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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 13 de maio de 2014

MICARETA SEM SAIDA


Não tem razão quem acusa o secretário Jailton Batista de haver realizado “a pior micareta dos últimos tempos”.  A micareta não foi um fracasso, pelo contrário, e deixou satisfeita a grande maioria dos que dela participaram. Houve, é claro, mudanças e entraves. Foram suprimidos os camarotes, que costumavam formar vasto e asfixiante corredor e criar dificuldades para a participação do povo, além de serconstante e ameaçadora possibilidade de desastre de grandes proporções, capaz de enlutar a cidade e acabar com a festa.
Quase às vésperas, surgiu a greve da Polícia Militar, seguida de paralização da Polícia Civil, que resultaram no aumento considerável das ações criminosas, incluindo assassinatos, criseno comércio, que em certas ocasiões teve que fechar as portas e medo generalizado de que alguma coisa de extremamente grave poderia acontecer para o que concorreu a onda de boatos divulgados nas redes sociais, os profetas do Século XXI. Chegou a ser cogitado, oficialmente, o cancelamento da festa, e discutida a mudança da data de sua realização. As notícias foram alarmantes, com destaque para as que davam conta de enormes prejuízos para os blocos, às custas ou da falta de foliões interessados nos abadás, ou das devoluções das fantasias já adquiridas. As notícias de mortes(e foram muitas), de “arrastões”, assaltos e agressões encheram os ouvidos do povo feirense de forma ameaçadora. Não chegaram a alcançar os níveis da greve de 2.012, mas foram capazes de desestimular qualquer entusiasmo carnavalesco capaz de levar o povo às ruas.
O que ocorreu de fato na micareta, vencidas as dificuldades e receios, a participação do povo na rua e nos blocos e a eterna diminuição da criminalidade das estatísticas oficiais antes  teriam sido  triunfos do secretário e de sua equipe do que o fracasso apontado por uns poucos que mal podem esconder  o interesse político, já que estamos em ano de eleições. Mas foi, principalmente, mais uma prova da solidez da micareta, como parte inarredável da vida do povo feirense.
Disse Gilberto Amado que o carnaval, “festa pagã que o cristianismo não estragou de todo" deixou de ser simples manifestação de alegria para se tornar tradição venerável, hábito da sociedade, “desafogo na vida árida do brasileiro, que vive sem comodidade, sem dinheiro, sem orgulho, sem heroísmo, sem coisa nenhuma”. Hoje, poderia acrescentar: governada por quadrilhas e sujeita a manifestações momescas apresentadas com tinturas de seriedade com o nome de revisões históricas.

Micareta é carnaval. Substituiu o carnaval feirense a partir de 1937 e vem crescendo. Acontece, entretanto, que a micareta, que na sua origem fazia a festa na Rua Conselheiro Franco, onde se realizavam os mais famosos bailes carnavalescos, o da “25 de Março” e o da “Vitória”, com a “Flor do Carnaval”,  o cordão das “Melindrosas” e os “Filhos do Sol”, empolgou o centro da cidade e terminou  por ficar encerrada em parte da Avenida Dutra, cercada de grades e de intensa vigilância  da polícia, lugar que se tornou, com o passar do tempo,  incômodo e prejudicial ao vasto comércio que se estabeleceu no local. O confinamento da micareta à Avenida Dutra foi solução passageira que se vai eternizando, mas não pode continuar. É sufocante, opressivo e incômodo como cadeia pública. Tentativas têm havido de estender a folia a outros locais, como   da Kalilândia, sem grande sucesso. A micareta tem que se expandir, sair da lata de sardinha em que se transformou sua atual sede. Dar mais liberdade ao povo. Encontrar saída para a armadilha em que se encalacrou.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

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