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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A VIRGINDADE QUE ABALOU A CÂMARA

Hugo Navarro Silva

Os leilões de virgindade, que estão virando moda e ampliam a oferta da prostituição pela Internet, até que não provocaram reação de sociedade de inaudita, licenciosa e incontrolável permissividade. Foram recebidos, no geral, por empulhação, vigarice e falta de vergonha, que neste país estão a se transformar em epidemia, atingindo gregos e troianos, governantes e governados. Não encontraram resposta além da chalaça, do achincalhe e da desconfiança, despertando aquele sentimento de alerta que atinge algumas pessoas quando se  descobre algum novo “golpe” na praça, salvo nesta cidade, onde correu, repetida e remoída, falada e escrita,  a notícia de que vereador deste Município havia ingressado no leilão promovido por certa e respeitável senhora do interior do Estado,  fazendo não desprezível lance.
O invulgar interesse, entretanto, somente apareceu depois  que a Câmara, amedrontada com a risível imputação, sentindo-se ofendida na sua fortaleza moral e nos seus invictos pundonores, resolveu adotar  drásticas  providências para apurar os gravíssimos fatos.
Alguns vereadores, assaltados de medos e cercados de imoderados escrúpulos diante do boato um tanto ou quanto safado, é verdade, pediram providências à direção da Casa, que no auge do paroxismo moral resolveu nomear comissão para tentar esclarecer o que há de verdade em torno dos memoráveis acontecimentos e, sendo possível, trazer para o conhecimento e execração públicas o nome do legislador tarado, cujo destino político ninguém pode afirmar, de antemão, qual será, se o de herói, capaz assumir lugar de destaque nos anais do Município, ou se poderá ser havido por irresponsável e devasso irremediável e, sabe-se lá, candidato a vaga em algum hospício dos programas de saúde do governo, o que lhe poderia resultar em sentença de morte inapelável.
A Câmara, ferida em sua dignidade, decidiu criar a Comissão da Virgindade que irá à distante cidade onde reside a apontada fonte do boato e autora do leilão, para interrogá-la sobre a boataria, para que  revele o nome do suposto, audacioso, desvairado  e depravado vereador, além de ouvir o Delegado de Policia do local. O interessante de tal história é que nenhuma mulher neste país pode ser obrigada a receber Comissão da Câmara para responder a inquirição sobre fatos de sua vida privada e o Delegado de Polícia não pode ser elevado à categoria de zelador perpétuo de virgindades lançadas no comércio e deve ter mais o que fazer para andar a meter o bedelho em assuntos da vida alheia, até porque vereador não é polícia e suas prerrogativas não ultrapassam os limites deste avançado, santo e pudico  Município de Feira de Santana.
A Câmara, tudo indica, está nadando em dinheiro. A viagem da Comissão Investigadora a Sapeaçu importará em despesas não pequenas com o transporte de vereadores e a estada da Comissão naquela cidade, resultando em gastos desnecessários e sem nenhum sentido. Isto nos faz relembrar o célebre decreto de prefeito que demitiu o administrador do então distrito de Tanquinho “em virtude de seu falecimento”.
Tão fortes andam os escrúpulos e cuidados da Câmara em torno da heroica moralidade de seus membros, que no andar da semana ouviu revoltados pronunciamentos contra  a anunciada apresentação, nesta cidade, de banda de reggae (ou coisa pior), presa, recentemente, sob a acusação de estupro de jovens que lhe invadiram o ônibus, de madrugada, após show, na busca frenética de inocentes autógrafos.  Tais atitudes são próprias ou de quem vive fora de sua época, desconhece o papel reparador do “Super-Bonder”, não entende a extensão das liberdades na sociedade de hoje, que espicha direitos mas não quer saber de limites, conveniências e obrigações ou é santarrão disputando o lugar de mártir das virtudes defuntas.
Hugo Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

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