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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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domingo, 21 de fevereiro de 2021

OS PRIMÓRDIOS DA RELIGIOSIDADE FEIRENSE - I


A bença, inhá, Fulana!

Deus te leve para Feira de Santana!

 (Eurico Alves Boaventura).

As primeiras manifestações religiosas no território feirense foram realizadas pelos Payayás, o culto a natureza e ao deus Eraquizã, foram as primeiras demonstrações de crença nas plagas feirenses. Segundo Leite (1945, p. 270), [...] Os Payayás eram muito submissos a seus pajés a quem chamavam visamus. Não tinham ídolos, nem divindades, se excetuarmos uma semelhança de idolatria, o que chamavam seu deus Eraquizã [...]. Esta afirmativa referente ao culto do deus Eraquizã, pelos Payayas, leva-nos a compreensão da primeira manifestação religiosa em Feira de Santana.

O culto era realizado anualmente, tendo os pajés como dirigentes das celebrações. Eram erguidas cabanas de palhas, e os anciões se paramentavam cobertos de palhas, com grandes cocares. A este respeito Leite (1945, p. 270), afirma que:

[...] cujo dia festivo anual se celebrava assim: faziam uma pequena cabana não muito distante da aldeia e juntava-se nela os pajés mais velhos, vestiam um vestido tecido de folhas de palma de 15 pés de comprido, todo de pregas e franjas, as quais caíam um pouco acima do joelho. Da cabeça até os ombros tinha um diadema, que termina para o alto em ponta. Na mão direita uma flecha afiada.

O dia da festividade religiosa era atípico para os Payayas, durante a
cerimónia do deus Eraquizã, nenhum dos integrantes do grupo, poderia

estar fora das casas, era uma forma de desrespeito para com o deus. Quando o deus Eraquizã saia para percorrer a aldeia, e encontrasse com alguém, o matava com a flecha que compunha seus paramentos, todos ficavam resguardados em casa esperando o sinal do deus para a entrega das oferendas. De acordo com Leite (1945, p. 270),

[...] Logo saia o Eraquizã, de aspecto horrendo e disforme. Dava a volta em toda a aldeia, e se encontrava alguém matava-a com a seta aguda, que levava na mão direita, para o castigar da sua irreverência, em atrever-se a encontrar com o tão grande deus. Feito o conhecimento da aldeia, parava diante das casas, tocava a flauta (tíbia) diante delas, sinal para que se desse início as oferendas de comer, e ia sentar-se no meio do terreiro, esperando-as. Saindo então cada um de casa, levavam-lhe com grande respeito as ablatas e presente.

No território feirense em tempos pretéritos ocorreram estas festividades em torno do deus Eraquizã, através do povo Payayá. Com o advento da colonização os nativos perdem seus costumes e crenças onde foram submetidos a catequese através dos aldeamentos.

A devoção a São José nos Campos de Itapororocas

Após a chegada de João Peixoto Viegas e sua família ao território feirense, mais precisamente a São José das Itapororocas, este sesmeiro atendendo à solicitação de sua esposa, edifica em sua propriedade uma capela em devoção a São José. Partindo deste pressuposto Moraes, (2011, p. 13), expõe que

João Peixoto Viegas [sic] e dona Joana de Sá Peixoto tiveram um filho e este deu continuidade ao crescimento da família que deu origem a São José das Itapororocas. Seu filho, Francisco de Sá Peixoto único herdeiro de muitas léguas de terras, sua mãe, Dona Joana de Sá Peixoto pede ao marido para construir uma Igreja em louvor a São José. O sertanista na intenção de povoar as terras constroi uma casa forte de madeira para negociar os animais das suas terras e pastos de aluguel para os animais que viam de outro local para descanço antes de seguir viagem até cachoeira.


Foto antiga de São José das Itapirorocas (www.feirenses.com)


A capela edificada em louvor a São José foi reedificada anos após sua construção. Grandes conflitos na propriedade de João Peixoto Viegas por nativos e colonizadores originava a destruição dos bens, que entre eles era a capela. Os conflitos ocasionaram a saída de João Peixoto Viegas para Salvador, e em decorrência, solicita providências a Província, para a reconstrução da igreja, no povoado que estava em formação. Neste contexto Moraes, (2011, p. 14), explana que:

Os conflitos na fazenda de João Peixoto Viegas se alastraram por muito tempo. A fazenda era saqueada por muitos homens armados, houve muitas mortes, os índios revoltados atearam fogo nas pastagens e na fazenda. Tendo sido desmanchado os curais, a sede e a Igreja o proprietário muda para Salvador. Já com idade avançada pede providencias a Província, e volta para o arraial que já se formava. Com os seus trabalhadores reforma a sua sede da fazenda, solicita da coroa o reparo da Igreja mandando reconstruí-la, mas é feito outra sede religiosa o crescimento do arraial faz tomar uma Igreja grande, João Peixoto Viegas solicita da Província a vinda de Padres e que envie os jesuítas para catequisar os índios.

 Este culto pode ser classificado como a primeira devoção Católica feirense. Esta devoção foi transferida por gerações, chegando aos dias atuais.

Na sesmaria existiram algumas fazendas, que são anteriores ao surgimento da cidade de Feira de Santana, uma destas fazendas foi a Fazenda Mochila, que pertenceu a João Peixoto Viegas, local que ocorreu grande confronto com os Payayas. Na área da referida Fazenda Mochila, está localizada hoje um bairro residencial que recebe o mesmo nome. De acordo com Galvão (1982, p. 27),

A Mochila, ligada a outros acontecimentos, é hoje um loteamento urbano. Entre outras relevâncias do mesmo livro (fls. 93,94 e 95), pelos anos de 1707- 1711, já existia uma capela com a invocação de Nossa Senhora dos Remédios, com a celebração de casamentos, com licença do Arcebispo.


Esta narrativa, em que Galvão expõe sobre a Fazenda Mochila, suscita uma indagação sobre a construção da Capela dos Remédios, estando a capela localizada nas terras que pertenceram a Fazenda Mochila de propriedade dos Viegas. Os vestígios desta fazenda, como paredes e alicerce das casas, desapareceram ao decorrer dos anos, bem como muitos dos bens patrimoniais do município.

VITOR BATISTA DOS SANTOS

Bacharel em Arqueologia pela Universidade do Estado da Bahia -

UNEB/CAMPUS VIII.

Revista do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE FEIRA DE SANTANA - Ano XVI - Nº 16

Continua na próxima postagem.








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