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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

A HISTÓRIA É CONSTITUÍDA DE FATOS, MITOS E LENDAS...

EDUARDO KRUSCHEWSKY
 

A observação nos ensina ser a História constituída de acontecimentos reais recheados de suposições, informações contraditórias e coisas do tipo “por ouvir contar”. Isto porque, a depender do autor, um fato, em suas minudências, sofre uma série de alterações. Muita coisa se perde e outras são adulteradas por falta de informação e registro. Saliente-se que não existiam em determinados períodos históricos a fotografia, os recursos de tecnologias, ou mesmo alguém que deixasse registrado em escrita o fato, passando este a ser contado de acordo com diversos pontos de vista. Antes de polemizar, precisamos esclarecer algumas coisas, pois os anos de vida e o mergulho em pesquisas já nos fizeram ver que, como diziam os mais antigos, “quem conta um conto, aumenta um ponto...” Assim, trazendo o assunto para o meio em que vivemos, apontamos alguns pontos polêmicos na História de Feira de Santana:

DATA COMEMORATIVA – DIA DA VILA OU DIA DA CIDADE? - Na sexta-feira, dia 18 de setembro de 2020, Feira de Santana completou 187 anos de emancipação. Aqui já encontramos um ponto de desencontro de opiniões do povo feirense:

Hoje em dia, considera-se o Decreto Imperial que torna Vila o arruado de Sant‘Anna da Feira. O local prosperava dentro da Fazenda de Santana dos Olhos D´Água e, em 1829, os moradores fizeram o pedido de elevação a Vila, desmembrando-se de Cachoeira. Este pedido foi encaminhado, em 13 de julho do mesmo ano, para o General José Egídio Gordilho de Barbuda, Presidente da Província da Bahia, para emissão de seu parecer.

O documento foi devolvido para o imperador D. Pedro I que, anos depois, em 13 de novembro de 1832, atendeu o pleito. Naquela época, as coisas aconteciam muito vagarosamente e mais um tempo decorreu: só dez meses depois, em 18 de setembro de 1833, é que, oficialmente, o Decreto foi cumprido. Mas, outros consideram que a data de comemoração do aniversário da cidade é 16 de junho, dia em que, através do Decreto Lei 1320, no ano de 1873, a vila tornou-se cidade com o nome de “Cidade Comercial de Feira de Santana”! Aí, fica a pergunta: Qual é data a ser seguida para comemoração?

A - O Decreto Imperial de 13 de novembro de 1832?

B - O cumprimento deste Decreto em 18 de setembro de 1833?

C - O Decreto Provincial de 16 de junho de 1873?

Sem querelas, perguntamos: Deve ser comemorado o Dia da Vila ou o Dia da Cidade? Geralmente, as cidades consideram o Dia da Cidade, data em que a Vila é elevada... Sabemos que Feira  já celebrou o aniversário em junho. No ano de 2000, atendendo pedido de alguns intelectuais, a Câmara Municipal, mudou, “romanticamente”, a data para setembro. Em nossa opinião, a data correta seria junho. Até porque não se tem uma data exata em que a primeira povoação surgiu...

QUEM FOI O FUNDADOR DE FEIRA DE SANTANA?  – Ao que  se sabe, Feira nasceu bem antes do que alguns dizem. No século XVII, havia uma grande preocupação do governo de Portugal: A Colônia do Brasil, depois de passar pelo insucesso das Capitanias Hereditárias e da distribuição de terras no Governo Geral do Brasil, por Tomé de Souza, em 1548, iniciou o século seguinte com muitas terras devolutas dentro de latifúndios como as Casas da Torre, pertencente a Garcia D´Ávila e a Casa de Pedra, da família de Caramuru. Estas terras precisavam ser colonizadas para gerar imposto para a Coroa. Assim, em 1615, a Região dos Tocós, onde nasceu Feira, foi repassada para gente como o Juiz da Câmara de Salvador, João Lobo de Mesquita, Miguel Ferreira Feio e outros. Feio aqui esteve e desistiu da doação, devolvendo seu quinhão à Coroa. Este lote, uma das possessões foi, então, entregue ao comerciante português João Peixoto Viegas, como prêmio por este ter se tornado “cristão novo” (judeu convertido ao cristianismo). Ao conhecer o local, o português resolveu se estabelecer aqui e foi nomeado pela Igreja como “Familiar” (uma espécie de representante da Santa Inquisição) para a região. Posteriormente, o novo morador, após instalado na região de São José das Itapororocas, tratou de adquirir mais terras e comprou as que foram doadas ao Juiz João Lobo. Em breve, a sede do latifúndio   tornou-se  um ponto de pernoite de tropeiros e vaqueiros e, em pouco tempo, formou-se um arruado.

O proprietário foi conquistando novas terras e formou o “Morgado de São José das Itapororocas”. Com o falecimento do patriarca, a viúva voltou para Salvador deixando o patrimônio em poder dos filhos que o redistribuíram entre si, dando fim ao Morgado. A grande extensão de terras foi parcelada em diversas fazendas menores.

No que se refere à chegada de Veigas na região de Tocós, há uma versão publicada na Wikipédia, que afirma ter João Peixoto aqui desembarcado em 1640. Parece-nos uma afirmativa sem embasamento. O historiador Mons. Renato Andrade Galvão em seu trabalho “Os Povoadores da Região de Feira de Santana” cita uma Carta de concessão de quatro léguas em quadra na serra chamada Itapororocas no campo de Caxoeira” (sic) em favor de Miguel Ferreira Feio, em 1615, e outra, 1619, concessão em favor de João Peixoto Viegas. Esta versão de que Viegas aqui chegou em 1640 pode ser desmentida pelo fato de que Viegas solicitou e conseguiu uma documentação renovada, em 1655, alegando extravio durante a Invasão Holandesa que ocorreu a partir de 1624, na Bahia. Convenhamos que os holandeses permaneceram na Bahia no período de maio de 1624 a maio de 1625...

Já no século XVIII, cerca de sessenta anos depois da divisão de terras entre os herdeiros, atraído por informações de terras férteis e baratas na Região dos Tocós, um comerciante de Cachoeira, chamado Domingos Barbosa de Araújo veio conhecer a região e adquiriu uma área de terras de João Peixoto Viegas Neto. Aqui instalou a “Fazenda Santana dos Olhos D´Água”, onde passou a morar. Com a fartura de água, o imóvel, localizado no cruzamento de estradas de boiada, virou pouso de viajantes, sendo feitos grandes currais para abrigar o gado que ali pernoitava. Sem filhos, o casal foi permitindo que algumas pessoas ali ficassem morando e comércios foram sendo abertos, criando-se uma grande feira que, naquela época, primeiras décadas de 1700, chegou a ter a frequência de cerca de 4.000 pessoas! Muito católicos, Domingos e Ana, no ano de 1732, doaram, na forma de usufruto, parte das terras (cem braças) para a Capela de Sant´Ana e São Domingos e, em 1735, o restante da fazenda, formando-se o “Encapelado de Sant´Ana dos Olhos D´Água”. O falecimento do casal causou uma grande polêmica já que a doação foi apenas apalavrada e quando os religiosos quiseram tomar posse do patrimônio, cumprido o usufruto, foram impedidos pelo Estado. A querela durou um século e somente, em 1848, por sentença judicial, é que tudo passou para a propriedade da União. Novas perguntas: Quem foi o fundador de Feira de Santana? Viegas, que fez surgir a Vila de São José, primeiro sinal de vida do Munícipio de Feira de Santana? Ou Domingos Barbosa de Araújo que cerca de um século depois adquiriu uma fazenda oriunda do Morgado de São José, surgindo a sede do município? Ou podemos dizer que João Peixoto é o precursor do Município e Domingos Barbosa o da Cidade?

O CASARÃO DOS OLHOS D´ÁGUA FOI MORADA DE DOMINGOS E ANA?

Agora, com a instalação da Casa da Cultura no Casarão, acende- se, mais uma vez, uma antiga polêmica. Alguns afirmam, “de mãos juntas” que o imóvel era de propriedade do casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa (Brandão). Mas, existem aqueles, como eu, que discordam. Em 2006, através do Fazcultura, o casarão foi reformado pela Prefeitura Municipal, a pedido da Fundação da família Pedra e recentemente, quando de uma segunda  reforma, novamente pelo Munícipio, foi assinado um Contrato de Comodato pelo prazo de 20 anos. Segundo historiadores, a sede da Fazenda Santana dos Olhos D´Água ficava nas proximidades do Polo Comercial conhecido como Feiraguai e a Capela de Sant´Ana e São Domingos, construída pelo casal, deu origem à atual Igreja Matriz da cidade. Além do mais, próximo da Capela, existia uma casa (Rua Araujo Pinho) que alguns, como o jornalista Hélder Alencar em seu Guia Turístico, de 1965, asseguram ter sido a moradia do casal... Como uma área de terras, objeto de uma querela Estado-Clero e que, cerca de um século depois da morte de seus proprietários, passou para o domínio da União (em 1848), poderia pertencer a esta família? Não seria estranho este imóvel ter ficado em mãos de particulares até o século XXI? Sobre o assunto, recomendamos a leitura do artigo “O Casarão dos Olhos D´Água”, do arqueólogo Vitor Batista dos Santos. O casarão, abandonado, estaria ainda em pé? Não há dúvidas de que o imóvel é uma testemunha de uma época, sem perder seu valor histórico... Convenhamos que a cidade cresceu tanto que algumas áreas rurais se tornaram urbanas, caso da fazenda que pertencia à família Pedra e propriedades outras, como a Mochila. Portanto, diríamos que o Casarão dos Olhos D´Água, sem ter pertencido a Domingos e Ana, é uma parte da Memória Feirense...

Um comentário:

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