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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

EDUARDO PORTELLA: UM GRANDE BRASILEIRO.

HELDER Loyola Guimarães de ALENCAR

In memorian
 

A professora Maria Diva Mattos Portella, casada com o comerciante espanhol Enrique Portella, tinha decidido que seu primeiro filho nasceria pelas mãos do parteiro (hoje apelidado de obstetra) Macedo Costa, na Cidade da Bahia (assim os feirenses chamavam, naquele tempo, a Capital do Estado); dessa forma surgiu, em Salvador, no dia 08 de outubro de 1932, o feirense Eduardo Mattos Portella, um dos grandes brasileiros dos séculos XX e XXI.

    Fez seus estudos primários na escola da professora Margarida Brito e o curso ginasial no Colégio Santanópolis, onde despontou como um dos melhores alunos de português e redação do Mestre Gastão Guimarães.

    Como tinha dois tios, João e José de Oliveira Mattos, que moravam em Pernambuco, seguiu então para Recife, lá cursando o colegial e a Faculdade de Direito.

    Formado, resolveu aprofundar seus estudos na Espanha, terra de seu genitor, onde também começou a exercer o magistério, na Faculdade de Letras de Madrid.

Retornando ao Brasil, fixou-se no Rio de Janeiro, sendo, inicialmente, nomeado Procurador Jurídico do Ministério da Educação. 

Eduardo Portella - (Foto da EdTempo Brasileiro)

    Entendeu, cedo, que a sua vocação não era a área jurídica, mas a educação e o serviço público.


    Foi, então, designado para Assessor Especial da Casa Civil do Presidente Juscelino Kubitschek.


    No início dos anos 60, com a criação do Estado da Guanabara, exerceu a função de Chefe de Gabinete da Secretaria de Educação, sendo em seguida, nomeado, pelo Governo Federal, para o cargo de Diretor Executivo do Instituto Brasileiro de Estudos Afro- Asiáticos, órgão da Presidência da República, que exerceu de 1961 a 1964.

          Paralelamente, em 1962, criou a revista 'Tempo Brasileiro" que originou a Editora Tempo Brasileiro, com seu irmão Franco Portella. Ao lado de suas atividades do serviço público, passou a lecionar na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, de 1968 a 1971, foi Diretor do Departamento de Cultura do Estado da Guanabara.

    Em 1979, em pleno exercício da Diretória da Faculdade de Letras, foi convidado pelo Presidente João Figueiredo para o cargo de Ministro da Educação, Cultura e Desportos, com a promessa da abertura política, tanto que respondendo ao convite disse: " Se for para abrir, aceito; para fechar Universidade não".

       A sua passagem pelo Ministério resultou, dentre outras coisas, na criação da Embrafilme, da Embralivros, no incremento da distribuição do Livro Didático, por meio da Fundação Nacional de Material Escolar, como também na tentativa, em vão, de extinguir os exames de Admissão e Vestibular[1].

O Ministro Eduardo Portella em visita oficial a Feira de Santana (Foto do Blog Demais)

Mas o princípio maior de sua gestão, a abertura, não agradava os setores rnais radicais do regime de então, causando muitos atritos e tentativas de desestabilizá-lo.

    Segurou,, ainda, por 1 ano e 8 meses, o Ministério, com o Ministro da Fazenda, Delfim Neto, não repassando verbas, pois a filosofia de Portella "Educar para desenvolver", contrariava a de Delfim, que expressava "Desenvolver para educar" que significava que jamais o Brasil iria se desenvolver sem educação.

    Tanto que, a verba para o reajuste pretendido pelos docentes em greve, só foi liberada após a saída de Portella, aliás, 24 horas depois. Em novembro de 1980, ocorreu greve geral de Professores das Universidades Federais, e Portella, ouvido por um jornalista sobre o movimento respondeu de pronto: "Eu me sentiria muito mais confortável do outro lado do rio", o que provocou a resposta do Presidente da República "E por que já não foi?".

    Enfim, houve a demissão, no dia 26 de novembro de 1980, e a célebre frase, conhecida pelo Brasil, "Eu não sou Ministro, eu estou Ministro".

    Tive a honra, ao lado da minha esposa, Vera, de Franco Portella e Kátia Carvalho, de sermos os únicos quatro brasileiros civis a receberem Eduardo Portella na Base Aérea do Rio de Janeiro, no seu retorno de Brasília, após a demissão, pois, além de ter sido vetado o seu desembarque no Aeroporto Internacional do Galeão, foi também impedida a entrada de pessoas para recebê-lo na Base Aérea, já que os Professores preparavam uma manifestação.

    No outro dia, ouvido pela imprensa nacional, Portella afirmou categoricamente: "Delfim é o único gordo mau que eu conheço". Deixando o Ministério, retornou ao seu lugar de escritor e professor, mas exerceu, ainda, três importantes Cargos Públicos: Secretário de Cultura do Rio de Janeiro, Diretor Adjunto da UNESCO por 5 anos e Presidente da Biblioteca Nacional.

    Escreveu mais de 30 livros, recebeu inúmeras comendas, títulos de Doutor "Honoris Causas" e Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Pertenceu a diversas Academias, destacando-se as Brasileiras de Letras e de Educação e a Europeia de Artes, Ciência e Letras, com sede em Paris.

    Nesta a menor dúvida, que Eduardo Mattos Portella foi um grande brasileiro, tendo honrado sobremaneira a sua Pátria.

    Aos 84 anos faleceu no Rio de Janeiro,  no dia 02 de maio de 2017, deixando viúva a Sra. Célia Portella e uma filha, a escritora Mariana Portella.  

    








[1] Na verdade, em 1972, na Lei de Diretrizes e Base de Educação 5.692, o Admissão já tinha sido extinto, o Vestibular não. A extinção de exames estanques, foi tese de Áureo Filho incorporada por muitos que viveram o Colégio Santanópolis, como Eduardo Portela.


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