico-social da cidade de Feira e das regiões do Recôncavo e Semiárido baiano.

 

 2. OS PRIMEIROS PASSOS

 

Concluída a aquisição do terreno, a Custódia da Ordem Capuchinha, imediatamente deu sequencia às providencias referentes ao projeto em Feira de Santana. Nesse, além da missão religiosa objetivando a evangelização cristã, também estava prevista a construção de um Convento, onde funcionaria um Seminário de formação para novos membros da Fraternidade, um Colégio, destinado à educação de alunos internos e da comunidade externa e uma Igreja, a ser consagrada ao Padroeiro Santo Antônio. A elaboração dos projetos técnicos para construção do novo complexo arquitetônico coube ao engenheiro Dr. João Marchesine que, foi assessorado nessa tarefa pelos religiosos da Ordem capuchinha, especialmente por Frei Henrique de Áscoli (Figura 4).

Fig. 4. Frei Henrique de Áscoli
A Benção da pedra fundamental aconteceu na Missa campal realizada no dia 28 de outubro de 1951, celebrada pelo Bispo auxiliar da Arquidiocese da Bahia, D. Antônio Moreira, cantada pelo frei Isidório de Loreto auxiliado pelos freis Paulo de Itabaiana e Romano de Offida. Participaram também da celebração, além dos devotos e membros da Ordem já residentes na cidade, romeiros, seminaristas e religiosos oriundos das cidades de Alagoinhas, Vitória da Conquista e Salvador que, em caravana, se dirigiram para Feira de Santana. Representando o clero secular da cidade participaram do evento o Padre Aderbal Sabak, vigário da Freguesia e o Cônego Mário Pessoa (Figura 5), Secretário da Mesa Administrativa da Santa Casa e Capelão do Asilo de Nossa Senhora de Lurdes.

Fig. 5. Padre Mário
Pessoa da Silva

Em novembro de 1951, com a supervisão do frei Henrique de Áscoli, foi iniciado os trabalhos de construção do Convento. O rápido ritmo de execução das obras permitiu que um marco significativo na caminhada da Fraternidade Capuchinha viesse a acontecer, logo no início do ano de 1953. Em 11 de janeiro daquele ano, deu-se a inauguração do novo espaço litúrgico situado no recém-concluído primeiro pavilhão do Convento de Santo Antônio. Na oportunidade, com a celebração de uma Missa Solene, deu-se a mudança da Capela da garagem, cedida pelo Sr. Fraterno Oliveira, para um novo recinto destinado às celebrações religiosas e acolhimento dos fiéis.

Na missão evangelizadora, a Fraternidade dos Capuchinhos também imprimiu um ritmo acelerado em suas ações. Dessa forma, no mesmo evento de inauguração da nova Capela deu-se a conclusão da primeira Santa Missão realizada pelos religiosos da Ordem em Feira de Santana. Ademais, ainda em 1953, foi realizada a primeira festa em louvor a Santo Antônio, cujo trezenário foi encerrado no dia 13 de junho, com uma procissão na qual devotos residentes em várias localidades participaram da Missa Solene, que foi celebrada por frei Isaías de Civitanova. Por fim, em 9 de agosto, deu-se a fundação do Apostolado da Oração por iniciativa do frei Isaías de Civitanova  e, em 8 de dezembro, aconteceu a fundação da Cruzada Eucarística Infantil (Figura 6) por iniciativa de frei Graciano de Santo Elpídio.

Fig. 6. Grupo de menores participantes da Cruzada Eucarística

 

Posteriormente, culminando esse ciclo fundamental da Missão dos Frades Capuchinos em Feira de Santana, no primeiro trimestre de 1956, mais um grande objetivo foi alcançado. Em 24 de fevereiro, oriundos do Seminário do Convento Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, em Esplanada, chegaram os primeiros seminaristas para o Seminário do Convento Santo Antônio em Feira de Santana (Figura 7). Em 2 de março chegaram os seminaristas oriundos do Convento Nossa Senhora da Piedade em Salvador e, finalmente, em 4 de março de 1956, com o Cardeal D. Augusto Álvaro da Silva, Arcebispo da Bahia, presidindo a Missa solene, deu-se a inauguração do novo Convento da Ordem capuchinha na cidade Princesa.

Fig. 7. Convento de Santo Antônio
 antes da construção da Igreja

      

3. O NOVO TEMPLO

   Inaugurado o novo Convento e Seminário, a Ordem Capuchinha designou novos membros para a missão em Feira de Santana, objetivando que os mesmos, além das atividades pastorais, também exercessem a docência na nova unidade de ensino e formação religiosa. Assim, além dos freis Graciano de Santo Elpídio, Isaias de Civitanova e Henrique de Áscoli, a Fraternidade passou a contar com os Irmãos leigos Ângelo de Jequié, Silvestre, Domenico, Bernardo de Itapicuru e Marcelino de Itacaré, além dos freis Faustino de Ripatrosone, Germano de Aguasanta, Justo de Cagli, Mariano de Inhambupe, Miguel Ângelo, Virginio de Civitanova e Jorge de Altamira que, posteriormente, passou a ser chamado de Lourival Pereira Vilares, nome do seu registro de nascimento.

As atividades continuaram e reiniciando o projeto de construção civil, no dia 17 de fevereiro de 1957, foi lançada a primeira pedra da nova Igreja de Santo Antônio (Figura 8). Ainda nesse ano, com a chegada a Feira do frei Hermenegildo de Castorano (Figura 9), as atividades da Ordem capuchinha assumiram uma nova e grandiosa dimensão. Esse religioso, nascido em Castorano, na Itália, além de participar da fundação da Pia União de Santo Antonio, inovou a comunicação social em Feira de Santana e região. Duas iniciativas de frei Hermenegildo, com o claro objetivo de evangelizar e divulgar as ações da Ordem, marcam esse novo momento: a fundação em novembro de 1957 do jornal “A voz de Santo Antônio” (Figura 10) e a transmissão radiofônica de programas religiosos e Missas.     

Fig. 8. Lançamento da
 Pedra Fundamental da Igreja

        No jornal, em uma das suas colunas, sempre se destacava que a finalidade do mesmo era angariar cooperação entre os seus leitores e amigos, mostrar ao público como eram aplicadas as “esmolas” ou doações recebidas para edificação da Igreja, ilustrar o progresso da construção além de divulgar o nome dos seus benfeitores.
Fig. 9. Frei
Hermenegildo
 
        
Na radiofonia, o Projeto da Ordem Capuchinha logo conquistou a generosa colaboração das emissoras da cidade: Rádios Sociedade e Cultura de Feira de Santana. A Sociedade, fundada em 7 de setembro de 1948, pelo comerciante Pedro Matos e que funcionava no primeiro andar do prédio situado na esquina da Rua Monsenhor Tertuliano Carneiro com a Praça Coronel Agostinho Fróes da Mota, em 30 de julho de 1957, passou a transmitir o programa “A voz de Santo Antônio” e, em 2 de fevereiro de 1959, aos domingos, começou a transmitir a Missa dominical, ainda celebrada na Capela do Convento e Seminário. 

Fig. 10. Logomarca do Jornal “A voz de Santo Antonio”

 


  
        

         



[1] Mestra em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutoranda do Programa de Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS e Professora Assistente da disciplina de Mecânica na Universidade Estadual de Feira de Santana. 

 

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