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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O BOM LADRÃO

Hugo Navarro Silva
Não sabemos qual dos dois crimes é o mais antigo, se o furto, se o homicídio. Conforme a Bíblia o primeiro homicida foi Caim, o segundo delinquente. O primeiro teria sido Adão, punido por desobediência.    Certo é que Prometeu, nos tempos heroicos,  furtou o fogo dos Deuses   e dele fez presente aos  homens,  proeza de que o autor andava a se jactar, o que irritou alguns dos Deuses, que o amarraram ao mais alto pico do Cáucaso, onde águia diariamente lhe devorava o fígado sempre renascente.  Teria sido libertado por Hércules,  que  na façanha matou a águia e quebrou as correntes.
Não têm faltado elogios aos  que atacam o patrimônio alheio. Conta-se que o ditador  Primo de Rivera Orbaneja, que governou a Espanha de 1923 a 1930, dizia que ladrões são necessários ao progresso. Segundo ele sem ladrões não haveria necessidade de polícia, de muitos juízes, nem da fabricação de fechaduras e chaves o que redundaria em  grande desemprego. 
Certo é que  o prestígio dos ladrões vem de longe, cada vez mais fortalecido por desacertos políticos, com destaque para o Brasil.  O próprio Jesus Cristo  foi crucificado entre dois ladrões e um deles ganhou, na mesma hora, o Paraíso. A atitude divina pode  ter sido discutível, precipitada e perigosa.  Mas, a partir de certos acontecimentos havidos até por simbólicos,  o ofício de furtar ganhou enorme destaque, merecendo,  os  seus praticantes, honrarias, homenagens e posições de destaque e mando no mundo inteiro. 
Tão forte  é a influência do furtar, que a linguagem encheu-se de termos para dar nome e definição  às muitas formas de lesão ao patrimônio alheio, correndo em ajuda  da  própria lei,  necessitada de palavras para distinguir as diferentes formas de furto. 
 O furto, na sua  vitoriosa existência, tem variado no tempo e no espaço. Época houve, não distante, em que donzelas eram furtadas para efeitos matrimoniais, o que  foi registrado pela música popular com a marchinha de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira, “O Cantar do Galo”, sucesso do Carnaval de 1938 na voz de Almirante: “O galo quando canta é dia/ é dia Maria, é dia/ Mas quando canta fora de hora/ É moça roubada, que vai dando o fora”.
Há furtos de natureza variada. No tempo em que poeta valia alguma coisa, falava-se de furto de versos como fato grave. Havia termo próprio para o furto de gado, abigeato, que saiu de moda, mas ainda existe, cada vez mais poderoso e ativo, o furto do dinheiro público, o peculato, palavra que pela sua origem dá a  entender que o hábito de  “meter a mão no erário” é velho e  revelho,  colocando o Brasil como guardião das mais respeitáveis tradições da prática criminosa.
Há até o furto decorrente das crendices populares, quando pessoas furtam, no sertões brasileiros, o menino dos braços de santos e santas. Na quinta-feira santa costumava-se furtar galinhas, perus e leitões de quintais para a ceia do sábado da aleluia.
O costume do furto, no decorrer do tempo,  tem significado, também, fugir dos maus negócios e das companhias comprometedoras, gastar o tempo, as horas,   negligenciar   o trabalho. 
O padre Antônio Vieira disse em sermão: “Nem os Reis podem ir ao Paraíso sem levar consigo os ladrões, nem os ladrões podem ir ao inferno sem levar consigo os Reis”.
Furtos sempre haverá. Mas os ladrões,  criadores do furto oficial, não devem permanecer no paraíso do poder. A desgraça nacional supera, em muito, os motivos da queda de Collor.  Até quando o povo será vítima da quadrilha? Não há ladrões bons. 

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