Diálogo do poeta feirense Eurico Alves com Manuel Bandeira.
Poema convite: "Elegia a Manuel Bandeira"
Poema resposta: "Escusa"
Publicados no site da jornadaonline http://jornadaonline.blogspot.com/2010/01/eurico-alves-manuel-bandeira.html
ELEGIA PARA MANUEL BANDEIRA
Eurico Alves
Estou tão longe da terra e tão perto do céu,
quando venho subir esta serra tão alta...
Serra de José das Itapororocas,
afogada no céu, quando a noite se despe
e crucificada no sol se o dia gargalha.
Estou no recanto da terra onde as mãos de mil virgens
tecem o céu de corolas para meu acalanto.
Perdi completamente a melancolia da cidade
e não tenho tristeza nos olhos
e espalho vibrações da minha força na paisagem.
Os bois escavam o chão para sentir o aroma da terra, e é como se arranhassem um seio verde, moreno.
Manuel Bandeira, a subida da serra é um plágio da vida.
Poeta, me dê esta mão tão magra acostumada a bater nas teclas da desumanizada máquina fria
e venha ver a vida da paisagem
onde o sol faz cócegas nos pulmões que passam
e enche a alma de gritos da madrugada.
Não desprezo os montes escalvados
tal o meu romântico homônimo de Guerra Junqueiro.
Bebo leite aromático do candeial em flor
e sorvo a volúpia da manhã na cavalgada.
Visto os couros do vaqueiro
e na corrida do cavalo sinto o chão pequeno para a galopada.
E S C U S A
Manuel Bandeira
Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant’Ana.
Sou poeta da cidade,
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant’Ana.
Sou poeta da cidade,
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e
aprenderam a respirar o gás carbônico das salas de cinema.
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.
Há anos que não vejo romper o sol,
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.
Há anos que não vejo romper o sol,
que não lavo os olhos nas cores das madrugadas
Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.
Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.
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