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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A SECA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Hugo Navarro Silva

Estão caindo chuvas alentadoras em Feira de Santana, a alagar praças, ruas e casas, mostrando, mais uma vez, que não fazemos cidade, não construímos para enfrentar aguaceiros, porque estamos dentro do famoso “polígono das secas”.
Distantes vão os tempos em que acossado pelas calamidades públicas, principalmente pelo fenômeno das secas, o povo fazia romarias para pedir chuvas e romarias para agradecer aos santos quando as “águas do céu”  voltavam a cair sobre terras,  patrimônios e vidas calcinadas pela inclemência do sol. Apesar dos agradecimentos à divindade e de renovadas esperanças no futuro, desta feita manifestadas através da mídia, inicia-se para o pecuarista e para o agricultor dos sertões nordestinos nova fase de sofrimentos e prejuízos na tentativa de recuperar o que perdeu na inclemência da estiagem mais alongada e mais cruel do que em outras oportunidades.
Evidente que os tempos são outros, que há novas promessas, estradas, o caminhão, algum tipo de financiamento retardado, mas pouca coisa mudou no panorama das estiagens e suas consequências. Chega de elogios ao chamado heroísmo do sertanejo, que persiste, apesar das dificuldades, na ingrata tarefa de produzir alimentos para as cidades, muitas delas inchadas dos que antigamente eram chamados de retirantes e vagavam, caminhos afora, a mostrar a fome, a sede e a miséria dos sertões, mas deram lugar a famosos quadros e outras obras de arte, aplaudidas por todos, realizadas por  louvados mestres de barriga cheia.
Foram-se, é claro, os tempos em que retirantes, nesta cidade, faziam parte do panorama. Eram famílias inteiras arrastando trapos, doenças e crianças esquálidas a estender a mão à caridade pública, que a Prefeitura costumava  abrigar  na estação da antiga estrada de ferro, onde recebiam, caridosamente, punhados de farinha de mandioca e nacos de carne seca, cozidos em fogueiras,  sobrevivendo sem assistência médica, sem remédios, sem instalações sanitárias e  sem esperanças,  dormindo no chão ou em esteiras de palha, ás vezes batendo às portas de casas  para implorar alimento e água para matar a sede  Os retirantes não desapareceram. Não se arriscam mais a pé pelos duros caminhos sertanejos, arrostando fome, sede, moléstias e todas as misérias que podem agredir o ser humano, mas estão presentes em centros urbanos como o de Feira de Santana, onde erguem palhoças, criam favelas e ingressam no subemprego ou, o que é mais certo e rendoso, no mundo do crime, no negócio das drogas proibidas, principalmente do crak, a droga mais popular, que está a atrair até mulheres de todas as idades, ajudando a superlotar as precárias cadeias nacionais e a aumentar as preocupações da população.
Este é o momento das autoridades buscar soluções para amenizar, pelo menos, as consequências da seca, fenômeno cíclico que fatalmente voltará a atingir os sertões nordestinos com todo seu acompanhamento de prejuízos e miséria.
Já se falou muito, neste país, de providências para fixar o homem do campo, mas tudo colabora para entupir cidades e despovoar o campo, que vai ficando abandonado porque desprezado pelos poderes públicos, o que facilita o surgimento das guerrilhas urbanas, como está acontecendo, mais uma vez, na capital paulista, onde grupos supostamente organizados de criminosos desafiam e ameaçam  o governo estadual  e o federal, presos a uma teia quase intransponível de burocracia, herança de nossos pais portugueses, de que resultam reuniões e reuniões, para a televisão, mas de resultados práticos discutíveis e  sempre retardados.
Navarro da Silva - Santanopolitano, foi aluno e professor do Colégio Santanópolis. Advogado, jornalista escreve para o "Jornal Folha do Norte". Gentilmente, a nosso pedido, envia semanalmente a matéria produzida

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