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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 9 de maio de 2020

AOS MEMBROS DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (CPLP)

Edvaldo M. Boaventura
1933-2018

FEIRENSE - Bacharel em direito, e ciências sociais (UFBA), professor da mesma Universidade Boaventura estudou ainda em Paris no Instituto International de Planificação de Educação da Unesco e fez mestrado e pós-graduação em educação na Pennsylvania State University. 
Ao saudar os membros da CPLP, destaco em especial, a realização conjunta deste Congresso com o I Encontro de Educação à Distância dos Países de Língua Portuguesa. São oito os países irmãos que constituem a nossa comunidade lusofalante: Cabo Verde - afortunadas e bem-aventuradas ilhas do Atlântico, que constituem com outros arquipélagos a Macarronésia; Guiné-Bisau; São Tomé e Príncipe; Angola, presente na representação de Vitor Narciso; Moçambique - expressiva delegação de sete membros; Alberto Ricardo Mondiane, Anísio Matangala, Alípio, Vitorino, Amadeu, Miguel e Elsa Pereira, sentimento o mais profundo com a nossa mãe África; Timor-Leste, representado por Adalfredo de Almeida; Portugal, presente com João C. Paiva; e Brasil, na pessoa de Marcos Maciel Formiga.
Quando o escritor José Saramago visitou a sede da CPLP, em Lisboa, em dezembro de 1998, escreveu no livro de honra este pensamento que tomo como norte desta saudação.
Casa de todos nós, a CPLP é o lugar onde o futuro nos espera, mas não poderá haver futuro se o presente não se puser a trabalhar. Trabalharemos, pois, porque o futuro está à espera e é preciso ganhá-lo hoje.
É bom que recordemos para os presentes aquele 17 de julho de 1966, quando os países acordaram em criar a CPLP:
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, doravante designada por CPLP, é o foro multilateral privilegiado para aprofundamento da amizade mútua, da concertação político-diplomática e da cooperação entre seus membros (Art.1º Denominação).
11s Congresso Internacional de Educação a Distância. I Encontro de Educação a Distância de Países de Língua Portuguesa. Explanação do ambiente macroeducacional nos países de língua portuguesa. Salvador, 7-10 de setembro de 2004.
         A CPLP desenvolve-e pelo trabalho dos oito estados independentes e soberanos, fruto de um passado com traços comuns que partilham a mesma língua.
         Nos fundamentos dos programas da CPLP, destacamos o fato primeiro da língua:Por isso, a língua constitui o principal elo de aglutinação, bem como o elemento que distingue a CPLP das demais organizações internacionais.Tendo consciência de que o português é uma das línguas mais faladas em todo o mundo e, sobretudo, por constituir, atualmente, a marca mais viva de um património comum dos Estados que a compõem a CPLP estabeleceu como prioridade do seu plano de ação a sua valorização, que passará pelo intensificar da cooperação entre os países membros, principalmente, em nível universitário, da formação profissional e dos diversos setores da investigação científica e tecnológica, bem como no intercâmbio cultural e na difusão da criação intelectual e artística no espaço da comunidade.
         E, se a língua é um património cultural é também através da cultura que ela evolui e se consolida.
         Se me fosse permitido, destacaríamos nesta saudação alguns aspectos econômicos, educacionais e comunitários.
1 CULTURA E NEGÓCIO
         Como organismo internacional lusofalante, é possível uma ampla discussão no mundo da cultura e dos negócios, com o português sendo ao mesmo tempo conduto e conteúdo. Recordamos bem a propósito a 3a Convenção Internacional "Negócios da Lusofonia", reunida na Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, em abril de 1999, por ser uma insurgência que evidenciou a viva participação da CPLP, pela palavra e pela presença do seu então secretário-executivo, Dr. Marcolino Moco. Pela primeira vez, comparecemos a uma reunião internacional, totalmente em português, e testemunhamos os primeiros passos não somente no campo da cultura fundante na língua de Camões, de Pessoa, e de Machado de Assis, como também na objetividade da gestão de negócios. Na abertura da convenção, o Dr. Moco assinalou.
Como já afirmei anteriormente, reputo a cooperação empresarial como a das mais importantes no âmbito da promoção do desenvolvimento, porque conta com um potencial de realização muito superior do verificado até o momento e, sobretudo, porque implica o fortalecimento do setor privado e da sociedade civil dos nossos países.
         Privilegia-se a possibilidade da discussão de negócios prevendo-se investimentos na confortável condição da língua materna. A discussão daí oportunidades de negócios em uma perspectiva que prosseguirá no presente e no futuro. Nessa linha económica de negócios, gestões e políticas, foi proposta pelo professor Ernani Lopes uma agenda em sete domínios comércio, investimento, mecanismos de financiamento, formação de recursoí humanos, política económica, parceiros sociais globais e programas especiais uma agenda económica sugerida pela inteligência de Ernani Lopes, para querr "o desenvolvimento económico e social faz-se com empresários,não corr burocratas”.
         A sabedoria de Feira de Santana, minha cidade natal, portal de entrada do Sertão baiano, ensina que o negócio é bom quando for bom para dois. Na CPLP, para os oito. As amizades pessoais consolidam-se na mesa, as amizades entre as nações, com investimentos. Seria de todo aconselhável que aí reuniões acadêmicas fossem também de articulação de negócios, como a diplomacia de hoje continuamente orientada para o comércio e para novos investimentos. Business oriented.
2 ESPAÇO PARA EDUCAR
         O segundo aspecto que gostaria de sublinhar nesta saudação é o esforço de educar o jovem estudante da CPLP. Tomo como símbolo a minha aluna de Mestrado em Direito da UFBA, Quida, de Moçambique. Educar no alcance das distâncias e das proximidades. Conforme o nosso presidente Fredric M Litto, da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), em artigo para o jornal A Tarde, "O setor educacional que mais cresce, mundialmente hoje, é o da aprendizagem à distância".
         Voltemos os nossos jovens estudantes da CPLP para o aproveitamento das potencialidades da comunidade, tanto os jovens alunos como os novos professores muito aproveitarão pela parceria e pelo intercâmbio em mão dupla.
         Que os nossos alunos circulem no interior da comunidade, nas duas margens deste grande rio, que é o Atlântico, em um clima de educação aberto e de educação a distância. Educação aberta, em um clima de open education que se concretiza na qualidade do relacionamento entre professor e alunos e alunos entre si. Adalfredo de Almeida, de Timor-Leste, na abertura deste congresso exemplificou a aprendizagem do português pela Fundação Roberto Marinho. Na Bahia, lutamos pela educação dos afrodescendentes. É ume vergonha nacional a ausência dos negros brasileiros nas nossas universidades por isso, temos que lutar por cotas para os originários das escolas públicas que são os pobres, os negros e os indígenas. As cotas é um tipo de ação afirmativa. Temos que ir à nossa mãe África para conhecer e aprofundar origem da nossa rica e portentosa herança africana, em especial para a nação baiana. A cooperação efetivando-se na educação, saúde e administração, meio ambiente, agricultura, transporte, telecomunicação, turismo, pesca e comunicação social.
3 A COMUNIDADE LUSOFALANTE
         Um terceiro e último aspecto para finalizar esta breve saudação trata-se da abrangência de outras comunidades de expressão lusofalante.
         Se somos oito os países soberanos que constituem a organização, existem outros tantos espaços comunitários de expressão lusitana.
         O estatuto dos observadores contempla três categorias: associados, que são todos os estados que não podem aderir à Declaração Constitutiva ou aos Estatutos; permanentes, que são as organizações internacionais e organismos intergovernamentais; e os observadores convidados.
São os representantes das organizações e movimentos políticos dos territórios não-autônomos onde se fala português, sem restrições a quaisquer correntes de pensamento político; os representantes de comunidades de Língua Portuguesa de países não-membros ou organizações de países não-lusófonos com interesse na língua portuguesa, bem como Organizações Não Governamentais envolvidas em ações de cooperação no espaço da CPLP.
Parece-nos ser, entre outros, o exemplo de Macau e de Malaca, cidade estado-membro da Malásia, é uma comunidade lusofalante com mais de 4500 residentes e contando com os que estão fora somam um total de 30000 de origem portuguesa e euro-asiático em toda a Malásia.
         O destino da CPLP começa no Tejo, transpõe o Atlântico e, dobradas as boas esperanças, alcança-se o índico que se estreita em Malaca para atingir a plenitude do Pacífico. No possível roteiro camoniano, estão todas as lusitânias perdidas - Goa, Damão e Diu, as encontradas e as reencontradas pela fidelidade ao idioma. É por isso que procuramos talvez romântica e baianamente, nos atos constitutivos da CPLP um espaço para as comunidades, seja no Pacífico, na Austrália, seja nas inúmeras comunidades da América do Norte, nomeadamente, Tautan, Fali River, New Bedford, Vale de São Joaquim: seja em Toronto e Montreal, no Canadá; seja ainda na América do Sul, em Valença, na Venezuela, e em Buenos Aires, na Argentina. Na Europa, nas muitas comunidades portuguesas, como a de Paris e a do Ducado de Luxemburgo. São apenas alguns exemplos de comunidades existentes e atuantes em quase todos os continentes.
         A circulação de pessoas a movimentar as migrações internas e externas deve ser acompanhada dos capitais, na dinâmica da globalização. É um problema dos nossos dias e mais um desafio para a CPLP. Nesse conjunto, Cabo Verde deu um passo à frente ao adotar, em forma de lei, o Estatuto do Cidadão Lusofalante.
         Como já é chegado o tempo de concluir a saudação, encontros como este de educação a distância ensejam o desenvolvimento de vínculos de amizade, de estímulo económico e de fomento cultural. Vinculação que dará mais autenticidade internacional pela presença intercontinental da comunidade.
         Em suma, somos a terceira língua europeia mais falada no mundo, é certo. Mas precisamos de muito trabalho, como nos inspira Saramago par alcançarmos níveis maiores de integração e de crescimento comunitário e de expressão política.
         A CPLP vai ao cerne comunitário dos espaços da fala portuguesa e prossegue a viagem do futuro, diria o poeta da liberdade, Castro Alves, em busca do porvir, com o mesmo timoneiro, a língua portuguesa.
Bacharel em direito, e ciências sociais (UFBA), professor da mesma Universidade Boaventura estudou ainda em Paris no Instituto International de Planificação de Educação da Unesco e fez mestrado e pós-graduação em educação na Pennsylvania State University.
Entre 1970 e 1971 ocupou pela primeira vez a pasta estadual da Educação e Cultura, função à qual voltaria no período de 1983 a 1987 quando criou a Uneb, além de promover o reconhecimento da Universidade Estadual de Feira de Santana (UESF) e impulsionou a criação das Universidades Estaduais do Sudoeste Baiano (UESB) e de Santa Cruz (UESC). 
Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana Ano I nº 1 2004 


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