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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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segunda-feira, 29 de junho de 2020

HISTÓRIA DA MICARETA DE FEIRA DE SANTANA


ADILSON SIMAS - Jornalista, editor do Blog Por Simas, Santanopolitano


A primeira festa momesca em Feira com o nome Micareta foi aberta no sábado, 27 de março de 1937, com o mesmo ritual dos tempos atuais: coroação das majestades e entrega das “chaves” da cidade ao Rei Momo. Era prefeito, Heráclito Dias de Carvalho.
Nos clubes, principalmente ‘25 de Março’ e ‘Victória’, na famosa ‘Rua Direita’, hoje Conselheiro Franco, foram realizados bailes a fantasia reunindo a sociedade local, da região e até gente da ‘Bahia’ (alusão aos moradores da capital).

Nas ruas, em especial também na ‘Rua Direita’, que foi o primeiro ‘quartel general’ da folia, blocos, cordões, mascarados e batucadas (‘As Melindrosas’, ‘Flor do Carnaval’, ‘Amantes do Sol’, etc) se encarregaram de encher de brilho o que hoje se denomina ‘sitio da festa’.

Ao longo do tempo, a micareta deixou de acontecer em razão da Segunda Guerra Mundial, e em 1964 por conta do ‘Golpe Março’. Mas em 1945 só não houve folia de rua, pois a ‘25 de Março’ publicou edital anunciando a realização de quatro grandes bailes.

Concebida por personalidades notáveis da cidade, como Antonio Garcia, João Bojô, Mestre Narcisio, Maneca Ferreira, Manuel de Emilia, Álvaro Moura, Arlindo Ferreira e seguidores como Oscar Marques, Gilberto Costa, Carlos Marques, Ildes Meireles, Joselito Julião Dias, Osvaldo Franco e tantos outros escolhidos para presidi-la, a maior micareta do Brasil, cresceu e avançou.

No começo dos anos 70, na gestão do prefeito Newton Falcão, a prefeitura criou uma diretoria especial e assumiu totalmente a festa em 1971, “aposentando” as tradicionais comissões organizadoras, que com o famoso “livro de ouro” visitavam pessoas e empresas buscando os recursos que bancavam a folia.

Ainda naquela década o prefeito José Falcão criou a Secretaria de Turismo para cuidar de toda a programação. Na sequência, em 1975, instituiu concurso para a escolha do Rei Momo, não mais trazendo ‘Ferreirinha’, o Rei Momo do carnaval de Salvador. Já o prefeito Colbert Martins criou os primeiros camarotes e arquibancadas.

A micareta soube acompanhar os avanços da cidade. Os bailes à fantasia trocaram os salões da ’25 de Março’ e ‘Victória’, pelos amplos e modernos da Euterpe Feirense, Feira Tênis Clube, Clube de Campo Cajueiro e outros menores como Clube dos Comerciários, Ali Babá, Clube dos Sargentos e Clube dos Trabalhadores. Ressalte-se que Tênis e Cajueiro, criaram os bailes pré-micaretescos, ‘Uma Noite no Hawaí’ e ‘Caju de Ouro’, respectivamente.

Os desfiles e a animação popular, no começo na ‘Rua Direita’ (desde a Conselheiro Franco até a Tertuliano Carneiro), chegaram às praças da Bandeira e João Pedreira, se expandiram pela avenida Senhor dos Passos e quando davam sinais que ocupariam toda a extensão da longa avenida Getúlio Vargas, foram transferidos em 2000, na última micareta do milênio, para a avenida Presidente Dutra, na administração do prefeito Clailton Mascarenhas, que promoveu as primeiras melhorias.

Eunice Boaventura foi a primeira rainha da Micareta de Feira

O espetáculo do préstito momesco com ricos carros alegóricos (os últimos nasceram da imaginação do artista Charles Albert), conduzindo rainha e princesas arrancando aplausos – entre elas e em tempos diferentes, Eunice Boaventura, Doralise Bastos, Helenita Tavares, Sonia Cerqueira, Alda Lima Coelho, Maria Angélica Caribé, Ana Maria Nascimento e Sônia Menezes – cederam lugar aos carros sonoros conduzindo moças e rapazes com coloridas mortalhas do ‘Bloco do Caju’, ‘Fetecê’, ‘Mendonça’ e outros.

Os blocos e batucadas, das primeiras folias, foram ganhando sucedâneos, de diversas origens, como o  ‘Pinta Lá’, dos servidores públicos municipais; os trio-elétricos, como o pioneiro ‘Patury’ de Péricles Soledade, nos anos 50, deram lugar a máquinas potentes como a da banda ‘Chiclete com Banana’; as marchinhas de compositores da cidade (Carlos Marques, Juca Oliveira, Estevam Moura, Gastão Guimarães, Eliziário Santana, Adalardo Barreto, Arlindo Pitombo, Aloísio Resende, Dival Pitombo, Alpiniano Reis, Honorato Bonfim e outros), saíram de cena dando espaço a letras interpretadas por ‘furacões’ como Ivete Sangalo.

As escolas de samba e os cordões de antigas micaretas abriram alas para ‘Malandros do Morro’, ‘Unidos de Padre Ovídio’, ‘Império Feirense’, ‘Os Formidáveis’ e ‘Marquês do Sapucaí’, que à exemplo das antecessoras entregavam a autoria dos seus enredos à nova geração de compositores da terra, entre eles Carlos Piter, Vadu, Roberto Pitombo, Edson Bonfim, geralmente pregando o grito de liberdade, ou exaltando o mundo do candomblé.

Eventos que anunciavam mais uma festa de momo, como ‘Grito de Micareta nos Bairros’ com os cantores locais interpretando antigas e novas marchas e ranchos e o ‘Baile dos Artistas’, este surgido no final dos anos 60, reunindo os meios artístico-culturais e convidados ilustres, as vezes com transmissões ao vivo, foram substituídos por ‘levadas’ e ‘feijoadas’, da mesma forma reunindo foliões e artistas, dias antes da abertura da festa.

Por fim, no lugar dos antigos serviços fixos de som, narrando a folia registrada nas ruas – “SPR Constelação, a voz do sertão, falando diretamente da marquise da Loja Pires para onde abrange toda a sua rede sonora” -, as numerosas equipes das emissoras de rádio e televisão transmitindo em tempo real, para a Bahia, o Brasil e o Mundo, os lances de uma micareta que preserva do passado a grande animação dos foliões.

* Adilson Simas é jornalista.

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