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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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sábado, 20 de março de 2021

NO DIA QUE TONTON DECIDIU UMA ELEIÇÃO NA CÂMARA

Washington Cerqueira Carneiro
Tonton
   Da série “Martiniano e filhos” (marcador ao lado). Postei histórias de Martiniano, de Etinho (Welington) e Wilson (Issinho). Continuando por faixa etária, hoje postarei sobre “TONTON DA FEIRA”, como ele gostava de ser chamado.

         Washington Cerqueira Carneiro, era uma pessoa que quando era seu amigo, você era premiado, não tinha limite para contar com ele. A primeira vez que precisei de sua amizade, foi quando estava sendo chantageado por um marginal que morava no beco do Mocó. Tinha 12 para treze anos e Pepino uns 17, forte, andava tomando as coisas, na tora: gude, figurinhas, brinquedos... nada caro, depois entendi, que se tomasse uma bicicleta, por exemplo, tínhamos que contar a nossos pais e ia da merda para o meliante. Um dia Tonton, me viu de cabeça baixa chateado por ter sido surrupiado de um pião novinho colorido que eu adorava, por Pepino. Tonton foi na tipografia, apanhou um porrete e descemos o Beco do Mocó. Apanhei uma pedra no chão e encontramos Pepino com os amigos, jogando pião, o meu, fomos chegando, Tonton sem dizer nada deu uma paulada em Pepino, olhei com a pedra para os outros, mas estes também eram espoliados por Pepino, este com o braço que tomou a pancada, vociferou ameaças, mas não reagiu. Apanhamos o pião e fomos embora. Nunca mais Pepino me extorquiu. Já adulto foi preso e depois foi morto pela polícia.

         Mas Tonton era um capeta, fazia coisas terríveis, como entrar com uma lambreta no rinque de dança do Feira Tênis Clube, todo mundo dançando, foi um horror. Expulso do FTC, por consequência foi passar uma temporada na casa do avô no Cruzeiro, até D. Semi controlar Martiniano que não era de suavizar.

         Contar todas molequeiras de Tonton, só em livro, com algumas impublicáveis, e tinha uma característica, quase não bebia.

         Mas vamos a uma inacreditável, quando Tonton junto com João Macedo decidiram uma votação na Câmara de vereadores.  

Antônio Leopoldo Cabral

A Câmara era composta de onze vereadores, cinco do PSD e cinco da UDN e um do PDC, Antônio Leopoldo Cabral.Cabral, teve ofício de barbeiro, sapateiro. Foi jornalista, dentista prático e rábula inclusive defendendo muitas causas em Feira de Santana. Era um orador eloquente. Nos comícios, o povo vibrava para ouvir seus repentes. Conta-se que era muito amigo de Joel Presídio e o acompanhou certa feita, nos comícios em uma cidade do sertão baiano, chamado Lajedo. No discurso esqueceu o nome da cidade e chamou a cidade de Alexandria. Alguém ao seu lado, soprou no seu ouvido, não é Alexandria não “Sêo”Cabral. Ele prontamente arrematou: “Se falo de Alexandria é porque esta cidade tem muito da Alexandria da Grécia, principalmente por ser uma cidade histórica”. E assim ele se saiu do equívoco[1].

    Mas falemos da votação na Câmara, era um projeto de muita importância para a UDN e o PSD era contra. A aprovação também era boa para Partido Democrata Cristão de Cabral. Mas este era muito amigo do Cel. Eduardo Froes da Motta, grande líder do PSD, inclusive se entendiam muito ideologicamente. Cabral era destituído de inimigos, e sendo tertius de uma questão importante politicamente, emudeceu durante um mês antecipadamente, sem poder fixar uma decisão, boatos corriam, ora ele ia ficar do lado do amigo Dr. Eduardo, ora iria votar dentro do que era bom para o PDC.

         No dia da votação, a Câmara estava lotada, era localizada no primeiro andar da Prefeitura Municipal. O presidente da Câmara era da UDN. A sessão começa obedecendo todo o ritual protocolar, depois discursos e mais discursos, a maioria sem sentido pois todos os presentes já conheciam o tal projeto detrásprafrente, não mudava muito sua posição partidária, como acontece em todas as votações políticas.

         Terminada todas as falas, apartes, réplicas e tréplicas, o nervosismo campeia no auditório. Então o presidente da casa, finalmente a favor do projeto, começou a votação dizendo¸quem é a favor do projeto mantenha-se sentado, quem for contra fique de pé (os especialistas de política dizem a opção de sentar é mais vantajoso). Aí os cinco do PSD levantaram e os quatro da UDN ficaram sentados, como se previa dependia do voto de Cabral, se ficasse sentado empatava a votação e aí cabia ao presidente que era da UDN, portanto a favor do projeto decidir. Então mais de uma centena de olhos miraram Cabral. Um silencio sepulcral, Cabral começou titubeantemente a levantar, aí uma voz forte lá do fundo do auditório gritou “SENTA CABRAL, era Tonton, Cabral tomando susto sentou rapidamente, o presidente com presteza deu por encerrada a votação com a vitória da UDN.



[1] “Inquilinos da cidadania” , Lélia Vitor Fernandes  de Oliveira, p. 53



 


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