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FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

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terça-feira, 27 de outubro de 2020

A HISTÓRIA SIMULTANEAMENTE DESDOBRADA, CÍCLICA E TRANCENDENTAL

RONALDO SENNA – Mestre, Doutor, Antropólogo, escritor, professor aposentado: Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Católica de Salvador (UCSAL).

 


Seria gratificante o acontecer,

Sentindo a delícia novamente,

Escoimado de todo o prazer

O que a ele nãoi faz referente.

 

Pensado nos atos e eventos

Selecionamos as alternativas,

Escolhendo, sempre, os ventos

Que nos levam a outrasd vidas.

 

Só que elas não são reais:

Apenas iludem os mortais

Fazendo o homem mais atávico.

 

Sabemos que transcender é bonito

Fértil, rico, completo, infinito

Mas reduz ao fantástico.

O SIDO E O SENDO

Como não podemos nos deslocar até o sido, torna-se necessário que o transforme­mos, existencialmente, em sendo, permitin­do que o humano (que é histórico) se reduza à natureza (que é cíclica). Como não pode­mos, concretamente, compor a nossa vida, aqui e agora, com muitas existências, estru­turamos a nossa existência em muitas vidas.

Os papéis e funções (vistas como o con­junto de papéis) com os quais balizamos o nosso estar no mundo, não bastam para satisfazer todos os componentes do nosso permanecer, não bastam para realizar todos os componentes do nosso projeto vital. A cultura (considerada como património sim­bólico) remete os seus referenciais por ou­tras esferas e outros planos, em reciclagens constantes, além de um necessário e eficaz exercício do imaginário.

E assim visitamos a nós mesmos em cada raio da roda viva que tornam mais abran­gentes as nossas convivências. Quebramos as fronteiras do espaço, anulamos as limita­ções do tempo e tornamos improcedentes os mapas das sociedades e das culturas. Sim, o contínuo espaço-tempo estrutura o substrato da dimensão da poesia.

Tanto o espaço que mal será preenchido, quanto o tempo que não poderá ser alcançado (religiosos, mágicos, ritos de espera e de passagem), tornam-se elementos dessa dimensão. Como exemplo: a saga da conquista do mar oceano (que significa sem fim, logo, não poderá ser dominado por inteiro) proporcionando ao genial poeta maior Fernando Pessoa, em seu poema intitulado Li-berdade, vaticinar que, "quando é melhor, quando há bruma, esperar por Dom Sebastião, quer venha ou não". Ou seja, não se espera alcançar, mas realizar-se no ato de esperar.

O nosso destino não será apenas devir. O ser, assim pensado, não se instalará apenas, em um projeto de vida, mas em diferentes seres historicamente multifacetados. Algo, porém, não se pode negar, por mais divididas que se encontrem as verdades, dúvidas ou certezas: o homem simboliza (a si mesmo, ao outro e ao mundo) gerando, elaborando e engendrando reduções, prismas e arestas que darão sentido ao seu espírito.

A continuidade sonhada, dentro da abrangência sentida, será sempre a construção possível, a crença que se faz realidade, a compreensão aproximada. Sim, o fato (captação feita através de ato ou evento) se manifesta como fenômeno e tende, muitas vezes, a se revelar como um dado por suposto.

Será sempre em uma sociedade mais homogénea, onde o sido e o sendo se interpenetram, com muita ênfase, que as noções do que passou, do que está e do que virá se manifestarão como componentes do único, absoluto, abrangente. A realidade não se dilui, o aqui e agora se projetam para e em todos os quadrantes do imaginário. Existe-se dentro de uma unidade.

O espaço sofre (na história, nas sociedades e nas culturas) diferentes e contínuas recriações, redimensionamentos e ressignificações. Assim, um determinado espaço pode ser mais denso ou mais elástico do que outro, a depender das necessidades criadas por determinadas circunstâncias e que pedem especificas soluções.

Espaço e tempo delimitam mitos, códigos, rituais e sentimentos. E um processo criador de paradigmas, que gera múltiplos resultados ao processo histórico vivido por diferentes sociedades. Enquanto, por exemplo", as sociedades saxônicas, nos seus contextos, separam, com mais nitidez os dois referenciais, a sociedade brasileira se sin-gulariza pelo fato de que muitos espaços e muitas temporalidades convivem simultaneamente" (DaMatta, 2000:32).

 


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