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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

FEIRA DE SANTANA NOS SÉCULOS XIX E XX

Os três modelos de residências antigas:
da esquerda para a direita, casas com eira,
sobrado e 2 casas de beira.
Iluminação a lampião.
Como o PROSEDE (Movimento em PROL da construção da SEDE do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana) deseja e vai contribuir para conservar a memória dc Feira de Santana, aceitei colaborar com as minhas lembranças, os livros antigos, com as coisas mais simples dos idos que servirão para os nossos descendentes conhecerem um pouco dos nossos costumes em épocas do pretérito. Para tomar a leitura menos cansativa, dividirei em assuntos, haja vista a diversidade de interesse, inclusive entre homens e mulheres.
Assim a lembrança primeira que me acudiu à mente foi sobre as residências do fim de um século XIX, e início do XX, que se dividiam entre sobrados, casas com sótãos, casas de “cachorros” ou de “eira” e casas de “beira”.
Os sobrados eram de famílias tradicionais, as casas com sótãos eram da elite, as casas com eira da classe média, e as casas de beira da classe mais pobre. Uma explicação: Casas de “cachorro” ou de eira eram aquelas que tinham um ripão com a ponta entalhada ( e o entalhe parecia a cara de um cachorro) no lugar do caibro que vinha até a parede. Nas casas mais humildes os caibros ficavam à mostra. Dai o velho provérbio: “Fulano não tem nem eira nem beira”. Nos sobrados e nas residências com sótão, tinha ainda os porões que serviam de moradia para os escravos. Em todas as residências mais sofisticadas, havia uma fechadura e por trás uma “tranca” e nas demais usavam uma taramela com um cordão para o lado de fora ou uma portinhola para facilitar a entrada de amigos e parentes que não precisavam ser convidados a entrar.
Ainda sobre as residências, os donos gostavam de criar animais e aves das mais diversas espécies, com destaque para papagaio, gato, cachorro e galinhas e que era quase comum em todas as casas; ainda criavam-se macacos, araras, cágado (jaboti) e outros. Destes, 3 tinham um nome comum em quase todas as casas: Cachorro (chulinho), gato (pixane) e papagaio (meu louro). Os pássaros em gaiolas bonitas era o criatório mais comum em todas as residências, sendo que um tipo especial dc canário e de galo, também eram criados para brigarem sob apostas.
E os das casas! Como se vestiam? Interessantes e bem diferentes eram os tecidos e as vestes da época. A tradição de se vestirem com terno e gravata (colete ou não), calçado engraxado, vem  dos mais abastados desde remotas épocas.
Para os homens os tecidos mais comuns e conhecidos eram os brins brancos, mescla e cáqui, carrapicho, linhos em cores e branco SS 120, casimiras, flanela, gabardine, estes para calça, colete e paletó; e para camisa, algodãozinho, opaline, tricolina, seda e cambraia de linho. A moda masculina embora conservando as  ocasiões, só mudaram os jaquetões, colete, ombreiras e modas de calças boca de de sino, enfim, poucas alterações.
Somente com a chegada das calças vaqueiras dos EUA, “jeans”, famosas pela sua rusticidade, aqui por ser produzidas pela Fábrica Coringa, ficou conhecida pelo nome da fábrica, ou seja, CALÇAS CORINGA. Posteriormente o nome “jeans”, se firmou. Esse tipo de roupa trouxe uma mudança quase total nas vestes masculinas.
Quanto aos calçados, os borzeguins (rangedor ou não) foram os primeiros nos pés dos homens
civilizados, seguidos pelas botas e sapatos, estes últimos para os dois sexos.
Dos tecidos para as mulheres havia madrasto (ou morim), cretone, organdi, cetins e cetinetas,
zefir, merinó, chitas, talagarça, popelina, cassa bordada, entre outras. Mas havia também os complenentos, como o indispensável xale, principalmente para cobrir a cabeça à entrada das igrejas, como indispenveis eram as luvas e o chapéu femininos para as cerimônias. Mas a moda mesmo, prossegue na mudança contínua, embora as mulheres já estejam aderindo totalmente ao ‘jeans”.
Mas não podemos esquecer-nos daquelas modas de s
aias plissadas, volante, volante duplo, tubinho, bolero, saia de nesga, de babado, corpo inteiro com saia franzida e (a caminho das mini saias) as revolucionárias saias justas.
Agora minha memória levou-me para o seu espaço onde guardou um monte de palavras usadas há mais de um século... Vamos ver: “VELHACO”, hoje caloteiro. “CHISPOU” saiu rápido, correndo. “MINCHO”, pequeno, sem valor, mixo, mixuruca. “RETADO”já foi palavra imoral. Hoje tem vários significados, virou gíria. “AMIGO URSO”, que traía a amizade. “ESCROTO” era pessoa sem escrúpulo. “FULEIRO” um ninguém, atoa. “LANÇANDO” era nome que se dava a quem estava vomitando. “ABERTEIRO” e “MARRETEIRO” eram os nomes que chamamos hoje o vigarista, ou trapaceiro. “PARICEIRO (a)” era como se dizia de duas pessoas de classe inferior. “ARENGUEIRO (a)” era quem não guardava o segredo ou o denunciava. “MOGANGA” estar escondendo-se para não trabalhar. “AMIGO DO ALHEIO” e “GATUNO” era qualquer tipo dc ladrão.
Por falar em ladrão, lembrei-me que antigamente não tínhamos, aqui em Feira, as atuais algemas. Tanto que quando um ladrão era preso, a polícia tirava-lhe o cinto e suspensóriø
e o colocava na frente segurando as calças, o que não lhe permitia correr. Já imaginaram, se fosse hoje, observar grandes ladrões que foram presos ultimamente, segurando as calças?
“PATAQUADA” tentando tirar a atenção de outrem com danças, caretas, gestos engraçados. “LENGA-LENGA” conversa inútil comprida demais. “NECAS DE PITIBIRIBA” não ter nada de valor. “ESPARRAMADO”, dormindo de qualquer jeito. “BUCHO, BOFE e OSSO” era como se chamava a mulher muito feia (os homossexuais se apoderaram da palavra bofe). “LOROTA”, era mentira com humor. “VEADO, BICHA, BAITOLA, FRANGO, FRESCO E FRUTA” eram nomes que usavam para designar o homossexuaL

A palavra “MUF1NO” era o nome que se dava ao covarde que fugia de uma briga de meninos. “MACUMUNHADOS”, parceiros em tramóias. “SOU ESPETO”, pessoa que se vangloriava da sua bravata. “CANALHA” era pessoa sem moral, o mesmo que “SAFADO”, “CAPADÓCIO”, igual a vagabundo. “CAPITÃO DE AREIA”, menino de rua. “CARÃO E ESBREGUE” era o mesmo que repreensão. “XAVECO” era enrolação, malandragem. “ESTRAMBÓLICO ou ESCALAFOBÉTICO” significava coisa estranha, desconhecida, sem sentido. 
“REBARBADO” (LINGUAGEM MARINHEIRA) revoltado, bruto (pavio curto). “LAMBANÇA” era briga de palavras, confusão; lambanceiro. “RELAXADA” era a pessoa que não se cuidava. “ARRAIA” não é era só peixe, era o que hoje se chama de pipa.
Por falar em peixe, quando se via uma moça muito bonita, dizia-se : que PEIXÃO! Hoje se diz AVIÃO. “URUPEMBA” era como se chamava peneira. “CHARLAR” era contar falsas façanhas. “CARTEIRO” era como se chamava o “ESTAFETA” dos Correios. “BALZAQUIANAS” mulher depois dos 35 anos. “CARITÓ OU BARRICÃO” era mulher que não havia se casado e
já estava nos 40 anos. “ALCOVITEIRA”, quem dava guarida a um casal que namorava escondido. “COCADA”, quem levava recados entre namorados. “BAGA” era o resto, a parte já fumada do cigarro. “FECHARA MATRACA”, mandar que parasse de falar. “MÔCO”, surdo. “LEVOU ABRECA”, sumiu, desapareceu. “MEXERICO” ou “FUXICO” significavam intriga, fofoca. “LAVEI A JEGA” É como se dizia do que fez bastante e gostou: almoçou bem, dançou muito.. .Agora mesmo vou dizer; “LAVEI A JEGA...”. Revirei meu baú do passado e lembrei dos velhos tempos... “Iiiiiiiiiiiiii FIAU” (isto não foram aplausos pelo meu trabalho; o pessoal do meu tempo sabe que foi uma vaia à antiga).
Não foram só as coisas corriqueiras que guardei nesses quase 90 anos de vida. Na época havia uma tradição de amizade, carinho, consideração, mesmo nas últimas ho
ras de um morador. Por exemplo: os sepultamentos em Feira de Santana, a partir de 1915, embora o cemitério tenha sido construído em 1855; vez que o nosso propósito é falar dos sepultamentos após a construção das torres da Igreja Matriz, onde foram assentados vários sinos, inclusive um relógio de grande tamanho e que, além das horas marcadas pelos ponteiros, batia de meia e meia hora, cujas batidas eram ouvidas até a praça do comércio no silêncio da noite.
Os outros sinos, com s
ons diferentes, faziam chamadas para missas e tinha “dobres” diferentes para anunciar o falecimento de uma pessoa, jovem, adulto e criança com batidas especiais e conhecidas por todos os moradores. Quando se “FINAVA” alguém, (era a palavra usada para faleceu) todos tomavam conhecimento e a notícia boca a boca completava o noticiário com identidade, hora do sepultamento e tudo mais. Os sinos eram uma espécie de veículo de comunicação auditiva.
Quando havia velório, todos sabiam pela hora do falecimento e, automaticamente, a hora do sepultamento (24 horas depois).

Na hora aprazada o cortejo saí
a com um sacristão carregando uma imagem de Jesus Crucificado, seguido pelo padre, depois o “urneiro” (aquele que carregava uma urna na cabeça e a depositava no chão a cada 50 metros para troca das pessoas que carregavam o caixão) depois o povo.
Um
costume que bem traduzia o espírito de solidariedade, entrosamento social e respeito mútuo, era a grande presença de pessoas em velórios, nos sepultamentos e, principalmente, o reconhecimento do povo aos seus benfeitores, como aconteceu no sepultamento de Dr. Gastão Guimarães, entre outros. Nessas ocasiões as Órfàs do Asilo N. S. de Lourdes, alunos da Escola Normal, do Ginásio Santanópolís, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, e outras irmandades religiosas, acompanhavam em filas ao lado do povo, enquanto as filarmônicas se posicionavam atrás do caixão e se revezavam tocando marchas fúnebres.
Nobre Cidade sempre foi Feira de Santana: acolhedora, amiga e solidária com todos que aqui mourejam. Que revivamos o passado, para um feliz futuro, terra querida!!
 

Foto de um cortejo para sepultamento
a caminho do Cemitério Piedade
ANTONIO MOREIRA FERREIRA (ANTONIO DO LAJEDINHO)
Ex-Combatente da 2ª Guerra Mundial,
Presidente da Associação dos Ex-Combatentes,
Membro da Academia Feirense de Letras.
 2° Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico
de Feira de Santana,  escritor;
 poeta, jornalista, nascido em Feira de Santana, em 1925. 














Transcrito da revista "História e Estórias dos Séculos XIX e XX (Escritas a cinquenta mãos).
Edição Especial do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana - 2015 p. 28, 29, 30 e 31

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