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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 20 de junho de 2013

SARAMANDAIA E A MAGIA DE DIAS GOMES

Evandro José Sampaio de Oliveira


O lançamento da tele-novela "Saramandaia",  uma alvissareiro remak,  nos faz  reviver a história da criação desta bela novela. Os mais jovens não viveram a época e, portanto se já era difícil entender o recado de Dias Gomes, realismo fantástico, cheio de metáforas, quanto mais atualmente em que a situação é diferente. Mas vamos à história da antiga versão.
Dias Gomes tinha criado uma novela chamada “Roque Santeiro”, no dia da estréia a censura do Governo Militar impediu que fosse ao ar o primeiro capítulo. A emissora colou no lugar desenhos animados e filmes, todos nós ficamos estupefatos com a mudança da programação. Aos poucos ficamos sabendo a razão da intervenção. Por causa, principalmente, de dois dos personagens: O herói, não era herói, era um fujão. Isto foi entendido pelas Forças Armadas como intenção de ridicularizar o Exercito Brasileiro, o outro personagem era Zé das Medalhas que comercializava santinhos e a Igreja Católica achou ser uma denúncia à “mercantilização da religião”. Isto correu a boca pequena, nunca saberemos se realmente esta era a versão verdadeira.
O que sabemos era que Dias Gomes um homem de esquerda, era filiado ao Partido Comunista, sempre censurado em suas peças de teatro sua grande vida criativa, era observado por todos os governos ditatoriais como autor “perigoso” e dezenas de vezes censurado, desde o Estado Novo, em 1941 tentou encenar uma Peça ante-nazista, não achou quem quisesse encená-la. Mostrando a Procópio Ferreira ícone do teatro na época, este achou o texto muito bom, todavia também achou arriscado o assunto para a época. Procópio, no entanto pediu uma comédia por ser mais leve. Dias Gomes tinha uma, “Pé de Cabra”, Procópio ficou entusiasmado e resolveu encená-la. “Pé de Cabra” foi proibida no dia da estréia.
Depois da retirada da grade da Rede Globo a novela “Roque Santeiro”, só viria a ser televisada anos depois, com a democracia restabelecida, Dias Gomes resolveu fazer uma novela com mensagens metafóricas, enganando a censura, foi quando fez ‘SARAMANDAIA”.
Saramandaia se passa na fictícia cidade de Bole-Bole, no recôncavo baiano, na zona canavieira, tem uns personagens muito estranhos e são estes que transmitem as idéias “subversivas” do autor. Vamos analisar algumas delas:
Zico Rosado – é usineiro e bota formiga pelo nariz. Está morto em suas idéias arcaicas. As usinas de açúcar estavam em processo falimentar e viviam ao pé do Governo Federal, adiando o pagamento de dívidas e recorrendo à anistia de débitos. Existia uma frase que dizia – quem tem idéias conservadoras, já morreu e não sabe, só falta enterrar;
Dona Redonda – uma gorda imensa praticava o pecado da gula. Simbolicamente representava o capitalista, nunca saciado. Ela termina explodindo;
Professor Aristóbolo – vampiro, sugador do sangue do povo. Interessante, tempos depois a corrupção na saúde apelidou os corruptos de vampiros;
Tinha também um personagem que botava o coração pela boca, significava o tempo de repressão que a qualquer hora poderia ser preso sem julgamento.
Por fim temos João Gibão, com uma corcunda cada vez maior, e no final, na corcunda sai asas e ele acossado pelos repressores sai voando, obviamente simbolizava o ganho da liberdade.
Há outros personagens deste realismo fantástico, que também transmitem mensagens políticos ideológicos.
Em tempo, naquela época meus amigos da esquerda, os mais antenados, se ufanavam de ter Dias Gomes enganado os censores. Na minha ótica não houve engano, simplesmente os censores viram que as mensagens não seriam absorvidas pela massa da TV aberta. Acho que eu tinha razão. Mesmo porque um escritor do talento de Dias Gomes e, um veículo tão popular como a televisão, seria observado com muito mais cuidado do que outro qualquer.

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