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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 2 de janeiro de 2021

A ARTE DE CAMINHAR ENTRE RUAS E PATRIMÓNIOS DA PRINCESA - I



 

CARLOS ALBERTO ALVES LIMA

 -Graduado no curso de licenciatura em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestre pelo Programa de Pós Graduação em História PGH/UEFS. Atualmente além de exercer  a docência em espaço socioeducativo, aventura-se enquanto Guia Turístico, fazendo parte do Projeto: Na carona do Conhecimento: turístico pedagógico.






JULIANO MOTA CAMPOS
Graduado no curso de licenciatura em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Mestre pelo Programa de Pós Graduação em História PGH/UEFS. Atualmente além de exercer  a docência em espaço socioeducativo, aventura-se enquanto Guia Turístico, fazendo parte do Projeto: Na carona do Conhecimento: turístico pedagógico.

O que as pinturas rupestres nas cavernas (chapada diamantina), a Reserva Sapiranga (Praia do Forte), o Solar do Unhão - que abriga o Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador) a Irmandade da Boa Morte (Cachoeira) e a Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Salvador) têm em comum? Resposta rápida e fácil: todos são considerados patrimónios culturais brasileiros. Estes são definidos pela atual Constituição Federal do Brasil (1988), no artigo 216, como bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, e que têm o IPHAN (Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional), fundado em 13 de janeiro de 1937, como órgão federal cuja incumbência é preservá- los, divulgá-los e fiscalizá-los, além de garantir sua utilização pela atual e por futuras gerações.

Mesmo com um órgão fiscalizador atuante, é comum no território brasileiro, sobretudo em municípios que não fazem parte dos grandes e visíveis roteiros turísticos, a negligência e descaso por parte do poder público com o conjunto de bens culturais, como é o caso de Feira de Santana, maior cidade do interior da Bahia, principal entroncamento rodoviário do norte-nordeste do país (próximo também da capital) e um dos polos económicos e políticos mais efervescentes do Nordeste. Infelizmente, mesmo a Lei Orgânica Municipal, no artigo 149, reconhecendo, em consonância com a comunidade, a importância da promoção e proteção, por meio de um plano permanente, do património histórico e cultural local, através de inventário, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, observa-se uma política do “bota abaixo”, especialmente nos últimos 20 anos. Incontáveis Prédios e Casarões na região central da cidade foram demolidos, seja para o erguimento de construções modernas, seja apenas para abertura de espaços urbanos, obedecendo à sanha do mercado imobiliário e/ou à criação dos muitos estacionamentos privados.

Para refletirmos um pouco mais sobre a política patrimonial de Feira de Santana, faremos uma caminhada pelo centro comercial da urbe, cartografando alguns dos bens culturais que resistiram ao processo de silenciamento perpetrado ao longo do tempo. Caminharemos por aquela quadra histórica que, desde o começo do século XX, vem sendo o lócus vital da metrópole sertaneja. Assim, nossos passos . cortarão a Avenida Senhor dos Passos, a Rua Marechal Deodoro, a Sales Barbosa (antiga Rua do Meio) e a Rua Conselheiro Franco (antiga Rua Direita).

Como marco zero, escolhemos a encruzilhada da Avenida Senhor dos Passos com a Avenida Getúlio Vargas, espaço marcado desde sempre como um metro quadrado que resguarda parte importante da memória coletiva e identitária do loironse. De cara, observamos o Paço Municipal Maria Quitéria, sede da administração municipal desde 1926, cujo projeto fora iniciado pelo Intendente Bernardino Bahia e inaugurado por Arnold Silva. Obra pomposa que custou ao todo cerca do 400 contos de réis, tendo como responsável técnico o grande engenheiro Acciolly Ferreira da Silva; construção em estilo eclético, comum nos projetos desde os fins do século XIX, tem traços de arquitetura clássica (representado por colunas) e barroca (na riqueza de detalhes), além da imponência e suntuosidade. De acordo com o historiador Clovis Ramaiana de Oliveira, o prédio moderno e funcional, que também servira de Câmara Municipal, Biblioteca Pública, Posto de Higiene e Fórum, fora construído em ângulo inicial a uma nova avenida - chamada, num primeiro momento, de Avenida  Maria  Quitéria, posteriormente, de Avenida Getúlio Vargas - e seria um ponto relevante de progresso e da grandeza das terras de Santana. E isto, não só por se utilizar  na empreitada as mais modernas técnicas da construção civil, mas, principalmente, por serem usados como matéria-prima na obra produtos ditos industrializados - argamassa, alvenaria de tijolos, cimento etc. em contraposição às obras tradicionais, bem comuns na cidade. Vivia-se uma luta do “Tijolo x Barro”, inaugurando-se, assim, a era do tijolo, do cimento e do ferro, em detrimento do barro, do adobe e da taipa. Dessa forma, o “Palácio da Municipalidade”, como os jornais da época se referiram à construção, imageticamente servira para consolidar, aos olhos dos feirenses e visitantes, em especial daqueles que viriam para a grande feira semanal, a consolidação de uma urbanicidade na Princesa do Sertão.

Prefeitura de Feira de Santana

Não é surpresa que o mesmo arroubo que a elite política teve lá na longínqua década de 1920, apanhe, na primeira década do século XXI, seus herdeiros de projeto, que buscaram, através de financiamento com recursos do município, bancar uma obra de restauração do Paço, concluída e inaugurada com pompa e festejos em 2007. É válido acrescentar, que esse foi o único dos patrimónios feirenses que teve a benevolência do poder público municipal.

Nessa mesma região nodal, na calçada contrária, encontramos a Igreja Senhor dos Passos, uma catedral em estilo neogótico em pleno sertão. A verticalidade de suas torres pontiagudas e esguias, bem como o esplendor religioso e monumental da construção, chama, ainda hoje, a atenção de quaisquer visitantes. Os vitrais laterais e a rosácea central com temas bíblicos, ornamentam o ambiente e, ao mesmo tempo, permitem uma maior entrada de luz, deixando a igreja, contraditoriamente, iluminada e misteriosa. O processo de construção desse património material merece destaque. Ela começou como capela, ainda no século XIX, para devoção da Família Pedreira, por volta de 1917 fora demolida totalmente, sendo encomendado, ao prestigiado engenheiro Manoel Acciolly Ferreira da Silva, o projeto de um novo templo. Em 1921, a planta estava pronta e aprovada pelo Arcebispo Primaz da Bahia, Dom Jerônimo Tomé da Silva. No projeto, destacavam-se, além do estilo neogótico, o interior em escariole e uma mistura de vidro e argamassa na parte externa. A obra demorou, nada mais, nada menos, do que 53 anos para ser concluída, sendo inaugurada em 25 de dezembro de 1979. Em 2010, a Igreja foi fechada por conta de problemas estruturais que ofereciam perigo aos frequentadores. O templo católico foi reformado pelo Instituto do Património Artístico Cultural da Bahia (Ipac) e pela Superintendência de Construções Administrativas da Bahia (Sucab). Dentre as reparações feitas, foram realizadas a restauração do revestimento da fachada, a recuperação do passeio em pedra portuguesa, a instalação do sistema de prevenção de descargas atmosféricas, a recuperação dos gradis de proteção e a recuperação das estruturas da torre, do telhado, dos pináculos e platibandas. A Igreja foi reinaugurada no dia 17 de julho de 2012.

Seguindo nossa caminhada, optamos pela Praça da Bandeira, local que, durante muitos anos, foi o ponto de maior movimento da grande Feira livre. Antes de atravessarmos a avenida, deparamo-nos com o monumento “Todos os caminhos”, de autoria do renomado artista e arquiteto Juraci Dórea. Criado em 1991, faz alusão à cidade como ponto de passagem e é fortemente inspirado no Projeto Terra. Para Dórea, esse projeto, composto por obras bidimensionais, em couro curtido e madeira, , é movido por uma cena ainda hoje comum na caatinga: os couros de boi espichados sobre varas e deixados à mercê do tempo. Dessa maneira, o trabalho referido coloca em foco certas questões da arte contemporânea, optando por uma mudança radical -1 no que diz respeito ao processo de veiculação das obras: elas não seriam mostradas em museus ou galerias de arte, mas no próprio espaço do sertão.

Chegou a hora de atravessar a Avenida Getúlio Vargas. Movimento intenso, comum ao comércio numa segunda-feira; mesmo assim, precisamos desvendar aquele prédio de esquina com a Sales Barbosa: o Mercado de Arte Popular. Engana-se quem pensa que ao visitar as suas origens encontraremos apenas artesanatos. Neste Mercado tinha de tudo; era uma síntese da feira livre, ou, melhor, representava a necessidade de um espaço de entreposto para as atividades comerciais de uma feira que, de tão livre, ultrapassou os limites geográficos propostos inicialmente pelo poder público. Passear pelos caminhos da história desse Mercado constitui uma via necessária para nossa narrativa. Por isso, voltemos a um tempo em que era a Câmara Municipal a protagonista nas decisões em torno das obras públicas e a prefeitura chamava-se Intendência.

A primeira, Prefeitura, Câmara de vereadores,
biblioteca. Foi também Filarmônica Euterpe.

Em 1901, foi aprovada pelos vereadores uma lei que tratava da construção do Mercado. O município não tinha o dinheiro e precisou de 100 contos de réis emprestados para que, só a partir de 1906, fosse iniciada a obra de construção do mercado municipal. Concluído em 1914 e inaugurado em 1915, sob a gestão do intendente Bernardino Bahia, com uma arquitetura neoclássica, abrigou por décadas o comércio de carne farinha, cereais, verduras, frutas e afins. Foi também o principal ponto da grande feira de gado que acontecia aos sábados e às segundas-feiras, reunindo os caboclos do sertão que negociavam produtos nordestinos.

Uma construção que impressionava pelo estilo do telhado e pelas fachadas envolvidas em arcos, sustentadas por colunas que ligavam os boxes; também chamava atenção pela imponência numa área que ainda não contava com obras grandiosas em tamanho e/ou importância. Esse modelo de mercado municipal não é exclusividade de Feira. Municípios como Lençóis, Barra, Rio de Contas e São Félix possuem construções que apresentam similaridades com o nosso mercado. Na é movido por uma cena ainda hoje comum na caatinga: os couros de boi espichados sobre varas e deixados à mercê do tempo. Dessa maneira, o trabalho referido coloca em foco certas questões da arte contemporânea, optando por uma mudança radical no que diz respeito ao processo de veiculação das obras: elas não seriam mostradas em museus ou galerias de arte, mas no próprio espaço do sertão.

Mercado Municipal hoje Mercado de Arte Popular

Chegou a hora de atravessar a Avenida Getúlio Vargas. Movimento intenso, comum ao comércio numa segunda-feira; mesmo assim, precisamos desvendar aquele prédio de esquina com a Sales Barbosa: o Mercado de Arte Popular. Engana- se quem pensa que ao visitar as suas origens encontraremos apenas artesanatos. Neste Mercado tinha de tudo; era uma síntese da feira livre, ou, melhor, representava a necessidade de um espaço de entreposto para as atividades comerciais de uma feira que, de tão livre, ultrapassou os limites geográficos propostos inicialmente pelo poder público. Passear pelos caminhos da história desse Mercado constitui uma via necessária para nossa narrativa. Por isso, voltemos a um tempo em que era a Câmara Municipal a protagonista nas decisões em torno das obras públicas e a prefeitura chamava-se Intendência.

Em 1901, foi aprovada pelos vereadores uma lei que tratava da construção do Mercado. O município não tinha o dinheiro e precisou de 100 contos de réis emprestados para que, só a partir de 1906, fosse iniciada a obra de construção do mercado municipal. Concluído em 1914 e inaugurado em 1915, sob a gestão do intendente Bernardino Bahia, com uma arquitetura neoclássica, abrigou por décadas 

o comércio de carne, farinha, cereais, verduras, frutas e afins. Foi também o principal ponto da grande feira de gado que acontecia aos sábados e às segundas-feiras, reunindo os caboclos do sertão que negociavam produtos nordestinos.

Uma construção que impressionava pelo estilo do telhado e pelas fachadas envolvidas em arcos, sustentadas por colunas que ligavam os boxes; também chamava atenção pela imponência numa área que ainda não contava com obras grandiosas em tamanho e/ou importância. Esse modelo de mercado municipal não é exclusividade de Feira. Municípios como Lençóis, Barra, Rio de Contas e São Félix possuem construções que apresentam similaridades com o nosso mercado. Na segunda metade do século XX, a Princesa do Sertão crescia de tal forma, graças à urbanização, que o seu comércio não mais cabia nos sábados e nas segundas, muito menos numa estrutura física em deterioração.








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